Entrevista
"Não vim para o CCB para ser
um presidente liquidatário"
Por Lucinda
Canelas e Vanessa Rato
António Lamas O novo presidente do Centro Cultural de Belém propõe-se
reinventar o eixo Belém-Ajuda resolvendo problemas de há 30 anos. Prioridades?
Aumentar as receitas do CCB para reconquistar autonomia e abrir os novos Coches
António
Lamas chegou há duas semanas à presidência do Centro Cultural de Belém (CCB)
com a missão de reinventar o eixo monumental Belém-Ajuda. Não teria, aliás,
aceitado a primeira sem a segunda.
Aos 68 anos,
Lamas, que é engenheiro, tem uma longa carreira no serviço público, tendo
presidido à Junta Autónoma das Estradas e ao Instituto Português do Património
Cultural (IPPC). Agora trocou a Parques de Sintra, que dirigia há oito anos e
com a qual lançou uma ambiciosa campanha de reabilitação dos monumentos desta
paisagem património mundial, por um gabinete virado para a Praça do Império. Presidir
ao CCB depois de em 1987 ter estado ligado à sua criação é "quase uma
coincidência astral", diz, e regressar a Belém, área "brilhante"
da cidade que conhece bem - nasceu na Rua da Junqueira -, é uma segunda
oportunidade.
Teria aceitado a
presidência do CCB, se não fosse a missão de conceber o novo eixo Belém-Ajuda?
Não, acho que
não. Ainda estou a começar a conhecer o CCB. Tenho a imagem de uma instituição
bastante solene. Nunca tive nada a ver com a programação, actividades, gestão,
mas tinha uma ideia de um CCB diferente. O que me aliciou e alicia é que, 20
anos depois [27 anos, mais exactamente], os problemas que detectei
originalmente na zona ainda estão por resolver. Portanto, não concebia
sentar-me aqui, apesar de a vista ser fantástica, se essa ideia não pudesse ser
posta de pé.
Qual é, então, o
modelo que propõe para este eixo?
As pessoas pensam
que tenho um plano, um modelo... A experiência da Parques Sintra - sempre o
disse - pode ser útil aqui. Em Belém há problemas de natureza urbanística,
coisas que ficaram por resolver do plano inicial. Vou citar duas: a linha de
caminho-de-ferro, terrível em termos de cidade; depois o próprio CCB, que nunca
acabou.
No programa
constava a ideia de um caminho que ligava os Jerónimos à Torre de Belém, com
ruas transversais dividindo esta cidadezinha em quarteirões. Sem que isso acabe
bem [com a construção do módulo em falta no CCB] o projecto fica muito
incompleto - porque as pessoas entram, vêem e voltam para trás, ou seja, o CCB
é um beco sem saída e não foi pensado assim.
Foi pensado para
ser atravessado?
Foi pensado para
constituir cidade, com esta ideia de um percurso até à Torre de Belém. Estão lá
os terrenos. É um convencimento político que é necessário fazer.
Mas há 20 anos
Portugal estava a viver um período de ascensão económica, neste momento vive o
oposto...
É verdade. E
havia uma capacidade muito grande de conciliar vontades, que hoje é das coisas
mais difíceis.
Passaram-se 27
anos. O plano inicial para a zona continua a ser exequível?
Na altura a
situação era diferente. O que acho que é importante para esta zona não é criar
mais empresas ou entidades de gestão - é conseguir que estas instituições se
articulem entre si, partilhem recursos, potenciem a capacidade turística da
zona.
Qual será o papel
do CCB nesse pólo?
Juntar estas
instituições a dialogar, a partilhar recursos e a terem um propósito conjunto
de potenciar os seus valores, o que também pode ser muito bom para o CCB, que
tem dificuldades de gestão e atracção de público. Por ser a mais nova das
instituições aqui, teria condições muito favoráveis para juntar as peças dispersas
numa zona que não evoluiu.
Seria uma espécie
de plataforma giratória?
Não. Pode ser a
entidade com dinâmica e capacidade de resolver alguns problemas. Mas nada se
conseguirá não havendo vontade de todas as instituições. O extremo seria pedir
um decreto-lei que entregasse a gestão de todas elas ao CCB, como na Parques de
Sintra.
Seria vantajoso?
Acho que não. Estas
instituições estão instaladas. Não tenho ainda um modelo. O que quero é tentar
encontrar as soluções para os problemas detectados.
Mas qual seria a
grande vantagem da gestão articulada? Pôr toda a gente a funcionar em conjunto?
Sim, e valorizar
esta zona. Depois, existe a questão da redistribuição e dos investimentos de
que a zona precisa. Daqui [do gabinete] vejo milhares de pessoas entrarem nos
Jerónimos e ali [no Museu Nacional de Arqueologia] ninguém. Há aqui uma
anomalia de aproveitamento dos valores da zona.
António Filipe
Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA)...
... a Zona de
Belém não chega às Janelas Verdes.
Está, então, de
acordo com ele, ao defender que o MNAA não deve fazer parte do seu programa?
A 100%. Aquilo
que defendi em Sintra e defendo aqui é que há perímetros de valores culturais
com valências turísticas que são coerentes em várias dimensões de gestão
conjunta. O MNAA não tem os públicos dos Jerónimos nem do CCB - não faz sentido
nenhum. Haver uma gestão integrada faz sentido quando há partilha de serviços e
a redistribuição deve ser aplicada nos investimentos necessários nesse
perímetro. Houve um artigo muito crítico no PÚBLICO a dizer que a
redistribuição devia continuar a ser nacional. Não vejo porquê. Há zonas com
características especiais. Defendi que Belém e Évora seriam óptimos locais onde
experimentar a gestão integrada.
Retirar essas
receitas do bolo geral vai esvaziar muito a bolsa da Direcção-Geral do
Património Cultural [DGPC].
Não sei. Confesso
que não sei [quais são os valores]. Já pedi.
Mas sabe
certamente que estes são os monumentos mais rentáveis da DGPC.
Acredito que
sejam. Mas o que estou a tentar explicar é que a redistribuição dentro de
perímetros é uma coisa óbvia, necessária. A redistribuição entre os Jerónimos e
Freixo de Espada à Cinta não faz sentido.
Isso não implica
deixar morrer instituições com menos capacidade de captação de públicos?
Os monumentos
classificados são uma obrigação do Estado. Que sejam conservados é um direito
dos cidadãos, mas também um dever. O Estado deve usar o dinheiro dos
contribuintes para manter o seu património. Não é defensável ter monumentos que
supram essa obrigação nacional.
Mas o Museu Abade
Baçal, em Bragança, não tem a mesma capacidade para atrair públicos que os
Jerónimos.
A DGPC não pode
ser dependente dos Jerónimos.
Acima de tudo
está o património, a sua conservação e fruição. Se nesta zona há património que
requer investimentos de conservação, essa é uma questão que tem de ser
resolvida. Quando se constrói um novo Museu dos Coches, tem de haver meios para
o pôr a funcionar. O próprio Palácio da Ajuda tem que ser reabilitado. Quando
se diz: "Ah, mas a DGPC depois não tem dinheiro..." A DGPC não está
na primeira linha.
Volto a Sintra: o
Palácio da Pena é muito rentável, Queluz não é (e quando digo rentável quero
dizer que há um equilíbrio de receitas e custos de funcionamento). Se não
houvesse redistribuição de receitas, nem os investimentos na Pena, nem o
restauro do Chalé da Condessa se faziam.
Há necessidade de
investir? Não se faça um perímetro que vá até Bragança. Encontrem-se antes
soluções de bom senso, com perímetros mais pequenos e mais fáceis de gerir. Se
amanhã se disser que já não há aqui nada a fazer de investimento, atingiu-se a
tal situação em que se pode alargar o perímetro e chegar às Janelas Verdes.
Portanto, os
visitantes dos Jerónimos vão ajudar a abrir o novo Museu dos Coches.
Não estou a dizer
isso. Não concebo é que os Jerónimos estejam com graves problemas estruturais,
apesar de gerarem receitas.
Seja qual for o
modelo, a tutela na gestão desta zona deve ser a Cultura?
O CCB é 100%
Estado. Tudo o que se fizer na zona tem de ser aprovado pela DGPC. O que não
quer dizer que seja necessário a Secretaria de Estado da Cultura [SEC]
autorizar tudo. Não fazia isso em Sintra. E nunca houve qualquer conflito.
Está afastada a
ideia de criar uma sociedade gestora que funcione de maneira autónoma?
Existe esta [o
CCB], que é uma fundação.
É? Os estatutos
são de fundação, mas o CCB entrou para o perímetro de consolidação da dívida
pública.
Sim, mas isso tem
a ver com regras de funcionamento em termos de gestão de receitas e despesas. É
uma instituição 100% do Estado e eu fui nomeado pelo secretário de Estado da
Cultura.
Já esclareceu com
o secretário de Estado qual é a real situação do CCB?
Temos esclarecido
apenas que, se não se fizer nada, esta é uma situação muito preocupante. Sobre
isso não há dúvida.
Temos de insistir
porque não é claro para ninguém: o CCB é ainda uma fundação?
Não discuti com
ninguém, nem com o secretário de Estado, a mudança dos estatutos. A fundação
foi reclassificada e não é uma instituição que possa ter as liberdades que
tinha em termos de gestão, porque reduziu a cota de receitas no seu orçamento
abaixo dos 40%.
Mas a partir do
momento em que o CCB entra para a função pública os estatutos de fundação
deixam imediatamente de ser válidos, ou não?
O CCB não entra
para a função pública. Não passa a direcção-geral. Não é um problema de
administração financeira. É um problema de flexibilidade.
Nas regras destes
perímetros [de consolidação da dívida pública] há duas limitações: uma a das
autorizações de receitas e despesas, outra a da unidade de tesouraria [que
obriga a apresentar contas todos os meses]. A Parques de Sintra já tinha
unidade de tesouraria. O que aconteceu é que, como tinha receitas superiores a
50% do seu orçamento, pedimos isenção dessa obrigação e foi-nos dada. Não é uma
regra taxativa. É uma regra que pode ser aplicada politicamente.
O resto não sei
muito bem. Se todos os dias vamos ter de subir à Ajuda para ter uma rubrica? Não
sei. Mas a resposta não é sair do sector empresarial do Estado, é conseguir que
nos dêem algum tempo para poder subir as receitas e sair de debaixo de água.
Como?
Não posso ainda
responder. Mas é óbvio que é preciso e que, se não se fizer, toda a missão do
CCB pode ser posta em causa.
Está preocupado
com a perda de autonomia.
Estou, porque,
até para poder ser útil a esta zona, é preciso que haja uma instituição que tenha
alguma flexibilidade. O CCB deve tê-la.
Diz que será
fundamental para a prossecução da missão do CCB...
A que está
escrita nos estatutos: apoiar as artes, ser uma entidade promotora da Cultura
em todos as suas vertentes. Uma missão que foi evoluindo, ao longo dos
tempos...
Diferentes
presidentes têm tido diferentes interpretações de qual é essa missão. Qual é a
via que gostaria que o CCB seguisse?
Ainda com a tal
enorme limitação de conhecer mal o CCB, não tenho dúvida de que pode fazer mais
em termos de ligação às instituições que já actuam em Lisboa. Não é um museu -
podia ser, mas está ocupado com o Museu Berardo. Podia ser um espaço que se
abrisse mais às exposições das várias instituições. Já foi. O Centro de
Exposições foi pensado como um espaço de exposições temporárias, aberto à
cidade e a todos os agentes que quisessem propor bons projectos para aqui. E na
música, nomeadamente na ópera e nos concertos, há imensas instituições com as
quais o CCB deve fazer parcerias.
Por exemplo?
O São Carlos.
Que tipo de
parceria?
Não sei. Combinei
com o director [do Opart] termos uma conversa o mais rapidamente possível. Esta
torre [do grande auditório] foi decidida a meio do projecto [de construção do
CCB]. O São Carlos não tinha um palco com condições técnicas modernas e pediu
para que não fosse feito apenas um anfiteatro com valências de música
sinfónica. Isto foi equipado com o que de melhor havia naquela altura, na tal
época em que era possível tomar decisões caras e difíceis. Uma parceria com o
São Carlos não é óptima, é óbvia. E a Gulbenkian é uma instituição tão
importante no domínio da música... O CCB não pode ter os seus projectos
musicais sem um diálogo com estas instituições.
A música é apenas
uma fatia da programação. Há a dança, o teatro. Ou acha que o foco deve ser a música?
Não, não. Citei a
música por existirem duas instituições muito fortes em Lisboa. Na área da dança
é a mesma coisa.
Não vê, então, o
CCB como espaço de produção?
Não é a ideia que
tenho. O CCB tem a missão de estimular as artes, mas isso não se pode ler como
"produzir" - não é imediato.
Mas o CCB teve
também um papel importante como produtor.
Não estou a dizer
que se deva quebrar essa intenção, nem é o meu modo de actuar. O que acho é que
a vocação não é de produtor, é de fomentador. Até agora tem sido muito
equilibrado nesse sentido. Melhorar o diálogo com outras grandes instituições é
a minha primeira reacção.
Falemos de
diálogo: já conversou com Joe Berardo? O CCB tem tido uma relação tensa com o
coleccionador.
Ainda não. É
indispensável ter essa conversa, vou agendá-la o mais rapidamente possível.
O que acha da
autonomia do antigo Centro de Exposições?
Se tivesse de
dispor daquele espaço, não o alienaria a uma única entidade. O programa [do
CCB] contemplava uma generosa oferta de espaços expositivos. Neste momento não
há, que eu saiba, nenhum que possa albergar uma exposição temporária.
Há a Garagem
Sul...
É um remedeio.
A realidade,
porém, é que o Museu Berardo tem autonomia. Como vê a articulação com o CCB?
O que oiço é que
existe uma permanente tensão...
Desde a criação
do museu, em 2006.
Este acordo
termina em 2016. É preciso que estes anos, pelo menos até lá, sejam de melhor
convívio.
Mas como idealiza
essa relação? Não tem nada em mente?
Não, a não ser as
coisas de que se fala: como é possível faltar dinheiro e haver aqui um museu de
graça?
Discorda da
gratuitidade?
Não sei por que
se achou que isso era bom para este espaço.
Joe Berardo
explicou ver a sua colecção como uma dádiva aos portugueses.
Essa
singularidade, em tempos de menor disponibilidade financeira, é difícil de
defender. É caro para o CCB manter aquele espaço. Não é sustentável. Longe de
mim contestar o acordo ou tentar alterá-lo... O acordo está vigente.
E é renovável.
Preferia que não fosse? Disse há pouco "pelo menos" até 2016...
Não sei. Não
tenho uma ideia feita.
Quanto custa por
ano ao CCB manter aquele espaço?
Mais de um milhão
de euros [1,2 milhões estimados para 2014]. Segurança, ar condicionado,
electricidade... E, depois, [o museu] recebe dinheiro da própria Cultura. Não é
sustentável.
Custa-lhe,
portanto, esta gratuitidade, quando o CCB perdeu receitas e custa-lhe ter
abdicado de um grande espaço de exposições temporárias?
O programa [do
CCB] com uma galeria de exposições temporárias foi muito batalhado por mim. Não
posso ser neutro nessa matéria.
O Museu Berardo
tem exposições temporárias.
Mas com base na
colecção.
E em empréstimos.
Ou seja, argumentar que o Museu Berardo impede o CCB de ter exposições
temporárias não colhe a 100%, porque o próprio museu organiza essas exposições.
Não faltará antes articulação entre as duas instituições?
Não tinha a ideia
de que eles tinham a incumbência de manter um programa de exposições
temporárias.
Não é uma
incumbência - é a maneira como organizam a programação. Mas dificilmente
poderiam fazer uma grande exposição do século XIX, porque é mais difícil
estabelecer uma relação com a colecção... Depende também da visão que se tem da
missão do CCB, mais historicista, mais contemporânea...
A maior das
exposições que aqui esteve, uma das primeiras, foi O Triunfo do Barroco e essa
exposição de grande fôlego era histórica. Depois não sei o que houve mais...
Enquanto Delfim
Sardo assumiu a programação, por exemplo, o Centro de Exposições tornou-se num
dos espaços mais arrojados da cidade. Tem havido diferentes perspectivas. Qual
é a sua?
A minha é que não
deve haver uma vocação fixa. E não se deve também fazer coisas que não tenham
articulação com outras instituições.
A falta de um
espaço de exposições temporárias não poderia ser resolvido com a construção do
módulo que falta?
Claro que sim.
Mas não foi pensado para isso.
Foi pensado para
o hotel...
Como uma rua de
cidade, que trouxesse, à noite, vida a esta zona, que não tem. Um cinema, lojas
e até uma estação de correios, a pedido dos CTT.
É claro se, neste
momento, vos é legalmente permitido construí-lo, tendo em conta a inclusão do
CCB no perímetro de consolidação orçamental?
Não faço ideia.
Não. A única coisa que sei é que os terrenos estão afectos ao CCB.
E já sabem se
poderão continuar a alugar lojas e salas?
Não sei. Se as
limitações forem todas nesse sentido, o próprio CCB não pode sobreviver. Aí não
tenho qualquer dúvida. [Mas] não acredito que o CCB possa deixar de fazer bom
uso destes espaços, que são propriedade do Estado. Teria outra instituição
pública de tomar conta deles e essa instituição não existe na Cultura.
Assistiu-se a uma
situação semelhante de falta de autonomia na Cinemateca Portuguesa, ao ponto de
não conseguir imprimir os seus programas...
Estão a
vaticinar-me uma desistência, mas eu não desisto.
Não, estamos só a
perguntar se já discutiu uma excepção à lei?
É meu propósito
apresentá-la com a maior veemência e pressa possível [à tutela]. Não é possível
ter esta máquina e depois ela não poder desempenhar nenhuma das suas funções. É
uma questão política. A excepção é política. Quando o secretário de Estado me
nomeou, não foi para ser comissão liquidatária, com certeza.
Mas teme-se, de
facto, que o CCB passe a ser entendido como a residência da administração do
pólo Belém-Ajuda e não como espaço de programação cultural.
Não vim para ser
presidente liquidatário.
Preocupa-o a
perda de identidade própria de cada equipamento?
É um falso
receio. Ninguém pode imaginar que a Arqueologia deixe de ser Arqueologia. As
pessoas têm de perceber que a independência que têm é pequenina. Não têm
capacidade de gerir as suas receitas, não têm estímulo nenhum a que elas sejam
melhores. O que as pode satisfazer é dizer "Sou director" ou
"Sou pobre, mas independente".
Mas acredito que estas coisas não se conquistam só por dialéctica. Tenho
de ter a criatividade de encontrar propostas que as pessoas vejam que são
úteis. Vou citar uma coisa que me motiva: estamos a aproximar-nos de um novo
quadro comunitário de apoio. Esta zona precisa de ser candidata, nas suas
várias necessidades, a um projecto integrado. Esse projecto pode vir a adoçar
essas dificuldades.
Qual é o problema
mais urgente de resolver em termos urbanos?
O mais urgente é
fazer uma coesão espacial desde o museu novo até à Torre de Belém e resolver
essas questões dos cortes na circulação, na sinalética, no conhecimento do que
a zona oferece.
Quem entra nos Jerónimos
não sabe que há um museu de Etnologia mais acima?
Não, não sabe. A
tal independência faz com que cada um olhe por si.
E o que é que o
CCB tem a ganhar?
Identifiquei um
[benefício] - o novo desígnio desta instituição. Esta [nova] missão mobilizará
todo o CCB.
O CCB está apenas
interessado em participar de um bolo de receitas ou deve captar os públicos dos
outros espaços? E como é que isso se faz?
Longe de mim
pensar que o público dos Jerónimos pode ser chupado para aqui com um aspirador.
Mas dou-vos um exemplo: ninguém que vai aos Jerónimos sabe que aqui há espaços
maravilhosos sobre o rio para almoçar e que há lojas.
Portanto, a
programação segue o seu rumo...
O CCB tem de
procurar mais receitas, é claríssimo. Se provêm da modificação do programa de
actividades ou da capacidade de atrair os milhões de visitantes da zona... Não
estou a excluir nada. É preciso as duas perspectivas.
Há dois
equipamentos modernos nesta grande área: CCB e Coches. Voltamos a perguntar:
qual é a sua prioridade?
O Museu dos
Coches. Abri-lo. Nada se compreenderá no que toca a pensar ou planear a fruição
integrada da zona com aquilo fechado. Os estrangeiros não percebem porque está
ali uma coisa branca, fechada. E acho que é malsão que os portugueses se vão
habituando a que se possa fazer realizações e, de repente, desistir delas. Ou
se faz uma demolição, ou se abre. Eu acho que é preciso abrir. O museu fechado
está a deteriorar-se a uma velocidade brutal.
Já tem problemas
de conservação?
Nas coberturas,
pelo menos, sei que tem. Está a ter gastos de conservação e a deteriorar-se. Não
pode estar assim.
O secretário de
Estado diz que os novos Coches precisam de ter um milhão de visitantes por ano
para serem sustentáveis. Os velhos Coches fazem hoje 190 mil. Um milhão
parece-lhe realista?
Não sei dizer.
Não sei se é o número necessário ou realista. Se é possível? De um dia para o
outro não, mas num prazo de alguns anos é com certeza. Quando recebemos a Pena,
tinha umas poucas centenas de milhares e, neste momento, está a atingir os 900
mil visitantes pagos.
Imaginou que
todos os problemas que originalmente identificou se manteriam passados mais de
20 anos?
Não. A tristeza
da cidade cortada do rio nesta zona, a mais brilhante de Lisboa, do país... Cada
vez mais esta [linha do comboio] é uma barreira terrível. E é uma das questões
urbanísticas que têm de motivar os portugueses.
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