Reviravolta no BES: acionistas
negoceiam alternativa para suceder a Salgado
Nova reviravolta no BES, apurou o Expresso: a família Espírito Santo está a
negociar com outros acionistas uma alternativa para substituir Ricardo Salgado
como presidente executivo. Não é uma nova lista, é a mesma - e Morais Pires já
não a lidera. Salgado deixa-o cair. A sucessão pode ser apressada para antes de
31 de julho. Com acordo alargado, o Banco de Portugal levantará menos reservas.
Joaquim Goes volta a estar em cima da mesa.
João Vieira
Pereira e Pedro Santos Guerreiro |
21:35 Terça
feira, 1 de julho de 2014 im EXPRESSO online
Amílcar Morais
Pires pode ter perdido as hipóteses de ser o próximo presidente executivo do
Banco Espírito Santo. O Expresso sabe que a discussão em torno da lista para os
novos administradores foi alargada e que estão a decorrer neste momento
negociações com mais acionistas para chegar a um consenso. Incluindo os
franceses do Crédit Agricole. Ricardo Salgado é assim obrigado a recuar na sua
lista inicial e deixa cair o sucessor que quis impor. A família já não decidirá
sozinha a sucessão da liderança do banco.
Este é o
resultado de quase duas semanas de pressões, silêncios e negociações entre
Ricardo Salgado, Carlos Costa e demais acionistas do Banco Espírito Santo. A
proposta inicialmente apresentada pela Espírito Santo Financial Group, o maior
acionista do BES com 25% do seu capital, previa a promoção de Amílcar Morais
Pires, mas o silêncio do Banco de Portugal sobre este nome gerou a perceção de
que ele não seria aceite. As ações do BES e da ESFG desvalorizaram entretanto a
pique, precisamente por causa desta indefinição. A indefinição pode agora ser
ultrapassada se ficar claro que há uma nova lista, que ela é aprovada pela
maioria dos acionistas e aceite pelo supervisor. E tudo isso pode acontecer
mais depressa do que era suposto.
Em perspetiva
está a apresentação de uma lista que dispense a espera de um mês durante o qual
o banco fique em suspenso. O Código das Sociedades Comerciais prevê que, no
caso de um presidente executivo anunciar a sua saída e houver um consenso
alargado e representativo dos acionistas em relação ao seu substituto, uma
substituição temporária pode ser acelerada, mesmo antes de uma assembleia geral
definitiva. Isso retiraria a pressão do mercado sobre as ações e acalmaria os
próprios clientes.
Mas quem? O nome
não está ainda fechado mas Joaquim Goes volta a aparecer como candidato. Goes,
47 anos, é já administrador executivo do banco e reúne consenso quer de
Salgado, quer de José Maria Ricciardi. Resta saber se reúne também o consenso
dos demais acionistas, incluindo o Crédit Agricole, que está muito agastado com
a crise entre os Espírito Santo, de quem é aliado há anos. O envolvimento dos
acionistas franceses corresponde ao desejo do Banco de Portugal de envolver o
maior número possível de acionistas do banco, além da família. A nova solução
significará de qualquer forma sempre a saída de Amílcar Morais Pires do
corredor da liderança. E assim Ricardo Salgado perde na definição da sua
própria sucessão.
O nome de Joaquim
Goes como possível sucessor de Ricardo Salgado não surgiu nas primeiras listas
de candidatos, que foram sendo publicadas desde novembro, quando a zanga entre
os primos Ricciardi e Salgado quebrou a paz no Grupo Espírito Santo. Então, as
primeiras listas noticiadas incluíam Ricciardi, Ricardo Abecassis Espírito
Santo, Bernardo Abecassis e Morais Pires. Os primeiros três foram
"vetados" pelo Banco de Portugal por pertencerem à família, o último
acabou por ser a primeira escolha de Salgado (que venceu na ESFG o seu primo
Ricciardi, que nunca quis Morais Pires), mas caiu agora. Morais Pires tinha do
seu lado o perfil profissional e grande respeito nos mercados financeiros, mas
tinha contra ser visto como uma "extensão" de Ricardo Salgado, de
quem foi braço direito, além de ser arguido num processo judicial e estar a ser
investigado noutro.
Joaquim Goes era
o "outro" braço direito de Ricardo Salgado e o seu nome só começou a
circular como potencial sucessor nos últimos três meses. Ao contrário de Morais
Pires, Goes não é hostilizado por Ricciardi. Tanto que Joaquim Goes estava nas
duas listas: na que Salgado conseguiu fazer avançar; e na que Ricciardi quis
propor.
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