Emigração. Portugueses continuam
a ser operários no estrangeiro
Por Rosa Ramos
publicado em 28
Jul 2014 in
(jornal) i online
A emigração dos últimos anos é diferente da das décadas de 1960 e 1970, mas
a maior parte dos portugueses que vivem em países como a Suíça, a França, o
Luxemburgo ou o Reino Unido continuam a ser operários e a ter trabalho pouco
qualificado
O perfil do
emigrante português mudou mas a maioria continua a trabalhar em profissões não
qualificadas no estrangeiro. O primeiro relatório oficial do governo sobre o
fenómeno da emigração revela que em países como a França, a Suíça, o Luxemburgo
ou o Reino Unido os emigrantes nacionais continuam a trabalhar como operários,
em linhas de montagem e noutras profissões não qualificadas. Só uma percentagem
reduzida de emigrantes tem cargos de chefia ou se dedica a áreas científicas e
intelectuais. Isto apesar de a emigração qualificada ter aumentado 87% numa
década e de, segundo o Observatório da Emigração, 11% do total de licenciados
portugueses residirem noutro país. E nem o Reino Unido, para onde têm emigrado
os portugueses mais qualificados, é excepção: mais de um terço dos portugueses
têm profissões indiferenciadas.
SUÍÇA E REINO
UNIDO
Entre os portugueses emigrados na Suíça em
2012, 75% tinham o ensino básico, 14% o ensino secundário completo e 5% eram
licenciados. Mais de um quarto da comunidade portuguesa, segundo o Censos
suíço, trabalham como operários e 23% estão ligados à área dos serviços ou
vendas. Os restantes são operadores de máquinas (10%), técnicos de nível
intermédio (8%) e administrativos (4%). Só 4% se dedicam a profissões
intelectuais ou científicas e 3% são quadros superiores da administração
pública, dirigentes ou quadros superiores em empresas. A agricultura ocupa 2%
dos emigrados na Suíça.
O Reino Unido
tornou-se, nos últimos anos, num dos principais destinos da emigração
portuguesa e, segundo o governo, dos portugueses mais jovens e qualificados. A
idade média dos emigrantes no Reino Unido, de acordo com o último
recenseamento, de 2011, é de 34 anos. Mais de um quarto (28%) dos emigrantes
nacionais completaram o ensino básico ou secundário e um quinto (19%) eram
licenciados. Quase tantos (22%) como os que não completaram qualquer grau de
ensino. Também em 2011, dois terços (64%) dos portugueses no Reino Unido
estavam empregados e 25% eram inactivos. No desemprego estavam 4677 emigrantes
oriundos de Portugal (6%). E apesar de no Reino Unido existirem mais
licenciados do que em outros países da Europa, quase um terço (29%) tem
empregos não qualificados. Mais de 10% são trabalhadores qualificados dos
sectores da indústria e da construção e 22% ocupam-se da área dos serviços pessoais
e protecção ou da operação de máquinas e em linhas de montagem. Os
especialistas de profissões intelectuais e científicas são apenas 10% do total
de emigrantes e só 7% são quadros superiores ou dirigentes. "Embora
predomine o emprego nas profissões mais desqualificadas, o peso das profissões
qualificadas entre os portugueses emigrados em Inglaterra e no País de Gales é
maior do que nos outros principais países de destino da emigração portuguesa e
o Reino Unido aparece como o principal pólo de atracção da emigração
qualificada portuguesa", sublinha o relatório.
FRANÇA E
LUXEMBURGO Os últimos dados sobre a população emigrante em França são de 2010.
Há três anos, mais de metade (54%) dos portugueses a viver no território
francês estavam em idade activa e tinham entre 25 e 54 anos. Mais de um terço
(39%) ultrapassou os 55 anos - número que se explica pelos fluxos migratórios
das décadas anteriores. Em 2010, 61% dos portugueses estavam empregados, 24%
eram reformados e 5% não tinham emprego (29 616 desempregados). Dos que tinham
trabalho, mais de 40% eram operários e cerca de um terço (32%) trabalhavam nos
serviços ou como administrativos. Os portugueses com ocupações técnicas
intermédias representavam 12% do total e 8% eram comerciantes, pequenos
empresários ou independentes. Só 5% eram quadros superiores ou especialistas em
profissões intelectuais.
O Luxemburgo
continua a receber emigrantes portugueses, mas a comunidade continua a ser
pouco qualificada. A maioria (59%) tinha, em 2011, o ensino básico e só 3%
completou o ensino superior. As baixas qualificações reflectem-se no tipo de
trabalho: 60% eram trabalhadores indiferenciados: um terço (34%) eram não
qualificados, sobretudo empregados de limpeza, e mais de um quinto (26%)
operários. Os restantes 8% eram operadores de máquinas ou trabalhavam em linhas
de montagem e só 5% tinham profissões intelectuais ou científicas e 3% eram
quadros superiores. "Trata-se de uma população emigrada pouco qualificada,
apesar da chegada de novos emigrantes", resume o relatório.
Os 12 países onde
há mais portugueses emigrados
Alemanha
É o sétimo país do mundo onde há mais
portugueses e recebeu 11 mil novos emigrantes nacionais em 2013 (+25,9% que em
2012). No ano passado, viviam na Alemanha cerca de 104 mil portugueses, menos
do que os 108 mil em 2000. São mais homens (56%) do que mulheres e metade têm
entre 40 e 64 anos. Em 2012, segundo o relatório do governo, 444 nacionais
pediram naturalização alemã.
Bélgica
É um dos novos destinos da emigração nacional.
Em 2012, a
Bélgica recebeu 129 mil portugueses e tornou-se o sexto país com mais
emigrantes oriundos de Portugal. No ano passado, viviam em território belga um
total de 31500 portugueses. Ainda assim, o número de cidadãos nacionais a pedir
a naturalização belga, de acordo com o relatório do governo, não aumentou e tem
variado anualmente entre 150 e 300.
França
Os portugueses emigrados em França aumentaram
de 567 mil em 2005 para 588 mil em 2010 e são a terceira maior comunidade
residente (11% do total de imigrantes) a seguir aos argelinos e marroquinos.
Segundo o Censos de 2010, 40% dos portugueses emigrados em França eram
operários, 32% administrativos, 8% comerciantes e só 5% quadros superiores.
Noruega
A emigração tem vindo a aumentar, ainda que
continue a ser residual. Em 2000 entraram 50 portugueses na Noruega, número que
em 2013 foi já superior a 800. Segundo os dados oficiais, a Noruega é,
actualmente, o décimo país para onde mais portugueses emigram, tratando-se de
um destino emergente e recente. Em 2000 viviam na Noruega 700 portugueses,
enquanto que em 2013 já eram dois mil.
Brasil
Só entre 2010 e 2011, o número de entradas de
portugueses aumentou de 798 para 1,56 milhões. No ano passado, 2913 emigrantes
nacionais emigraram para o Brasil, o que representou 5% do total das novas
entradas em território brasileiro. Entre 2012 e 2013, a emigração
portuguesa cresceu 29,6%.
O Brasil é o
sétimo país do mundo para onde mais portugueses emigram, revela o relatório.
Canadá
A emigração para o Canadá é hoje mais
reduzida. Desde 2000, o número de entradas anuais manteve-se entre as 200 e as
700. Mas a tendência é de crescimento, ainda que ténue (5% ao ano). Em 2013,
523 novos portugueses escolheram o Canadá para viver e trabalhar (mais 3,4% que
no ano ano anterior). A comunidade portuguesa é pequena e representa apenas
0,2% do total de imigrantes no Canadá.
Holanda
O número de entradas de portugueses tem
subido. Em 2011, segundo o relatório do governo, emigraram para a Holanda mais
de 1,7 milhões de cidadãos nacionais, o que torna o país o oitavo para onde
mais portugueses emigram actualmente. O número de emigrantes nacionais a viver
na Holanda aumentou mais de 60% entre 2000 e 2013, passando de 9500 para 15486.
Reino Unido
É, actualmente, o
país para onde mais portugueses emigram, sobretudo os qualificados. A entrada
de nacionais cresceu exponencialmente de cerca de 1800 entradas em 2000 para
mais de 30 mil no ano passado (+47,3% do que em 2012). Os portugueses estão já
entre as cinco principais comunidades de imigrantes no Reino Unido. Entre 2000
e 2013, o número de portugueses triplicou.
Espanha
A emigração para Espanha cresceu bastante
entre 2000 e 2007, mas sofreu um declínio a partir de 2008, devido à crise na
construção civil. Mesmo assim, Espanha continua a ser o quarto país para onde
os portugueses mais emigram: em 2012 foram seis mil. O ano em que recebeu mais
emigrantes nacionais foi 2007 (27 mil). Entre 2008 e 2009, o número caiu 42%,
para menos de 10 mil, e tem continuado a baixar.
Estados Unidos
Desde 2000, a emigração portuguesa tem diminuído.
Nesse ano, entraram 1343 emigrantes nos EUA, contra 811 em 2012. O número de
nacionais a viver nos Estados Unidos caiu para metade desde 2000: o número de
entradas não tem sido suficiente para compensar o número de mortes e de
regressos a Portugal. Ainda assim, os EUA ainda são o terceiro país do mundo
com mais portugueses (158 mil).
Luxemburgo
As entradas de portugueses no Luxemburgo
representam um quinto do total de entradas de estrangeiros e não têm parado de
aumentar desde 1999. Em 2012, o Luxemburgo recebeu 5193 novos emigrantes
portugueses. No ano 2000, e a título de comparação, foram 2193. O número de
portugueses emigrados no Luxemburgo teve um crescimento de quase metade (46%)
em 10 anos.
Suíça
Desde 2003 que o número de entradas de
portugueses na Suíça é bastante expressivo, acima de 10 mil por ano. Os
portugueses são actualmente a segunda maior comunidade de imigrantes, a seguir
à alemã, e a Suíça é o segundo país para onde mais nacionais emigram. Só em
2013 entraram no país quase 30 mil novos portugueses, o que representou uma
subida de 106% face a 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário