domingo, 20 de julho de 2014

Duas Respostas da Campanha de António Costa a João Miguel Tavares

A  “gloriosa” campanha do ‘Caminho Aberto’ está ao rubro!
Já dá “direito de Resposta” a João Miguel Tavares, algo que nunca antes aconteceu por parte de António Costa ...
Aproveito para republicar um artigo meu no Público de 26-8-2012 / “Corpo presente, mente ausente”. ( em baixo )
António Sérgio Rosa de Carvalho.

Há percepções que não colam à realidade
No seguimento do artigo [“De onde vem o dinheiro, António Costa?”] que assina na edição de [17 de Julho] do PÚBLICO gostaria de lhe transmitir não ser de todo correta a percepção que a minha participação na campanha das eleições primárias do PS está a afetar o desempenho das funções de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que cumpro com todo o gosto.
A verdade é que, regra geral, tenho dedicado à campanha apenas o tempo que me é disponibilizado pelo exercício do cargo para o qual fui eleito pelos lisboetas, ou seja, as noites e os fins-de-semana, em que efectivamente tenho feito um grande esforço para chegar a todos os militantes e simpatizantes do PS espalhados pelo país. Aliás, basta consultar a minha agenda para perceber esse facto e da possibilidade de conjugar ambas as tarefas.
Para objectivar este facto podia remeter-lhe a minha agenda desta semana, onde verificaria que para além de vários eventos públicos como presidente de câmara (desde a inauguração do Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos, na segunda-feira, à participação na reunião da assembleia municipal, na terça-feira, à reunião do Conselho Metropolitano de Lisboa e à participação na cerimónia de assinatura do contrato de concessão do terminal de cruzeiros de Lisboa, hoje mesmo, à inauguração, sexta-feira, do Museu de Santo António, além da participação nos eventos do Mandela Day, no Intendente), tenho mantido as várias reuniões que a normal actividade interna da câmara implica.
Meu caro, por vezes, há percepções — como esta que hoje transmite no artigo em causa — que não colam à realidade. Não ficaria de bem comigo próprio se não o esclarecesse desse desfasamento. Com os melhores cumprimentos, António Costa

De onde vem o dinheiro
No artigo de opinião que [a 17 de Julho] publica no jornal PÚBLICO, V. Exa questiona directamente “De onde vem o dinheiro, António Costa?”, referindo-se à campanha para as eleições primárias do Partido Socialista. Na qualidade de director financeiro da referida campanha de António Costa, tomo a liberdade de lhe responder à pergunta — tal como teria feito se tivéssemos sido contactados previamente.
Em primeiro lugar, permitame contestar a expressão “rios de dinheiro” gastos, que não corresponde, de todo, à verdade. A campanha tem sido feita até agora, e certamente continuará assim, à base de voluntarismo e militância de várias pessoas, entre as quais eu próprio me incluo.
Sucede assim, por exemplo, com as duas viaturas de gama média que têm sido utilizadas, emprestadas por militantes que apoiam o dr. António Costa, que têm também suportado o combustível gasto. Aliás, as referidas viaturas têm variado, de acordo com a disponibilidade dos seus proprietários para as emprestar.
O “muitíssimo profissional” site foi elaborado e é mantido voluntariamente por uma série de apoiantes da candidatura (que também o fazem nas redes sociais), não tendo custado um cêntimo que fosse, agradecendo nós as suas palavras por a entendermos como um elogio à sua qualidade.
Todas as pessoas que têm colaborado com o dr. António Costa são voluntários e não têm qualquer remuneração por esse facto. Fazem-no com base na disponibilidade do seu tempo para lá das funções profissionais que desempenham, onde quer que seja. E certamente que não impediríamos que quem quer que quisesse fosse impedido de o fazer por manter contratos de prestação de serviços na CML, desde que essa situação não ponha em causa o integral cumprimento das suas obrigações profissionais.
Quanto aos cenários e ao som, que também fazem parte das suas preocupações, serão obviamente custos a imputar à subvenção que o PS fornecerá às candidaturas, nos termos do regulamento destas eleições, e que farão parte do orçamento que entregaremos à comissão organizadora, logo que a candidatura seja formalizada.
O que lhe posso garantir é que esta candidatura cumprirá escrupulosamente as regras que forem definidas nesta matéria, com total transparência. O que não podíamos fazer, como entenderá, era perante uma pergunta de um órgão de comunicação social, que cita no seu artigo, sobre qual o nosso orçamento, responder de outra forma que não aquela que o fizemos. Por uma simples razão: só o saberemos quando a comissão organizadora destas eleições primárias definir qual é o valor disponível.
Como vê, meu caro João Miguel Tavares, julgo não haver motivos para as preocupações sobre falta de transparência ou, pior ainda, para qualquer tipo de afirmação que possa insinuar qualquer outro tipo de atuação menos clara. O dr. António Costa decidiu candidatar-se nestas eleições e, entre militantes e simpatizantes do PS, esse facto gerou um grande entusiasmo e militância, que se traduz na disponibilidade de muita gente para trabalhar voluntária e graciosamente em prol dessa candidatura. Nada pode haver mais claro do que isso.
Quanto ao resto, que é necessário para qualquer campanha, será orçamentado e pago no escrupuloso cumprimento das regras e da lei.
Foi assim em todas as campanhas eleitorais do dr. António Costa e também será nesta. Agostinho Abade, director financeiro 


Opinião
Corpo presente, mente ausente
 Por António Sérgio Rosa de Carvalho
26/08/2012. / PÚBLICO

António Costa escolheu o quinto aniversário da sua vitória autárquica para anunciar que, embora mantenha a sua candidatura nas autárquicas de Lisboa para um novo mandato, está interessado num cargo de chefia no seu partido, e, assim, na continuação da sua carreira política de plataforma em plataforma, utilizando trampolins e acrobacias.

Será portanto difícil encontrar uma melhor ilustração de que a sua mente "voa" para outros objectivos e não está concentrada e dedicada exclusivamente a Lisboa. Num momento em que os cidadãos sentem uma verdadeira repulsa e demonstram um profundo cepticismo pelas manobras do jogo político, pelas teias insondáveis de influências e nomeações, determinadas já não apenas pelos clubes políticos, mas por organizações secretas ou não, omnipresentes e transversais à política, nunca a autenticidade e a genuína motivação e dedicação foram tão fortemente e ansiosamente desejadas. Assim, é isso que se deseja de um autarca: uma total e exclusiva dedicação e paixão pela cidade que representa.

Todos aqueles que participam activamente no processo de cidadania têm razões para este cepticismo. Analisando o processo de eleição de José Sá Fernandes e de Helena Roseta, vindos de uma originalmente prometida independência e representação da causa da cidadania, teremos de concluir que a única forma de voltarem a participar nas eleições será através da "fórmula" de perfilamento e definição política inspirada por Prince, o famoso artista da música pop.

Assim, a "fórmula" de Prince, "O artista conhecido anteriormente como Prince", será a única possível de perfilamento e apresentação para estes dois "artistas" politiqueiros, José Sá Fernandes e Helena Roseta. Ambos conhecidos formalmente como paladinos da independência e cidadania, mas agora "transformados" por sua opção consciente e neutralizados por António Costa.

Também, as graves, destruidoras e alienantes consequências para o património arquitectónico do trabalho desenvolvido por Manuel Salgado, na sua pseudo-reabilitação urbana, são visíveis na Baixa pombalina e nas avenidas. Mas o vereador do Urbanismo tem sido exímio na sistemática perseverança de como tem "minado" o terreno legislativo. Utilizando-se do argumento de uma indiscutível necessidade de reforma, desburocratização e aceleração dos processos de licenciamento, conseguiu uma sintonia e ponte permanentes, uma espécie de "via verde" para acordo dos "pareceres" na área do património, com equipa permanente à sua disposição dentro do próprio corpo institucional do património.

Isto, juntamente com uma sintonia perfeita com o nebuloso e indefinido projecto subjectivo e pessoal da nova Direcção-Geral do Património, representado por Elísio Summavielle, garante-lhe "carta branca" para a destruição sistemática do património arquitectónico lisboeta, na Baixa e nas avenidas.

Perante as críticas e solicitações exteriores, António Costa tem-se fechado no seu "castelo", inexpugável e insensível aos frequentes pedidos de esclarecimento, tanto dos cidadãos activos como da comunicação social, interpretando o espaço adquirido pela sua vitória eleitoral como exclusivamente "seu". Brevemente, o "Lord-Mayor" terá de se aventurar no exterior, nas "feiras e aldeias" exteriores ao castelo, a fim de garantir de novo, os votos, indispensáveis para manter o seu "domínio".

Resta assim à verdadeira cidadania, de livre acesso e abertas a todos cidadãos verdadeiramente crentes na Cívitas e Civilitas, uma defesa activa do património e da qualidade de vida em Lisboa. E não é demais voltar a afirmar o princípio: A cidadania não vai a votos! A cidadania exerce-se!


Historiador de Arquitectura

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