Há percepções que não colam à
realidade
No seguimento do
artigo [“De onde vem o dinheiro, António Costa?”] que assina na edição de [17
de Julho] do PÚBLICO gostaria de lhe transmitir não ser de todo correta a
percepção que a minha participação na campanha das eleições primárias do PS
está a afetar o desempenho das funções de presidente da Câmara Municipal de
Lisboa, que cumpro com todo o gosto.
A verdade é que,
regra geral, tenho dedicado à campanha apenas o tempo que me é disponibilizado
pelo exercício do cargo para o qual fui eleito pelos lisboetas, ou seja, as
noites e os fins-de-semana, em que efectivamente tenho feito um grande esforço
para chegar a todos os militantes e simpatizantes do PS espalhados pelo país. Aliás,
basta consultar a minha agenda para perceber esse facto e da possibilidade de
conjugar ambas as tarefas.
Para objectivar
este facto podia remeter-lhe a minha agenda desta semana, onde verificaria que
para além de vários eventos públicos como presidente de câmara (desde a
inauguração do Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos, na segunda-feira, à
participação na reunião da assembleia municipal, na terça-feira, à reunião do
Conselho Metropolitano de Lisboa e à participação na cerimónia de assinatura do
contrato de concessão do terminal de cruzeiros de Lisboa, hoje mesmo, à
inauguração, sexta-feira, do Museu de Santo António, além da participação nos
eventos do Mandela Day, no Intendente), tenho mantido as várias reuniões que a
normal actividade interna da câmara implica.
Meu caro, por
vezes, há percepções — como esta que hoje transmite no artigo em causa — que
não colam à realidade. Não ficaria de bem comigo próprio se não o esclarecesse
desse desfasamento. Com os melhores cumprimentos, António Costa
De onde vem o dinheiro
No artigo de
opinião que [a 17 de Julho] publica no jornal PÚBLICO, V. Exa questiona
directamente “De onde vem o dinheiro, António Costa?”, referindo-se à campanha
para as eleições primárias do Partido Socialista. Na qualidade de director
financeiro da referida campanha de António Costa, tomo a liberdade de lhe
responder à pergunta — tal como teria feito se tivéssemos sido contactados
previamente.
Em primeiro
lugar, permitame contestar a expressão “rios de dinheiro” gastos, que não
corresponde, de todo, à verdade. A campanha tem sido feita até agora, e
certamente continuará assim, à base de voluntarismo e militância de várias
pessoas, entre as quais eu próprio me incluo.
Sucede assim, por
exemplo, com as duas viaturas de gama média que têm sido utilizadas,
emprestadas por militantes que apoiam o dr. António Costa, que têm também
suportado o combustível gasto. Aliás, as referidas viaturas têm variado, de
acordo com a disponibilidade dos seus proprietários para as emprestar.
O “muitíssimo
profissional” site foi elaborado e é mantido voluntariamente por uma série de
apoiantes da candidatura (que também o fazem nas redes sociais), não tendo
custado um cêntimo que fosse, agradecendo nós as suas palavras por a
entendermos como um elogio à sua qualidade.
Todas as pessoas
que têm colaborado com o dr. António Costa são voluntários e não têm qualquer
remuneração por esse facto. Fazem-no com base na disponibilidade do seu tempo
para lá das funções profissionais que desempenham, onde quer que seja. E
certamente que não impediríamos que quem quer que quisesse fosse impedido de o
fazer por manter contratos de prestação de serviços na CML, desde que essa
situação não ponha em causa o integral cumprimento das suas obrigações
profissionais.
Quanto aos
cenários e ao som, que também fazem parte das suas preocupações, serão
obviamente custos a imputar à subvenção que o PS fornecerá às candidaturas, nos
termos do regulamento destas eleições, e que farão parte do orçamento que
entregaremos à comissão organizadora, logo que a candidatura seja formalizada.
O que lhe posso
garantir é que esta candidatura cumprirá escrupulosamente as regras que forem
definidas nesta matéria, com total transparência. O que não podíamos fazer,
como entenderá, era perante uma pergunta de um órgão de comunicação social, que
cita no seu artigo, sobre qual o nosso orçamento, responder de outra forma que
não aquela que o fizemos. Por uma simples razão: só o saberemos quando a
comissão organizadora destas eleições primárias definir qual é o valor
disponível.
Como vê, meu caro
João Miguel Tavares, julgo não haver motivos para as preocupações sobre falta
de transparência ou, pior ainda, para qualquer tipo de afirmação que possa
insinuar qualquer outro tipo de atuação menos clara. O dr. António Costa
decidiu candidatar-se nestas eleições e, entre militantes e simpatizantes do
PS, esse facto gerou um grande entusiasmo e militância, que se traduz na
disponibilidade de muita gente para trabalhar voluntária e graciosamente em
prol dessa candidatura. Nada pode haver mais claro do que isso.
Quanto ao resto,
que é necessário para qualquer campanha, será orçamentado e pago no escrupuloso
cumprimento das regras e da lei.
Foi assim em
todas as campanhas eleitorais do dr. António Costa e também será nesta. Agostinho Abade, director financeiro
Opinião
Corpo presente, mente ausente
Por António Sérgio Rosa de Carvalho
26/08/2012. /
PÚBLICO
António Costa
escolheu o quinto aniversário da sua vitória autárquica para anunciar que,
embora mantenha a sua candidatura nas autárquicas de Lisboa para um novo
mandato, está interessado num cargo de chefia no seu partido, e, assim, na
continuação da sua carreira política de plataforma em plataforma, utilizando
trampolins e acrobacias.
Será portanto
difícil encontrar uma melhor ilustração de que a sua mente "voa" para
outros objectivos e não está concentrada e dedicada exclusivamente a Lisboa. Num
momento em que os cidadãos sentem uma verdadeira repulsa e demonstram um
profundo cepticismo pelas manobras do jogo político, pelas teias insondáveis de
influências e nomeações, determinadas já não apenas pelos clubes políticos, mas
por organizações secretas ou não, omnipresentes e transversais à política,
nunca a autenticidade e a genuína motivação e dedicação foram tão fortemente e
ansiosamente desejadas. Assim, é isso que se deseja de um autarca: uma total e
exclusiva dedicação e paixão pela cidade que representa.
Todos aqueles que
participam activamente no processo de cidadania têm razões para este
cepticismo. Analisando o processo de eleição de José Sá Fernandes e de Helena
Roseta, vindos de uma originalmente prometida independência e representação da
causa da cidadania, teremos de concluir que a única forma de voltarem a
participar nas eleições será através da "fórmula" de perfilamento e
definição política inspirada por Prince, o famoso artista da música pop.
Assim, a
"fórmula" de Prince, "O artista conhecido anteriormente como
Prince", será a única possível de perfilamento e apresentação para estes
dois "artistas" politiqueiros, José Sá Fernandes e Helena Roseta. Ambos
conhecidos formalmente como paladinos da independência e cidadania, mas agora
"transformados" por sua opção consciente e neutralizados por António
Costa.
Também, as
graves, destruidoras e alienantes consequências para o património
arquitectónico do trabalho desenvolvido por Manuel Salgado, na sua
pseudo-reabilitação urbana, são visíveis na Baixa pombalina e nas avenidas. Mas
o vereador do Urbanismo tem sido exímio na sistemática perseverança de como tem
"minado" o terreno legislativo. Utilizando-se do argumento de uma
indiscutível necessidade de reforma, desburocratização e aceleração dos processos
de licenciamento, conseguiu uma sintonia e ponte permanentes, uma espécie de
"via verde" para acordo dos "pareceres" na área do
património, com equipa permanente à sua disposição dentro do próprio corpo
institucional do património.
Isto, juntamente
com uma sintonia perfeita com o nebuloso e indefinido projecto subjectivo e
pessoal da nova Direcção-Geral do Património, representado por Elísio
Summavielle, garante-lhe "carta branca" para a destruição sistemática
do património arquitectónico lisboeta, na Baixa e nas avenidas.
Perante as
críticas e solicitações exteriores, António Costa tem-se fechado no seu
"castelo", inexpugável e insensível aos frequentes pedidos de
esclarecimento, tanto dos cidadãos activos como da comunicação social,
interpretando o espaço adquirido pela sua vitória eleitoral como exclusivamente
"seu". Brevemente, o "Lord-Mayor" terá de se aventurar no
exterior, nas "feiras e aldeias" exteriores ao castelo, a fim de
garantir de novo, os votos, indispensáveis para manter o seu "domínio".
Resta assim à
verdadeira cidadania, de livre acesso e abertas a todos cidadãos
verdadeiramente crentes na Cívitas e Civilitas, uma defesa activa do património
e da qualidade de vida em Lisboa. E não é demais voltar a afirmar o princípio:
A cidadania não vai a votos! A cidadania exerce-se!
Historiador de Arquitectura
Sem comentários:
Enviar um comentário