sábado, 19 de julho de 2014

Justiça vs. ex-Dono Disto Tudo

A queda de um “Intocável” …
Ricardo Salgado o ex- DDT ( Dono Disto Tudo )

Justiça vs. ex-Dono Disto Tudo
Por Luís Rosa
publicado em 19 Jul 2014 in (jornal) i online

PGR venceu a síndrome Vale e Azevedo e mandou o DCIAP avançar sobre o BES
O comunicado que ontem a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu ao fim da tarde marca o final do silêncio da justiça sobre o BESgate e confirma que justiça continua a viver a síndrome Vale e Azevedo: só começa a atacar os poderosos quando estes deixam a protecção dos cargos sociais de instituições influentes. Aconteceu com o ex-advogado que só foi detido após sair da liderança do Benfica e voltou a acontecer agora com Ricardo Salgado, o ex-Dono Disto Tudo - tal como foi baptizado pela comunicação social económica, que o bajulou desde que assumiu a liderança do BES, em 1991. Só após Salgado perder todos os cargos sociais no BES (é muito pouco provável que o Banco de Portugal deixe que ele tome assento no futuro Conselho Estratégico) é que a PGR emitiu uma primeira tomada de posição pública mais explícita sobre o BESgate.

O comunicado, contudo, inicia uma nova fase: a investigação criminal. E confirma simbolicamente o que aqui se escreveu ontem neste espaço: caducou a declaração de inocência de que Ricardo Salgado beneficiou no dia 18 de Janeiro de 2013.

Apesar de não se perceberem os cuidados semânticos da instituição liderada por Joana Marques Vidal quando a lei permite a publicitação da abertura de inquéritos-crime, regista-se o facto positivo de a PGR dar nota pública de investigações que já tinham sido abertas anteriormente e que abrangem temas que têm sido noticiados nas últimas semanas aqui no i como noutros órgãos de comunicação social. Não há dúvidas que existe muita matéria criminal para investigar a partir da manipulação da contabilidade da ES International, que já foi confirmada publicamente pelo contabilista Machado Cruz ou os verdadeiros contornos da situação do Banco Espírito Santo Angola (uma história frequentemente mal contada).

A PGR confirmou que ainda não existem queixas- -crime de particulares mas tal questão será inevitável. A forma como o BES e os bancos internacionais da família Espírito Santo venderam títulos de dívida das sociedade do GES está a ser analisada por vários escritórios de advogados em Lisboa e no Porto e vai originar em breve queixas mais graves que aquelas que foram apresentadas contra a gestão de João Rendeiro no caso BPP.


Para o sucesso das investigações ao BESgaste, e tal como aconteceu no caso BCP, será essencial uma estreita colaboração entre a PGR (DCIAP) e os reguladores: Banco de Portugal e Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. Joana Marques Vidal, Carlos Costa e Carlos Tavares têm uma oportunidade de ouro para mostrar que o sucesso na investigação de uma caso muito particular da gestão de Jardim Gonçalves não foi caso único. As dificuldades são duas: o caso BESgate é muito maior e complexo e a família Espírito Santo muito mais influente. Um caso para acompanhar nos próximos anos.

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