Parque de estacionamento no
Príncipe Real será “um elefante numa loja de porcelanas
Grupos de cidadãos uniram-se contra mais um parque subterrâneo no centro de
Lisboa e prometem não baixar os braços
Marisa Soares / 18
jul 2014 / PÚBLICO
A Plataforma
contra o Parque Automóvel, que junta cinco grupos de cidadãos de Lisboa,
manifestou-se ontem contra a construção de um parque de estacionamento
subterrâneo na Praça do Príncipe Real, pedindo à Direcção-Geral do Património
Cultural (DGPC) que reprove o projecto. Caso contrário, avisam, será como
enfiar “um elefante numa loja de porcelana”, com consequências “fatais” para a
zona.
“A DGPC tem todos
os instrumentos legais para dizer não a este parque, e se não o fizer vai ceder
ao interesse privado em detrimento do interesse público”, afirmou Jorge Pinto,
do Grupo dos Amigos do Príncipe Real, numa conferência de imprensa realizada à sombra
dos enormes “braços” do cedro-dobuçaco, um ex-líbris do centenário jardim.
Em causa está a
construção de um parque subterrâneo com formato em U a contornar o jardim, com
300 lugares distribuídos por quatro pisos — mais um do que o previsto na versão
inicial do projecto apresentado em 2001. Na altura, o projecto foi chumbado
pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (actual DGPC) e esbarrou
no protesto de moradores e ambientalistas. Mais tarde, em 2006, o instituto
acabou por emitir um parecer favorável condicionado, mas a obra nunca avançou.
O presidente da
câmara, António Costa, disse em Junho que é “negativo” construir ali o parque,
mas acrescentou que poderá ser “uma mais-valia” caso resolva o problema do
estacionamento de residentes e não ponha em risco o jardim. Esta resposta
“vaga” não satisfez os membros da plataforma, que prometem não baixar os
braços.
Ambientalistas,
urbanistas e arquitectos antecipam “impactos desastrosos” na estrutura dos
edifícios da zona. Receiam, sobretudo, que a obra ponha em causa o Reservatório
da Patriarcal, um núcleo do Aqueduto das Águas Livres (classificado como
Monumento Nacional) que existe no subsolo do jardim. “Há muitos anos desejamos
que seja apresentada a candidatura do Aqueduto a Património da Humanidade da
UNESCO, se o parque avançar será mais um obstáculo”, afirmou Margarida Ruas,
ex- directora do Museu da Água.
A discreta porta
de entrada do reservatório fica no centro do jardim e dá acesso a uma cisterna
octogonal, com capacidade para 880 metros cúbicos, sustentada por dezenas de
pilares de pedra com cerca de dez metros de altura, com arcos de cantaria no
topo. Dali partem as galerias que, no século XIX, levavam água até aos
chafarizes da Baixa e do Bairro Alto.
Os críticos do
projecto consideram que a construção do parque “a um metro” das galerias terá
“efeitos irreversíveis e imprevisíveis”. A DGPC também tem dúvidas sobre o
impacto da construção no aqueduto — foi por isso que chumbou os dois pedidos de
alteração para acrescentar o quarto piso, submetidos pelo promotor a 3 de
Agosto de 2012 e a 14 de Janeiro de 2014.
A plataforma
contra o parque destaca os impactos do empreendimento no jardim, onde existem
sete árvores classificadas. “Em qualquer cidade da Europa, este jardim seria
considerado um monumento”, considera Margarida Cancela d’Abreu, presidente da
Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas. A construção de uma “cofragem
de betão” em torno daquela área verde, acrescenta a arquitecta paisagista, vai
alterar o sistema de drenagem e levar à morte das árvores — muitas já
fragilizadas com as obras de requalificação do jardim realizadas pela câmara em
2009
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