Câmara de Lisboa quer vender nove
edifícios e quatro terrenos para construção
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO 28/07/2014 - PÚBLICO
Quartel de bombeiros do Rossio, Palácio Marquês de Tancos, prédio destinado
a um centro social em Campo de Ourique, Palácio Monte Real e edifício da
Livraria Municipal são alguns dos imóveis que a câmara quer vender para
compensar a perda de receitas.
A Assembleia
Municipal de Lisboa deverá votar terça-feira três propostas camarárias
relativas à realização de outras tantas hastas públicas destinadas a vender
nove edifícios, quatro terrenos para construção dispersos pela cidade e uma fracção
de um prédio da Rua do Ouro.
A câmara liderada
por António Costa (PS) pretende encaixar com estas vendas, ainda este ano,
cerca de 37,5 milhões de euros.
Uma quarta hasta
pública, relativa à venda do terreno do quartel de bombeiros contíguo ao Hospital
da Luz, com a qual o executivo pretende realizar mais 15,5 milhões de euros e
que devia também ser votada terça-feira, foi adiada pela mesa da Assembleia
Municipal para depois da aprovação do plano de pormenor da Luz-Benfica.
Para lá destas
operações de venda de património que têm de ser aprovadas pelos deputados
municipais por envolverem bens de valor superior a 485 mil euros (mil vezes o
salário mínimo mensal), a câmara já aprovou o lançamento de hastas públicas
para vender mais seis imóveis, nove fracções e vários terrenos que não precisam
de passar pela assembleia por serem de valor inferior àquele montante. Com
estas transacções a autarquia espera obter mais 7,2 milhões de euros.
Graças às hastas
públicas aprovadas até agora, a câmara pretende atingir um encaixe global de
59,7 milhões de euros, dos quais cerca de 55 milhões deverão ser cobrados até
ao final do ano.
O orçamento
camarário aprovado em Dezembro, apenas com os votos favoráveis da maioria,
prevê no entanto uma receita total de 131,2 milhões de euros com a venda de
património, parte dele proveniente da EPUL — valor que representa 18% do total
das receitas municipais, estimadas em 728,1 milhões de euros.
Apesar da crise e
da situação do mercado imobiliário, a venda de imóveis e terrenos é neste
momento a grande esperança de António Costa para compensar a quebra de receitas
estruturais — nomeadamente do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas
de Imóveis e da derrama sobre os lucros das empresas.
Até este momento,
de acordo com o gabinete do vereador das Finanças, Fernando Medina, o montante
cobrado com este género de operações ficou-se pelos 12,9 milhões de euros, menos de 10% do orçamentado para o
ano inteiro.
A expectativa
camarária de melhorar este panorama passa agora por conseguir uma taxa de
execução razoável das hastas públicas aprovadas este mês e daquelas que estão
ainda em preparação. “A partir de Setembro novas propostas de alienação de
activos não estratégicos serão apresentadas”, afirma o gabinete de Fernando
Medina numa resposta enviada ao PÚBLICO.
Questionado sobre
se ainda mantém a meta dos 131,2 milhões inscrita no orçamento — que alguns
deputados da oposição consideraram “irrealista” na assembleia municipal —
Fernando Medina respondeu: “Mantemos o objectivo, mas adaptaremos o calendário
de alienações às condições do mercado e à evolução da execução orçamental, isto
é, à salvaguarda do interesse patrimonial da CML.”
Entre os prédios
cuja venda a assembleia deverá votar terça-feira encontra-se o quartel dos
bombeiros do Rossio, que deverá ser posto à venda por 1,7 milhões de euros; o
Palácio Marquês de Tancos, onde está a sede da EGEAC (cinco milhões); vários
pisos de um edifício da Rua do Ouro 61, onde está o Banco Santander e para onde
esteve prevista a instalação de todos os serviços do município espalhados pela
Baixa (sete milhões); o Palácio Monte Real, na Rua de São Mamede ao Caldas,
onde estava um serviço da Misericórdia (1,9 milhões); e o edifício da Av. da
República onde funciona a Livraria Municipal (2,2 milhões).
Igualmente posto
à venda por dois milhões de euros será um prédio da Rua Ferreira Borges, em
Campo de Ourique, onde a câmara criou um centro social para crianças e idosos,
cujas obras terminaram há seis anos e que nunca teve qualquer uso.
A “transferência
para os compradores dos encargos” com estes prédios e a “libertação de
situações complexas que obrigam a pesado investimento municipal para resolução”
são alguns dos objectivos que a câmara pretende atingir, independentemente da
receita das vendas.
No que respeita a
terrenos, as hastas públicas previstas incidem sobre dois lotes na Avenida de
Berlim (7,8 milhões), um na Rua Gregório Lopes, em Belém (3,6 milhões) e outro
na Rua Virgílio Correia, em São Domingos de Benfica (1,8 milhões).
O “charme” que António Costa prometeu
Já passaram cinco
anos, mas a promessa de transformar Lisboa na “capital do charme”, então feita
por António Costa, tornou-se apenas uma vaga recordação. A ideia era vender
seis palácios do município, aliviar o aperto financeiro da autarquia com um
encaixe de 12,7 milhões de euros, e dar o pontapé de saída para que os “hotéis
de charme” em que os palácios seriam transformados, e os seus clientes de luxo,
se multiplicassem pela cidade.
Na verdade, nem
essa nem as sucessivas tentativas desde então feitas pela autarquia para
endireitar as suas contas à custa da alienação do seu património, teve qualquer
sucesso.
Em 2009, a crise e a oposição
do PSD fizeram com que apenas um dos seis imóveis em causa, o Palácio Brancamp,
no Príncipe Real, fosse vendido. E mesmo esse, tal como acontece com o Palácio
da Rosa, na Mouraria, que já em 2003 fora vendido para acolher um “hotel de
charme”, continua a não ter qualquer uso hoteleiro.
No ano seguinte a
autarquia voltou a tentar vender um outro dos seis palácios que quis vender, o
Palácio Pancas Palha, mas a hasta pública foi cancelada por falta de
interessados.
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