Candidato
às primárias do PS considera “uma questão instrumental” o tema da consolidação
orçamental ( !?!)
PS: campanha para o troféu sexy
platina
Por Ana Sá Lopes
publicado em 24
Jul
E se fosse Seguro a anunciar uma agenda a 10 anos sem falar de dívida e
finanças?
Imagine-se a
carga de pancadaria que levaria António José Seguro se resolvesse convocar uma
conferência de imprensa sobre uma "convenção" e agenda de 10 anos
para o país e se se recusasse a dizer o que pensa sobre a consolidação
orçamental, o que pensa sobre a reestruturação da dívida e de como sair do
buraco em que estamos, alegando que queria ir às "origens da falta de
competitividade da economia portuguesa". O Largo do Carmo e a cervejaria
da Trindade haveriam de cair estrondosamente, o blogue inventado pelos
assessores de Sócrates no governo faria algumas graçolas de gosto duvidoso, o
Twitter e o Facebook ficariam atordoados de tantos apoiantes de António Costa a
criticarem a "ausência", "a falta de opiniões", a
"hesitação", a "falta de firmeza", a "falta de
projecto para o país" e para o seu problema mais imediato.
Para azar de
muitos desses apoiantes, não foi Seguro a protagonizar a conferência de
imprensa em que o tempo dedicado à questão da dívida foi zero, mas sim o
"homem que tem um projecto", a "alternativa", o dirigente
"decidido". Agora vão manter-se caladinhos, por várias razões: alínea
a) acreditam em António Costa como quem acredita na Virgem Maria e nos seus
milagres a prazo; alínea b) não acreditam muito mas não têm nenhum outro amigo
que seja candidato a primeiro-ministro pelo PS; alínea c) no fundo sempre
souberam que a ausência de respostas de Seguro é a ausência de respostas da
social-democracia europeia em geral, mas o argumento dava jeito para o remover
do cargo de secretário-geral.
Para quem foi tão
festejado por alguns elementos da esquerda do PS, por militantes do Livre e
ainda alguns do futuro partido de Ana Drago que quer "governar" com o
PS de Costa, o candidato a primeiro-ministro não poderia ter tido uma semana
mais extraordinária. A estreita relação com Rui Rio foi suficientemente
exposta, com os dois eventuais protagonistas de um futuro bloco central a
concordarem num pacto de regime a 10 anos. E o discurso do "depois vemos
como tratamos das finanças" faz temer o pior no que respeita a uma
alternativa à austeridade em vigor. Descobrir nos meandros do Tratado Orçamento
qualquer coisa que ajude o país é a ideia de Costa - anunciada na entrevista do
fim-de-semana ao "Público". Convenhamos que é muito pouco e nada
diferente do que tem sido sugerido e anunciado por Seguro. O concurso
"sexy platina" do "Correio da Manhã" ao menos não ilude
ninguém.
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Convenção de Costa deixa de fora dívida e défice
Candidato
às primárias do PS considera “uma questão instrumental” o tema da consolidação
orçamental
Nuno Sá Lourenço
/ 24-7-2014 / PÚBLICO
O candidato às
primárias do PS António Costa apresentou ontem o programa e os temas que
pretende debater com um conjunto de personalidades “ligadas aos sectores” que
na opinião do autarca de Lisboa serão essenciais para o “desenvolvimento para o
país e para criar as condições para um acordo de concertação social”. Este é o
primeiro de um “conjunto de documentos de natureza programática” que terão
novos desenvolvimentos com a moção para as primárias, a moção de orientação
estratégica ao congresso socialista e, finalmente, o seu programa de Governo.
Mas este primeiro
passo, a que Costa chamou “uma agenda para a década”, não inclui nos nove
painéis definidos qualquer referência às questões do défice, da dívida e da
consolidação orçamental. Em Aveiro, os apoiantes de Costa irão discutir, em vez
disso, Portugal na lusofonia, o território, o mar, a modernização do tecido
empresarial, o emprego, o investimento na ciência, o investimento na cultura, a
modernização do Estado e o reforço da coesão nacional.
Confrontado com
essa ausência, o presidente da Câmara de Lisboa explicou que o papel que
pretende para a convenção é o de colocar o país a “olhar para o futuro”,
focando-se assim na “resolução dos seus problemas estruturais que têm bloqueado
o desenvolvimento [nacional] e a convergência com a UE”. “Não podemos viver
limitados ao dia de amanhã”, rematou. Para António Costa, a consolidação
orçamental e a dívida portuguesa é “uma questão instrumental” que implica
medidas de “curto prazo”. Não cabe, por isso, no debate sobre a “visão
estratégica” que pretende definir para o país. “Nenhum país se pode mobilizar
em torno dos objectivos de amanhã”, insistiu.
A ausência de um
painel sobre a Europa foi igualmente justificado com a ideia de que este tema
se incluía nos temas das “opções de legislatura”. E que, assim, “constará” —
tal como no caso da dívida, do défice e da consolidação orçamental — da moção
às primárias que fará o “desenvolvimento de um programa económico”.
Ainda sem ser uma
lista definitiva, Costa apresentou uma boa parte dos nomes que vão participar
nos painéis da sua convenção Mobilizar Portugal. Boaventura Sousa Santos vai
debater Portugal na lusofonia. No debate sobre o mar foi anunciado o nome do
antigo chefe de Estado-Maior da Armada, o almirante Melo Gomes. O economista
Luís Filipe Costa estará entre os empresários que vão falar sobre a
modernização do tecido empresarial. O professor universitário Miguel Cabrita
vai debater o emprego. O ex-reitor da Universidade do Algarve Adriano Pimpão
discutirá com outros a modernização do Estado. Costa destacou o facto de os
convidados virem da sociedade civil, considerando ser essa uma condição
necessária para “mobilizar o conjunto da sociedade civil” para o debate sobre a
sua Agenda para Uma Década. Esta pretende vir a ser o embrião de um acordo de
concertação e até documento de trabalho para uma negociação com “outras forças
políticas”.
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