quinta-feira, 24 de julho de 2014

Convenção de Costa deixa de fora dívida e défice


Candidato às primárias do PS considera “uma questão instrumental” o tema da consolidação orçamental ( !?!)
 
"Imagine-se a carga de pancadaria que levaria António José Seguro se resolvesse convocar uma conferência de imprensa sobre uma "convenção" e agenda de 10 anos para o país e se se recusasse a dizer o que pensa sobre a consolidação orçamental, o que pensa sobre a reestruturação da dívida e de como sair do buraco em que estamos, alegando que queria ir às "origens da falta de competitividade da economia portuguesa". O Largo do Carmo e a cervejaria da Trindade haveriam de cair estrondosamente, o blogue inventado pelos assessores de Sócrates no governo faria algumas graçolas de gosto duvidoso, o Twitter e o Facebook ficariam atordoados de tantos apoiantes de António Costa a criticarem a "ausência", "a falta de opiniões", a "hesitação", a "falta de firmeza", a "falta de projecto para o país" e para o seu problema mais imediato.
( ... ) Para quem foi tão festejado por alguns elementos da esquerda do PS, por militantes do Livre e ainda alguns do futuro partido de Ana Drago que quer "governar" com o PS de Costa, o candidato a primeiro-ministro não poderia ter tido uma semana mais extraordinária. A estreita relação com Rui Rio foi suficientemente exposta, com os dois eventuais protagonistas de um futuro bloco central a concordarem num pacto de regime a 10 anos. E o discurso do "depois vemos como tratamos das finanças" faz temer o pior no que respeita a uma alternativa à austeridade em vigor. Descobrir nos meandros do Tratado Orçamento qualquer coisa que ajude o país é a ideia de Costa - anunciada na entrevista do fim-de-semana ao "Público". Convenhamos que é muito pouco e nada diferente do que tem sido sugerido e anunciado por Seguro. O concurso "sexy platina" do "Correio da Manhã" ao menos não ilude ninguém."
 Ana Sá Lopes
 24 Jul 2014 in (jornal) i online
PS: campanha para o troféu sexy platina

Por Ana Sá Lopes
publicado em 24 Jul 2014 in (jornal) i online
E se fosse Seguro a anunciar uma agenda a 10 anos sem falar de dívida e finanças?

Imagine-se a carga de pancadaria que levaria António José Seguro se resolvesse convocar uma conferência de imprensa sobre uma "convenção" e agenda de 10 anos para o país e se se recusasse a dizer o que pensa sobre a consolidação orçamental, o que pensa sobre a reestruturação da dívida e de como sair do buraco em que estamos, alegando que queria ir às "origens da falta de competitividade da economia portuguesa". O Largo do Carmo e a cervejaria da Trindade haveriam de cair estrondosamente, o blogue inventado pelos assessores de Sócrates no governo faria algumas graçolas de gosto duvidoso, o Twitter e o Facebook ficariam atordoados de tantos apoiantes de António Costa a criticarem a "ausência", "a falta de opiniões", a "hesitação", a "falta de firmeza", a "falta de projecto para o país" e para o seu problema mais imediato.

Para azar de muitos desses apoiantes, não foi Seguro a protagonizar a conferência de imprensa em que o tempo dedicado à questão da dívida foi zero, mas sim o "homem que tem um projecto", a "alternativa", o dirigente "decidido". Agora vão manter-se caladinhos, por várias razões: alínea a) acreditam em António Costa como quem acredita na Virgem Maria e nos seus milagres a prazo; alínea b) não acreditam muito mas não têm nenhum outro amigo que seja candidato a primeiro-ministro pelo PS; alínea c) no fundo sempre souberam que a ausência de respostas de Seguro é a ausência de respostas da social-democracia europeia em geral, mas o argumento dava jeito para o remover do cargo de secretário-geral.

Para quem foi tão festejado por alguns elementos da esquerda do PS, por militantes do Livre e ainda alguns do futuro partido de Ana Drago que quer "governar" com o PS de Costa, o candidato a primeiro-ministro não poderia ter tido uma semana mais extraordinária. A estreita relação com Rui Rio foi suficientemente exposta, com os dois eventuais protagonistas de um futuro bloco central a concordarem num pacto de regime a 10 anos. E o discurso do "depois vemos como tratamos das finanças" faz temer o pior no que respeita a uma alternativa à austeridade em vigor. Descobrir nos meandros do Tratado Orçamento qualquer coisa que ajude o país é a ideia de Costa - anunciada na entrevista do fim-de-semana ao "Público". Convenhamos que é muito pouco e nada diferente do que tem sido sugerido e anunciado por Seguro. O concurso "sexy platina" do "Correio da Manhã" ao menos não ilude ninguém.
Convenção de Costa deixa de fora dívida e défice

Candidato às primárias do PS considera “uma questão instrumental” o tema da consolidação orçamental 
Nuno Sá Lourenço / 24-7-2014 / PÚBLICO

O candidato às primárias do PS António Costa apresentou ontem o programa e os temas que pretende debater com um conjunto de personalidades “ligadas aos sectores” que na opinião do autarca de Lisboa serão essenciais para o “desenvolvimento para o país e para criar as condições para um acordo de concertação social”. Este é o primeiro de um “conjunto de documentos de natureza programática” que terão novos desenvolvimentos com a moção para as primárias, a moção de orientação estratégica ao congresso socialista e, finalmente, o seu programa de Governo.
Mas este primeiro passo, a que Costa chamou “uma agenda para a década”, não inclui nos nove painéis definidos qualquer referência às questões do défice, da dívida e da consolidação orçamental. Em Aveiro, os apoiantes de Costa irão discutir, em vez disso, Portugal na lusofonia, o território, o mar, a modernização do tecido empresarial, o emprego, o investimento na ciência, o investimento na cultura, a modernização do Estado e o reforço da coesão nacional.
Confrontado com essa ausência, o presidente da Câmara de Lisboa explicou que o papel que pretende para a convenção é o de colocar o país a “olhar para o futuro”, focando-se assim na “resolução dos seus problemas estruturais que têm bloqueado o desenvolvimento [nacional] e a convergência com a UE”. “Não podemos viver limitados ao dia de amanhã”, rematou. Para António Costa, a consolidação orçamental e a dívida portuguesa é “uma questão instrumental” que implica medidas de “curto prazo”. Não cabe, por isso, no debate sobre a “visão estratégica” que pretende definir para o país. “Nenhum país se pode mobilizar em torno dos objectivos de amanhã”, insistiu.
A ausência de um painel sobre a Europa foi igualmente justificado com a ideia de que este tema se incluía nos temas das “opções de legislatura”. E que, assim, “constará” — tal como no caso da dívida, do défice e da consolidação orçamental — da moção às primárias que fará o “desenvolvimento de um programa económico”.

Ainda sem ser uma lista definitiva, Costa apresentou uma boa parte dos nomes que vão participar nos painéis da sua convenção Mobilizar Portugal. Boaventura Sousa Santos vai debater Portugal na lusofonia. No debate sobre o mar foi anunciado o nome do antigo chefe de Estado-Maior da Armada, o almirante Melo Gomes. O economista Luís Filipe Costa estará entre os empresários que vão falar sobre a modernização do tecido empresarial. O professor universitário Miguel Cabrita vai debater o emprego. O ex-reitor da Universidade do Algarve Adriano Pimpão discutirá com outros a modernização do Estado. Costa destacou o facto de os convidados virem da sociedade civil, considerando ser essa uma condição necessária para “mobilizar o conjunto da sociedade civil” para o debate sobre a sua Agenda para Uma Década. Esta pretende vir a ser o embrião de um acordo de concertação e até documento de trabalho para uma negociação com “outras forças políticas”.

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