As palavras decisivas de Merkel
A líder alemã falou e por cá a relativa letargia à volta do BES acabou
Por mais que se queira, não se consegue dissociar a intervenção do Banco de
Portugal no BES ocorrida este fim-de-semana das palavras da chanceler alemã.
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 15
Jul 2014 – in (jornal) i online
Sexta-feira, com
as bolsas fechadas, Merkel falou do banco português sem o referir
explicitamente, da fragilidade do euro que o caso mostrava e dos perigos de
aliviar a austeridade. Foi o suficiente para acelerar uma série de coisas.
Enquanto a chanceler via no Brasil a sua Alemanha ganhar a Copa, em Lisboa o
Banco de Portugal pressionava e a administração do BES reunia-se de emergência
para cooptar três administradores. Os nomes de dois já estavam indicados, há
demasiado tempo se considerarmos que estão em causa questões de dinheiro.
Merkel foi portanto decisiva, pois as circunstâncias oito dias antes justificariam
exactamente a mesma atitude por parte de Carlos Costa.
Como era de
esperar, o dia de ontem foi ainda muito turbulento para o BES, e para que as
coisas melhorem será preciso muito trabalho e reconquistar muita confiança
desbaratada. A tarefa essencial será pôr às claras a extensão dos contágios do
grupo ao banco, um perigo que todas as entidades oficiais garantiam não existir
em termos ameaçadores, até que as agências de rating (sempre elas) deram cabo
do discurso. Na verdade, a multiplicação de declarações relativamente à solidez
do BES não evitou a queda e o processo de especulação em que uns ganharam e
outros perderam, enquanto a família cedia de uma assentada 5% do BES para poder
acudir às empresas dos seus ramos. Quanto ao banco, a principal interrogação é
saber se vai mesmo ter de recorrer aos dinheiros públicos, como fizeram o BPI e
o BCP.
Abstraindo-se do
banco e olhando só para o Grupo Espírito Santo, alguns especialistas mostram-se
entretanto confiantes de que a situação seja superada por via do apoio à
família pelos mesmos financeiros que ajudaram a recomprar o banco na fase da
privatização. Um desses especialistas dizia com ironia que, se for possível
regularizar tudo em dólares, o assunto se resolve num ápice, pois o que mais
existe nesta altura é quem detenha divisas americanas e não saiba onde
aplicá-las. Fica a nota.
Apesar dos
reparos assinalados quanto a alguma morosidade face a uma situação explosiva,
deve-se considerar positivo o procedimento do Banco de Portugal e do Estado
neste processo. Os novos gestores e o chairman anunciado têm credibilidade
profissional e estão cobertos politicamente pelos partidos da influência.
O CDS aceitou sem
alarde a solução, o PS abandonou a hostilidade inicial, o governo colaborou com
o Banco de Portugal e, naturalmente, o nome de Vítor Bento há-de ter o assentimento
tácito de Cavaco Silva.
Tudo isto
responsabiliza e envolve muita gente, mas espera-se que o consenso encontrado
permita de facto poupar os contribuintes portugueses a mais um desastre financeiro.
O próximo episódio da saga é já hoje, quando se souber se o grupo Espírito
Santo consegue ou não pagar a dívida da Rioforte à PT, qualquer coisa como 900
milhões de euros.
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