Presidenciais: conversa fora de
tempo
Por Eduardo
Oliveira Silva
publicado em 22
Jul 2014 in
(jornal) i online
Dá jeito falar da corrida a Belém para evitar a discussão de problemas e
projectos políticos concretos
Guterres,
Marcelo, Santana, Rio, Marinho e Pinto, Jerónimo, Louçã? Tanto podem ser estes
como outros ainda os candidatos à Presidência da República, e, verdade se diga,
alguns têm feito muito para não ser esquecidos e poderem entrar na corrida, nem
que seja pela vã glória de perder, tendo como contrapartida o suposto mérito de
representar um quadrante político, como se ele não se diluísse no dia a seguir
às eleições.
A verdade é que a
antecipação para esta altura da discussão dos nomes dos putativos candidatos a
Belém (entre os quais, pelos apoios e elogios internacionais que está a
granjear, principalmente na Alemanha, bem poderia constar Carlos Costa, actual
governador do Banco de Portugal) demonstra duas coisas: a necessidade táctica
geral de não discutir a verdadeira situação do país e a ausência de políticas
racionais que não se limitem ao paradigma de cumprir cegamente ou romper
bruscamente os compromissos de austeridade assumidos com a troika.
Esta tentação
está presente especialmente nos partidos do arco da governação. No PS, António
Costa fica-se por afirmações genéricas e nada adianta de concreto quanto a
propostas de governação, estando centrado em ganhar as eleições internas no
partido para depois partir para a conquista das legislativas, sempre sem dar
pormenores sobre o que pensa fazer. Para ele, como para Seguro, a questão
presidencial vem a calhar, embora o actual secretário-geral não tenha
conseguido colar-se tão rapidamente a Guterres como o autarca lisboeta.
Do lado da
maioria, o panorama é diferente porque habilmente Passos Coelho não se
compromete com nada nem com ninguém, mas manda uns recados por pessoas
interpostas, enquanto os eventuais candidatos se posicionam na grelha de
partida dividindo o PSD. Portas segue a mesma bitola. Ambos esfregam as mãos de
contentamento e alimentam indirectamente as polémicas porque enquanto se fala
do PS e dos candidatos a Belém esquece- -se o governo e a catástrofe social em
curso.
Na verdade,
tirando os posicionamentos individuais e legítimos de cada um dos eventuais
candidatos, seria bem mais importante que a discussão política se centrasse na
realidade concreta do país e do que há para fazer com urgência. Bem se poderiam
estar já a discutir publicamente propostas para as legislativas que ocorrerão
meses antes das presidenciais. Em seu abono, diga-se que esse até era o plano
de Seguro antes de ser desafiado por António Costa.
Como o calendário
tem definido que primeiro há legislativas e depois presidenciais, está bom de
ver que, tanto do lado da maioria como das oposições, qualquer dos actuais
dirigentes partidários (mesmo o próximo vencedor da pugna do PS) pode ser
substituído se perder as legislativas. Basta isso para que as decisões sobre
candidatos passem a depender de outros dirigentes, eventualmente com ideias e
objectivos diferentes. O calendário real revela bem muito da inutilidade
substancial da discussão actual do tema. Neste momento trata-se de um ruído
inoportuno, até mesmo para os interessados. Basicamente, só é bom para quem
quer fugir à discussão do quotidiano concreto e das soluções de futuro que
possam existir, num momento em que estamos bem pior do que alguns apregoam.
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