Exame às contas do BES pode
determinar novos reforços de capital
CRISTINA FERREIRA
15/07/2014 - PÚBLICO
ESFG vendeu 4,99% do capital do banco com desconto de 24% face à cotação de
fecho de ontem.
Uma das primeiras
medidas da nova administração do Banco Espírito Santo (BES), desde ontem
liderada por Vítor Bento, passa por pedir um exame completo às contas da
instituição, o que poderá determinar a necessidade de novos reforços de capital
e, depois, a dimensão e a natureza das operações: ou por via pública ou mista.
O BES tem desde
ontem um novo presidente executivo, que resulta do afastamento de Ricardo
Salgado, que sai por pressão do Banco de Portugal após ter estado 23 anos à
frente da instituição financeira.
Vítor Bento, de
60 anos, tem pela frente vários desafios. Um deles é assegurar que as contas
certificadas pela equipa de Salgado estão certas. Na quinta-feira passada, por
imposição das autoridades, o BES emitiu um comunicado, já perto da meia-noite,
onde revelou que tinha revisto em alta o valor da exposição que tinha ao Grupo
Espírito Santo (GES) e empresas relacionadas
(como a Escom, que tem negócios em Angola e está em processo de venda).
O banco, no
entanto, não deu por adquirida a informação veiculada através da Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários. Ou seja, a equipa ainda liderada por Ricardo
Salgado admitiu que os números podem vir a ser alterados quando for divulgado o
plano de reestruturação do GES, que integra, no seu perímetro, várias empresas
com graves dificuldades financeiras.
Em cima da mesa
da nova gestão do banco estão, por isso, vários cenários e um deles passa por
um aumento de capital para fazer face a eventuais insuficiências que venham a
ser registadas. A entrada de novos accionistas é uma das possibilidades,
comentando-se no mercado que um dos novos investidores pode vir do Brasil – o
banco BTG Pactual, cujo dono, André Esteves, comprou há mais de um ano 80% do
capital da Quinta da Romaneira, um dos ícones do vinho do Porto, no Douro.
Uma fonte do PÚBLICO
ligada à bolsa admite que, no mínimo, o BES possa ter que reforçar o capital em
2000 milhões de euros. Um caminho que o Citigroup, que adquiriu acções no
último aumento, considerou que, no pior dos cenários, implicaria 4200 milhões
de euros.
Esta possibilidade
tem sido, no entanto, considerada mera especulação pelas autoridades. O Banco
de Portugal já veio considerar que o BES está “sentado” em almofadas de 2100
milhões de euros, quadro confortável para enfrentar perdas potenciais e manter
rácios acima dos 9%. Ou seja, para o supervisor, os depositantes não correm
riscos.
Qualquer
iniciativa de reforço do capital não terá carácter imediato. No caso de recurso
a fundos estatais, isso exigirá o cumprimento, por parte do BES, de critérios
muito estritos segundo as mais recentes orientações europeias. Poderia, no
entanto, ajudar a formar um “dique” para conter a turbulência que rodeia,
actualmente, os títulos do banco.
Recorde-se que o
novo responsável pela área financeira do BES, João Moreira Rato, tem
experiência de banca foi até agora o presidente do instituto que gere a dívida
pública portuguesa (IGCP), o que lhe permitiu criar canais directos de
comunicações com grandes investidores financeiros.
O reforço de
capital exige o apoio dos accionistas e, entre eles, o da Espírito Santo
Financial Group (ESFG) que possui 20,1% do banco, mas cujo activo está sob
ameaça no caso de a sociedade que controla a Espírito Santo Financial Goup, a
Espírito Santo Internacional (ESI), entrar em situação falência.
A ESFG pediu
suspensão da cotação na quinta-feira passada e até ontem não tinha regressado à
negociação em bolsa. Mas emitiu ontem um comunicado onde confirma a venda de
uma fatia de capital de 4,99% do BES para pagamento de um crédito de 100
milhões de euros que tinha pedido para acorrer ao aumento de capital do banco. O
direito foi exercido pelo banco japonês Nomura, embora a sociedade não o
refira.
Num segundo
comunicado, a Espírito Santo informa que a venda foi feita a 0,34 euros por
acção, ou seja, com um desconto de 24,4% face à cotação de fecho de ontem das
acções do banco – 0,45 euros por título.
Analistas
dividem-se sobre o impacto que esta venda pode vir a ter na evolução da cotação
do BES. Há quem defenda que pode forçar novas descidas até ao valor de venda
dos quase 5% e também quem sustente que a compra mostra que há investidores
dispostos a assumir risco no BES, e que o interesse poderá ir além dos cerca de
5% agora transaccionados. Esta expectativa pode travar
maiores desvalorizações.
Sem comentários:
Enviar um comentário