Há cada vez mais situações de
‘isolamento e pobreza’ entre os emigrantes portugueses
Relatório da Emigração 2013 aponta a “emigração de famílias inteiras” e a
desadequação das habilitações académicas
Parlamento / Natália Faria / 23-7-2014 / PÚBLICO
Relatório aponta a migração de “um significativo número de quadros com
qualificações académicas superiores”, a par “de famílias inteiras”
Entre os 2,3
milhões de portugueses emigrados encontram-se “casos de sucesso”, mas também, e
cada vez mais, “situações graves de isolamento e de pobreza” que é preciso
combater, segundo o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José
Cesário.
Na apresentação
que fez ontem, no Parlamento, do relatório da emigração relativo a 2013,
Cesário adiantou que em 2012 deverão ter saído de Portugal “mais de 95 mil”
portugueses”. Na análise ao actual fenómeno migratório, o relatório aponta a
migração de “um significativo número de quadros com qualificações académicas
superiores”, a par da “emigração de famílias inteiras, incluindo um número
significativo de crianças em idade escolar”. A opção por deixar Portugal foi
também seguida por um número crescente de “pessoas com idades mais avançadas e
por vezes com empregos duradouros em Portugal”, mas “com dificuldades em
cumprir os compromissos assumidos”.
Acresce que
muitos dos que emigraram recentemente esbarraram numa dificuldade à chegada aos
países de origem e que consiste na “desadequação de muitas habilitações
académicas obtidas em Portugal relativamente à realidade do actual mercado de
trabalho”, segundo se lê naquele que é o primeiro relatório sobre a emigração
actual desde a aprovação, há um ano, pela Assembleia da República de uma
resolução que pedia relatórios anuais sobre esta matéria.
Os 2,3 milhões de
portugueses emigrados pelo mundo (contando com os descendentes directos destes
emigrantes, a população de origem portuguesa nos países da emigração
ultrapassará os cinco milhões) fazem com que Portugal seja o país da União
Europeia com maior emigração. “A população portuguesa emigrada representa hoje
mais de um quinto da sua população residente e tem crescido a ritmo superior a
esta nas últimas décadas”, observa José Cesário, para confirmar, de seguida,
aquilo que já se sabia: enquanto as comunidades portuguesas radicadas no
Brasil, EUA e Canadá têm vindo a diminuir e a envelhecer, destinos como
Alemanha, França e Luxemburgo têm assistido a uma retoma da emigração
portuguesa nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a Suíça, mas sobretudo o Reino
Unido, têm vindo a afirmar-se como principais destinos dos fluxos emigratórios
portugueses mais recentes — só no Reino Unido, entraram em 2012 mais de 20 mil
portugueses.
Centenas de
explorados
No relatório,
José Cesário reporta 28 casos de exploração laboral que chegaram ao seu
gabinete em 2013, envolvendo centenas de emigrantes portugueses em países tão
diversos como Bélgica, Angola, Holanda, França e Alemanha, entre outros.
Recrutamentos suspeitos, não pagamento de horas extras e dos salários
acordados, violação dos limites máximos do período normal de trabalho, alojamento
em condições insalubres e também agressões a trabalhadores portugueses, como a
ocorrida em Março aos portugueses que trabalhavam em Berlim, na construção
civil, compõem o leque de queixas.
Entre os casos
reportados, destaca-se, pelo número de emigrantes afectados, o caso de 106
portugueses que trabalhavam na construção dos túneis da cidade de Birmingham,
no Reino Unido, que foram ameaçados quando reclamaram o pagamento da
remuneração devida e dinheiro para se alimentarem. Em França, vários portugueses
que trabalhavam nas vinhas de Narbonne, também se queixaram de estar a receber
um salário abaixo do salário mínimo francês, sendo obrigados a trabalhar mais
de 10 horas por dia, sem direito a dias de descanso. Em Novembro, na Holanda,
70 trabalhadores portugueses que ajudavam a construir o túnel de uma
auto-estrada em Maastricht estavam a receber metade daquilo a que tinham
direito, e, além disso, eram obrigados a pagar valores muito elevados para
alojamento e transporte.
Accionados os
mecanismos legais, as autoridades constataram que, em muitos daqueles casos,
“as empresas não procederam à comunicação obrigatória do destacamento de
trabalhadores, não declararam os trabalhadores junto da Segurança Social, não
celebraram contrato escrito, nem fizeram seguro para doença ou acidentes de
trabalho”.
“Com o aumento do
fluxo emigratório, aumentaram igualmente os casos de irregularidade e de
exploração de mão-de-obra”, insistem os autores do relatório, apontando as
campanhas de esclarecimento como a melhor forma de prevenir e combater o
problema.
Portugueses emigram mais e vivem
entre sucesso e pobreza no estrangeiro
LUSA 22/07/2014 -
PÚBLICO
Secretário de Estado das Comunidades apresenta Relatório da Emigração 2013
na Assembleia da República
Os mais de 2,3
milhões de portugueses emigrados, número que tem aumentado, vivem hoje
"casos de sucesso", mas também "situações de pobreza",
reconhece o Governo, destacando ainda "a migração de um significativo
número de quadros".
No Relatório da
Emigração relativo a 2013, que o secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas apresenta esta terça-feira ao Parlamento, refere-se que "as
migrações implicam grandes sucessos, mas igualmente grandes dramas, a cujo
debate" o Governo admite não poder "fugir".
Realçando que se
registam hoje "cada vez mais casos de sucesso" de portugueses no
exterior, o Governo constata ser "igualmente verdade" que se
verificam "situações graves de isolamento e de pobreza", que é
"necessário combater".
O Governo
confirma que, desde 2010, a
emigração tem aumentado "muito rapidamente", adiantando que em 2012
deverão ter saído de Portugal "mais de 95 mil" pessoas.
Reconhecendo que
é preciso debater este estado de coisas, o Governo insiste, porém, no
"imperativo estratégico da recuperação económica", que vê como
"a única forma" de garantir "o regresso de muitos dos que
saíram", incluindo dos "muitos quadros indispensáveis" ao país.
O relatório
assume que o fenómeno da emigração tem hoje "características
substancialmente diferentes das que se verificaram anteriormente", entre
as quais "a migração de um significativo número de quadros com
qualificações académicas superiores" e "de famílias inteiras,
incluindo um número significativo de crianças em idade escolar", bem como
"de pessoas com idades mais avançadas e por vezes com empregos duradouros
em Portugal, em resultado de dificuldades para cumprirem compromissos
estabelecidos".
Os portugueses
emigrados estão, por vezes, a trabalhar em funções para as quais têm
habilitações académicas desadequadas, observa o documento, que assinala também
"a mobilidade constante de muitos trabalhadores e empresários", na
construção civil ou nas novas tecnologias.
Segundo o
relatório, a tendência de emigração está a ter maior impacto nas zonas urbanas,
especialmente na Grande Lisboa e, além dos "destinos tradicionais",
os portugueses estão agora a optar por novos lugares, situados "nos mais
variados pontos do mundo".
O Governo refere
"três conjuntos de países de emigração". Brasil, Canadá, Estados
Unidos e Venezuela acolhem emigrantes em "grande volume", mas
trata-se de populações "envelhecidas e em declínio", pois actualmente
registam uma "redução substancial" na chegada de novos portugueses.
Países como
Alemanha, França e Luxemburgo, "com grandes populações portuguesas
emigradas envelhecidas, mas em crescimento", têm registado "uma
retoma" desta emigração.
Por último, surge
"um conjunto de novos países de emigração", que atrai populações
jovens, como é o caso do Reino Unido, "hoje o principal destino" dos
portugueses (50%) e também "o mais importante polo de atracção" dos
mais qualificados.
Ao Reino Unido
juntam-se Angola, com "um número crescente de nacionais, muitas vezes
ligados a empresas", e a Suíça, onde o número de portugueses jovens
continua a crescer.
Hoje, haverá mais
de 2,3 milhões de emigrantes portugueses, número que mais do que duplica se se
acrescentar os seus descendentes. Ou seja, "a população de origem
portuguesa nos países de emigração ultrapassará os cinco milhões, atingindo
mesmo algumas dezenas de milhões se considerarmos os luso-descendentes já
nascidos em sucessivas gerações", contabiliza o relatório.
Esta
"história emigratória acumulada" faz de Portugal "o país da
União Europeia com maior emigração", diz o Governo, apontando que os
emigrantes representam "mais de um quinto" da população residente e
têm "crescido a ritmo superior a esta nas últimas décadas".
Já a percentagem
de imigrantes tem-se mantido "em torno dos cinco por cento da população
residente", mas "abaixo da média" da União Europeia e com
"tendência para decrescer".
Este é o primeiro
relatório desde a aprovação, há um ano, de uma resolução da Assembleia da
República que pedia ao Governo relatórios anuais sobre esta matéria. A
Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas sublinha, no documento, que
este é um "fenómeno muito complexo", sobre o qual várias organizações
produzem dados, o que apresenta "problemas de harmonização".
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