OPINIÃO
Rui Rio e o principal problema de
Portugal
ALBERTO PINTO
NOGUEIRA 30/07/2014 / PÚBLICO
Rui Rio aceita
ser Presidente da República. Condescende ser primeiro-ministro. Sob condições:s
e um “movimento muito grande” lhe pedir; se sentir que muita gente o quer e tem
confiança nele.
A sua dupla
disponibilidade para servir a Nação tem substracto. Fundamentos.
Constata que a
qualidade dos políticos está pelas ruas da amargura. Baixou muito. As pessoas
de “maior envergadura”, de “maior presença na sociedade”, mais “valia
nacional”, ou se afastaram, ou são afastadas da política.
A República sofre
muito com isso. Os medíocres “fazem mal à República”, disse Raul Brandão.
Rui Rio foi
presidente da Câmara do Porto muitos anos. Tantos que se lhe perde a conta. É
um político experimentado. Com provas dadas. Na gestão autárquica e no partido
do Governo.
É injusto meter
Rui Rio naquela teoria política que versa a ideia de que os políticos não
prestam, professam e praticam o oportunismo, o carreirismo, o favoritismo dos
irmãos de partido. Outras “virtudes” que Fernando Seabra sintetizou há dias no
Jornal de Negócios: “a política atrai quem tem capacidade para relações
públicas, jogos de poder e troca de favores”.
Não. Rui Rio é,
reconhecidamente, um homem austero (de austeridade), sóbrio, rigoroso na
contabilidade e contas.
Tão rigoroso e de
vistas largas que deixou o Mercado do Bolhão a cair, escorado e podre. O
Palácio de Cristal de Rosa Mota em ruínas. A Casa da Animação fechada para
obras. A Feira do Livro de quase um século suspensa. O Teatro Rivoli sem
solução. A Casa da Música, projecto cultural que dignifica a cidade e o país,
foi um problema! Rui Rio sempre conviveu muito mal com a cultura!
As questões foram
tantas que foram parar a tribunal. Aí, Rui Rio teve o grande contacto com a
Justiça.
O cronista
Augusto Seabra escreveu no PÚBLICO o artigo “Os dias da Casa”. Casa da Música!
Criticava o presidente que designava de “energúmeno”. Rui Rio moveu
processo-crime ao cronista que foi condenado em 1.ª instância, mas absolvido no
Tribunal da Relação do Porto (TRP). É público que o presidente da Câmara nunca
aceitou o acórdão. A Relação ousara discordar do Sr. Presidente!
A decisão motivou
o cuidado e atenção presidenciais para os assuntos da justiça. Do seu ideário
político, passou a constar a Justiça. Porque esta “é, de longe, o principal
problema de Portugal”. Na sua singularidade, o caso não vai além dos limites do
epifenómeno judiciário. Mas é significativo. O TRP deu prevalência às
liberdades de expressão e crítica do cronista. Rui Rio ficou para sempre
magoado. Com o cronista e com a Justiça.
No centro das suas
preocupações políticas, o ex-presidente da Câmara do Porto coloca sempre a
Justiça.
Coloca bem.
Porque a Justiça é um dos pilares fundamentais da democracia e Estado de
Direito.
Já coloca mal, no
momento em que persiste em ficar-se pela afirmação genérica de que a Justiça é
ineficaz, lenta e está muito desacreditada. A afirmação, só assim, é um vazio
de ideias.
Exige-se muito
mais de um candidato a Belém ou a São Bento.
Rui Rio há muitos
anos se lamenta e queixa da Justiça.
Ouviu-se-lhe
agora uma proposta revolucionária para o "principal problema de
Portugal". O Presidente da República, se for ele, deve também ser o “chefe
da Justiça”. A separação de poderes deve ser banida para sempre.
Os tribunais
devem estar às ordens de Rui Rio.
Procurador-Geral Adjunto
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