DIAS CONTADOS
António, um rapaz de Lisboa
por ALBERTO GONÇALVES in DN online /
20-7-2014
A cada semana,
António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a
riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do
princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso
de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos
e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de
sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas
também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se
comenta sozinha.
Se não se
aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o
investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o
investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é
sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do
euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos
destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato
Donald é um boneco.
Brincadeiras à
parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria
de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na
cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias
desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de
vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito
e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr.
Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito
quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante
do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco,
ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o
jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes
mortais.
Em suma, o Dr.
Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder
do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético
primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do
"depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode
aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr.
Costa, é improvável haver País.
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