Polícias salvaram 245 aves na
maior feira de pássaros do país.
PEDRO SALES DIAS
27/07/2014 - PÚBLICO
PSP e Instituto da Conservação da Natureza fiscalizaram o mercado de aves
no Porto. Pintassilgos, travessos, verdelhões, lugres, serinos e tentilhões
foram devolvidos à liberdade. E sete pessoas foram detidas.
Cinco minutos foi
quanto bastou para que a maior feira de pássaros do país, no Porto, visse
substancialmente diminuído o número de aves à venda. Trinta e dois agentes da
PSP levaram, numa acção relâmpago realizada de manhã cedo, 245 aves que estavam
a ser comercializadas ilegalmente. A operação, neste domingo, acompanhada pelo
PÚBLICO, provocou alvoroço entre as centenas de clientes do mercado improvisado
na Cordoaria e os vendedores ganharam pressa. Alguns deixaram os carros e
fugiram.
Em oito anos, a
Brigada de Protecção Ambiental da PSP do Porto (que existe desde 2006), já
aplicou mais de três milhões de euros em coimas por infracções ambientais,
entre as quais a venda ilegal de aves, derrame de resíduos e poluição
atmosférica. “A PSP tem dado maior atenção a estes crimes que cada vez mais
ocorrem”, disse o chefe daquela brigada, Rui Amaral, naquela que garantiu ser
“a maior feira” do tipo.
“Vim de Águeda de
propósito comprar dois pássaros para oferecer. Já ia embora para apanhar o
comboio e acontece-me isto. E agora?”, lamentava Raul Ribeiro, 64 anos, com
dois tentilhões escondidos num saco. Garantia que era a primeira vez que ali
tinha ido, mas a polícia já o conhece. “É um vendedor. Está cá sempre”, afirmou
o chefe Amaral.
O ardil é
conhecido e usado por muitos naquela feira. Já não convence a PSP que ali
estivera pela última vez em Dezembro. Há muito que os agentes memorizaram as
caras dos vendedores ilegais do mercado que tem também uma parte substancial de
comerciantes com licença do Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF).
Facilmente os
quatro biólogos do ICNF, que acompanharam a operação também seguida pela
Polícia Municipal do Porto, detectaram as ilegalidades. As aves tinham sido
capturadas recentemente na natureza, explicou um dos especialistas, e aqueles
comerciantes não estavam registados no ICNF. Um travesso, ali vendido por seis
euros, custa numa loja autorizada mais de 150 euros.
“Não posso criar
pássaros em casa para os vender?”, perguntava um comerciante à PSP. O ICNF
sustenta que não.
O pânico das aves
que um dos biólogos via numa gaiola era a garantia de que tinham sido apanhadas
na natureza, de outro modo estariam habituadas ao cativeiro. “Muitas morrem de
stress aqui, de tanto tentarem fugir”, dizia um especialista. Viam-se gaiolas mais
pequenas do que uma caixa de cereais. E as minúsculas garras das aves, que
respiravam aflitas, agarravam-se às grades de madeira.
Alguns vendedores
escaparam. Ao primeiro sinal da polícia largaram as gaiolas e os carros onde as
tinham expostas, na mala. A PSP apreendeu três viaturas. “Este carro é meu. Não
estou a vender nada. Não vai levar carro nenhum nem me vai levar a mim. Vocês
têm deveres e eu tenho direitos”, dizia um homem, um velho conhecido da
polícia. Quando vê que a astucia não o salva recorre à ira.
“Aldrabões!”,
chamava aos polícias agitando a feira. Acabou, também por isso, manietado e
detido por injúrias.
Nestas operações
da PSP, diz Rui Amaral, os agentes enfrentam sentimentos contraditórios. Se por
um lado ficam “satisfeitos por conseguirem libertar estas aves”, por outro, há
uma “insatisfação inicial” quando “se detectam aves presas em tão más
condições”.
As que este
domingo tiveram a sorte de se cruzarem com polícias na feira foram soltas pelas
13h00 no Parque Biológico de Gaia. Algumas dezenas, que estavam doentes e não
conseguiam voar, serão tratadas na instituição durante uns dias até voltarem à
liberdade na natureza.
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