Jorge Coelho já recebeu denúncia
de clientelismo na Câmara para apoiar Costa
A guerra está feia dentro do PS. Apoiante de Seguro mandou denúncia sobre
compra de votos na CML. Jorge Coelho já recebeu.
CATARINA FALCÃO /
OBSERVADOR
Há um novo
capítulo na campanha das primárias do PS. Sérgio Lopes Cintra, presidente do
Conselho da Administração da Gebalis, é acusado numa carta de uma apoiante de
Seguro, dirigida a Jorge Coelho, presidente da Comissão Eleitoral, de ter
ameaçado os presidentes de junta de Lisboa para angariarem simpatizantes e
votos para as primárias do PS, “sob pena” de ver a relação entre a sua
freguesia e a Câmara de Lisboa alterada caso isso não acontecesse.
Mas o presidente
do Conselho de Administração da Gebalis desmente e diz que a denúncia é “um
disparate”. Jorge Coelho recebeu a carta à noite, já depois de o Observador ter
publicado a notícia: “Irá ter o tratamento habitual”, garantiu. Os apoiantes de
Costa acusam os de Seguro de promoverem uma campanha para denegrir o candidato
sem olhar a meios.
A dita carta – a que o Observador teve acesso — é assinada
por Susana Santos. E conta uma história de uma reunião promovida por Sérgio
Lopes Cintra, realizada no dia 10 de julho nas instalações da junta de
freguesia de São Domingos de Benfica, com a presença de vários presidentes de
junta socialistas.
Nesta reunião,
diz esse papel de uma apoiante de Seguro, teria sido pedido que angariassem
entre 500 e 1000 simpatizantes cada, incluindo funcionários e avençados das
próprias juntas. Também foi pedido que as ajudas dadas pelas juntas “a
associações, a coletividades, a associações de moradores, a pessoas
individuais” se traduzissem em inscrições de simpatizantes, tal como a
adjudicação de obras por parte das juntas de freguesia a entidades externas.
Os presidentes
(que não exercem o cargo em regime de exclusividade) terão sido incentivados a
tentar angariar simpatizantes no seu local de trabalho, que não a junta. Ter-lhes-à
sido pedido que recorressem às bases de dados que têm das suas freguesias, com
o mesmo objetivo. O presidente da Gebalis teria dito, segundo a denúncia, que
faria o mesmo com a base de dados da empresa municipal, dando como exemplo “a
angariação que ia ser feita junto de funcionários e prestadores de serviços na
Câmara Municipal de Lisboa”. Os presidentes de junta terão sido avisados na
reunião que caso isto não acontecesse, corriam o risco de “o relacionamento
CML/Freguesia se alterar”, segundo se pode ler na denúncia.
Desmentidos e a
outra versão da história
Sérgio Cintra
desmente quaisquer pressões e diz que se trata de “um disparate de alguém que
não sabe do que fala”. “Os cobardes não merecem resposta”, disse ao Observador
o presidente da Gebalis, acrescentado que a situação é “um absurdo
inqualificável”.
Também os
apoiantes de Costa falam de uma “guerra suja” vinda da atual direção do
partido, para “contaminar a campanha e tentar colar António Costa a
procedimentos que não existem e não vão existir”.
Algumas fontes
presentes na reunião que é referida na carta, todas elas apoiantes de António
Costa, garantem ao Observador que o encontro aconteceu, mas sem qualquer tipo
de ameaças. A reunião terá acontecido apenas no âmbito do apoio à candidatura
de António Costa e só com os presidentes de junta que estão do lado do ainda
presidente da Câmara de Lisboa. Sempre “a título pessoal, não institucional”.
Uma destas fontes admite, sim, que foram fixados objetivos para angariar
apoiantes para as primárias.
Esta estratégia
tem sido usada sem reservas por vários eleitos nas listas que Costa apresentou
nas últimas autárquicas para Lisboa. Rute Lima, presidente da Junta dos
Olivais, fez esta semana (dia 15 de julho) um post no Facebook precisamente com
essa intenção: “Todos os meus amigos que queiram contribuir para a eleição de
António Costa como candidato podem contactar-me pelo meu mail pessoal”.
* Este texto foi
alterado e atualizado depois das declarações de Jorge Coelho ao Observador e de
novos contactos feitos com a candidatura de António Costa.
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