Ministério Público e regulador
dos EUA fazem buscas a empresas do GES
Autoridades nacionais estiveram na sede do grupo, onde funciona o conselho
superior que reúne os cinco ramos da família. O regulador financeiro
norte-americano apareceu numa subsidiária do BES em Miami
Cristina Ferreira
/ 24-7-2014 / PÚBLICO
O cerco começou
esta semana a apertar-se à volta dos interesses do Grupo Espírito Santo (GES).
O PÚBLICO apurou que os supervisores financeiros norte-americanos regressaram
ao BES Miami, tudo indica para investigar operações com as subsidiárias do BES
do Panamá e da Venezuela, enquanto o Ministério Público português fez buscas
durante a tarde na sede do grupo, na Rua de São Bernardo, onde funciona o
conselho superior que reúne os cinco ramos da família. Também visitou
sociedades ligadas à família ou empresas que tiveram ou têm relações comerciais
com o GES.
Depois do novelo
começar a ser desfiado surgem as reacções em cadeia. E esta semana houve
intervenções em várias frentes. Ontem, o Ministério Público fez buscas à sede
do GES. Tudo indica que podem ter estado envolvidos nestas averiguações
inspectores das Finanças.
As autoridades
nacionais deslocaram-se ainda a outras empresas não pertencentes à esfera do
GES, mas que têm ou tiveram relações com veículos do grupo familiar e
“visitaram” gestores com potencial conhecimento de movimentos financeiros
envolvendo o grupo ou elementos da família.
No centro da
polémica estão as holdings do grupo: Rioforte, que esta semana viu aprovada a
protecção contra credores. Esta holding é detida a 100% pela Espírito Santo
International (ESI), com sede no Luxemburgo e que também controla 49% da
Espírito Santo Financial Group (ESFG). Esta última, por sua vez, possui 20% das
acções do BES (grande parte hipotecadas). Tudo indica que podem ter estado
envolvidos nestas averiguações inspectores das Finanças. Os porta-vozes da
Rioforte e da ESI garantiram ao PÚBLICO que as duas holdings não estiveram na
mira do Ministério Público.
A acção dos
investigadores nacionais surgiu horas depois de o Tribunal de Comércio do
Luxemburgo aprovar o pedido de gestão controlada apresentado pela ESI, que se
declarou sem condições para pagar as suas dívidas. Também a ESFG, liderada por
Ricardo Salgado, enfrenta problemas que levaram à sua expulsão do PSI 20. A ESFG informou ontem ao
final do dia que a sua exposição ao GES é de 2,35 mil milhões de euros e
revelou ter sido “obrigada” a vender a carteira de clientes do Banque Privée (que
não tem estado a reembolsar os clientes).
A onda de
suspeitas que hoje se abrem sobre aquele que foi durante mais de uma década
considerado o grupo com maior peso político no país já levaram o Ministério
Público a confirmar que está a investigar o GES e que tem vários inquéritos em
curso. Em princípio, se as contas estiverem bem auditadas, as iniciativas dos
inspectores não terão impacto directo no BES, que se prepara para assumir um
prejuízo semestral de mil milhões de euros. Mas tenderão a repercutir-se na sua
reputação.
Do outro lado do
Atlântico, registaram-se terça-feira acções bem mais ruidosas. O regulador
financeiro norte-americano apareceu numa subsidiária do BES, o ES Bank Miami.
Em Julho, o
PÚBLICO noticiou que o departamento da Florida do Federal Deposit Insurance
Corporation (FDIC), a autoridade de fiscalização financeira, esteve no ES Bank
Miami, no âmbito de uma auditoria à governação. Uma fonte do PÚBLICO admite que
possam estar em causa suspeitas de fuga ao fisco, mas também movimentos de
clientes do ES Bank Panamá, mas sem conta aberta no ES Bank Miami, o que
representa um risco para a instituição da Florida.
Uma das medidas
dos reguladores da Florida terá sido convidar um dos administradores do ES Bank
Miami a abandonar as instalações. A informação (não confirmada) é que o visado
terá sido Jorge Espirito Santo, que entretanto já regressou a Portugal. Tal
como o PÚBLICO noticiou no início deste mês, Jorge Espírito Santo integrava em
simultâneo os órgãos sociais do ES Bank Panamá. Também o contabilista do GES,
Machado da Cruz, para quem Ricardo Salgado remeteu as culpas da ocultação de
1,3 mil milhões de euros nas contas da ES Internacional, desempenhou funções no
ES Miami (imobiliário) e em subsidiárias na América Latina.
Para além das
subsidiárias em Miami (e das três sucursais em Nova Iorque, Nassau-Bahamas e
Ilhas Caimão) e no Panamá, o BES tem um banco na Venezuela, o ES Venezuela, com
actividade comercial com Miami, e que também está sob escrutínio das
autoridades norte-americanas.
Na sexta-feira,
ficou a saber-se que o ES Bank Panamá está agora sob controlo do regulador
local, numa decisão que visa “proteger e defender os interesses dos
depositantes e credores da instituição” devido à falta de liquidez e “potencial
insolvência”.
No quadro da
Operação Monte Branco, o Ministério Público investigou doze transferências de
27,3 milhões efectuadas entre Julho de 2009 e Julho de 2011, já depois de ter
começado a “manipulação” das contas das holdings do GES. Os movimentos partiram
do Banco Espírito Santo Angola para contas de empresas com sede no Panamá e
cujos beneficiários serão Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires. Esta
informação já veio divulgada em vários órgãos de comunicação e nunca foi
desmentida.
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