Matança de golfinhos continua no Japão apesar das
críticas internacionais
MARISA SOARES 21/01/2014 – in Público
Na baía de Taiji, pelo menos 30 golfinhos terão sido mortos
para consumo. Outras dezenas são enviados para parques aquáticos.
A cena repete-se anualmente, sempre com os mesmos
protagonistas: centenas de golfinhos são encurralados pelos pescadores na baía
de Taiji, na costa oeste do Japão, apesar do protesto de várias organizações
ambientalistas. Depois de alguns dias presos, os golfinhos têm três destinos
possíveis: ou são libertados no mar, ou são enviados para cativeiro, ou acabam
esquartejados para consumo. Nesta terça-feira, terão morrido pelo menos 30.
Segundo a agência Reuters, pelo menos 200 golfinhos –
incluindo adultos, crias e um golfinho albino, raro, que será mais valioso –
estão presos desde sexta-feira na baía de Taiji. A CNN diz que serão 500, mais
do que é habitual. Com a ajuda de barcos a motor e de redes de pesca, os animais
foram levados para uma zona de águas pouco profundas, onde eram esperados por
pescadores com fatos de mergulho e máscaras de snorkelling. Estes lutaram com
os golfinhos até à exaustão e prenderam-lhes as barbatanas com cordas, para
impedir a fuga.
Antes, os pescadores taparam o acesso à baía com uma lona
para fugir dos olhares de activistas e jornalistas, que tentavam filmar e
fotografar o massacre. Mas o sangue dos animais espalhou-se pela água da baía,
para lá dos limites da lona. “Foi usada uma barra de metal para lhes esfaquear
a espinhal medula e eles [os golfinhos] foram deixados a sangrar, sufocar e
morrer. Depois dos quatro dias traumáticos que passaram presos na enseada da
matança, foram alvo de uma selecção violenta, separados da família, e eventualmente
foram mortos hoje [terça-feira]”, disse à Reuters Melissa Sehgal, da
organização ambientalista Sea Shepherd, que publicou online vídeos da matança.
Ouvido pela CNN, um pescador japonês que pediu o anonimato
disse que o número total de golfinhos destinados a cativeiro ou a consumo seria
“menor do que 100” ,
e que os restantes seriam libertados. Os ambientalistas dizem que pelo menos 50
foram levados para parques aquáticos.
Ódio aos japoneses, avisa Yoko Ono
Esta matança foi já fortemente criticada pela comunidade
internacional. O embaixador do Reino Unido no Japão, Timothy Hitchens, e a
embaixadora dos EUA, Caroline Kennedy, mostraram-se contra esta prática. “O
Reino Unido opõe-se a todas as actividades com golfinhos e botos, que causam
sofrimentos terríveis. Levantamos esta questão regularmente com o Japão”,
declarou Hitchens, num comentário na sua conta de Twitter. Por seu lado,
Caroline Kennedy mostrou-se “profundamente preocupada” com a matança.
Também a artista japonesa Yoko Ono, viúva do cantor John
Lennon, apelou aos pescadores que abandonem esta caça anual. Numa carta
publicada na sua página de Internet, dirigida aos pescadores daquela localidade
da província de Wakayama e ao primeiro-ministro japonês, Ono escreve: “A forma
como insistem numa grande celebração da matança de tantos golfinhos e no rapto
de alguns deles para vender aos zoos e restaurantes, neste tempo tão sensível
politicamente, fará com que as crianças do mundo odeiem os japoneses.”
A captura e matança de golfinhos é uma prática centenária
naquela região e é fortemente defendida pelos moradores e pelas autoridades,
que alegam que aquela não está banida em nenhum tratado internacional e que a
espécie não está em perigo de extinção.
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