Londres deixa de pagar subsídio de renda a imigrantes
europeus desempregados
ANA FONSECA PEREIRA 20/01/2014 – in Público
Depois dos limites aos apoios a quem procura emprego,
Governo britânico anuncia nova medida para desincentivar cidadãos dos países
mais pobres da UE a emigrar para o país.
A partir de Abril, o Reino Unido vai recusar o subsídio de
renda aos cidadãos da União Europeia que estejam desempregados. É a mais
recente peça do puzzle de decretos com que o Governo de David Cameron quer
combater os abusos de quem chega ao país “esperando receber alguma coisa sem
dar nada em troca”, por muitos estudos que se publiquem dizendo que os
imigrantes europeus contribuem mais do que recebem da segurança social.
O anúncio foi feito de novo através dos jornais, num texto
publicado no Daily Mail pelos ministros do Interior, Theresa May, e dos
Assuntos Sociais, Ian Duncan Smith. “Queremos garantir que os imigrantes não
obtêm benefícios indevidos do nosso sistema, esperando ter direito a subsídios
mal chegam”, escrevem, num artigo intitulado A vergonhosa traição, em que acusam
o anterior Governo trabalhista de ter incentivado a vinda de estrangeiros em
detrimento da contratação de britânicos.
Em Novembro, com o debate sobre o fim das restrições na UE
aos trabalhadores da Roménia e Bulgária a assumir contornos de histeria, Cameron
anunciou que os cidadãos comunitários só poderiam aceder às prestações sociais
três meses depois de provarem que residiam no Reino Unido e que não poderiam
receber o subsídio atribuído a quem procura emprego por mais de seis meses, a
menos que tivessem “perspectivas genuínas” de o conseguir. Quem for apanhado a
dormir na rua ou a mendigar será repatriado e não poderá regressar ao país
durante um ano.
As primeiras medidas entraram em vigor em Janeiro e agora
May e Duncan Smith revelam que “a partir de Abril todo este grupo [cidadãos
comunitários sem emprego] deixará de ter direito ao subsídio de renda”,
atribuído a quem está desempregado ou aufere rendimentos baixos, e que equivale
a parte ou à totalidade do aluguer. O jornal Guardian sublinha que a nova regra
não se aplica aos cidadãos britânicos nem da vizinha Irlanda.
Mais do que a medida em causa, em linha com as adoptadas por
outros países do Norte da Europa, é o tom da retórica que salta à vista, um
discurso que se aproxima cada vez mais do usado pelos populistas do Partido da
Independência (UKIP), principal ameaça aos conservadores nas eleições que se
avizinham. Com estas iniciativas, escreveram os ministros, o Governo “mostra
que eles [os imigrantes] têm de contribuir com alguma coisa para a economia” e
que as leis beneficiam “os que trabalham e jogam segundo as regras”.
Um tom que indigna parceiros e a Comissão Europeia, que
acusa Londres de distorcer a realidade. Um estudo recente do University College
de Londres mostrou que os europeus a residir no país recorrem 33% menos às
prestações sociais do que os britânicos; em Outubro um relatório da Comissão
concluiu que os cidadãos comunitários são contribuintes líquidos dos sistemas
de segurança social dos países de acolhimento.
Mas perante a subida nas sondagens do UKIP (um estudo
publicado domingo concluiu que o partido de Nigel Farage é o mais popular entre
as formações britânicas) a deriva promete continuar. Na semana passada, Duncan
Smith, membro da ala mais à direita dos tories, admitiu que os cidadãos
comunitários deveriam trabalhar “um, talvez dois anos no Reino Unido” antes de
poderem aceder às prestações sociais. Farage defende uma moratória de cinco
anos.
Cameron queria ir ainda mais longe, que a UE aceitasse impor
limites à liberdade de circulação de futuros Estados-membros – só depois de
atingirem um determinado PIB per capita seriam levantadas as restrições,
propôs. Parece, no entanto, ter ficado a falar sozinho, escreveu o Financial
Times, que citava, entre outros, o chefe da diplomacia alemã. Frank-Walter
Steinmeier disse que “a Alemanha beneficiou tremendamente” com a liberdade que
leva milhares de jovens dos países do Sul da Europa a ir trabalhar para o país
e “quem questiona [essa liberdade] prejudica a Europa e prejudica a Alemanha”.
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