Sophia vai entrar no Panteão
LUÍS MIGUEL QUEIRÓS e NUNO SÁ LOURENÇO 10/01/2014 – in Público
A Assembleia da República deverá aprovar em breve a
trasladação do corpo de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) para o
Panteão Nacional. A família da escritora já aprovou a resolução e falta apenas
marcar a data da cerimónia, que deverá coincidir com as comemorações dos 40 anos
do 25 de Abril
A escritora Sophia de Mello Breyner Andresen vai entrar no
Panteão Nacional, devendo a cerimónia de trasladação ocorrer no contexto das
comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, mas provavelmente depois dessa data,
mais perto do dia 2 de Julho, quando se cumpre o décimo aniversário da morte da
autora de Poesia, O Nome das Coisas ou Contos Exemplares .
A decisão foi discretamente acordada entre os diversos
grupos parlamentares ainda no final de 2013, e já obteve o acordo da família de
Sophia. O PÚBLICO soube que deverá ser a própria presidente da Assembleia da
República, Assunção Esteves, a levar a proposta ao plenário, o que deverá
suceder nas próximas semanas.
A ideia foi lançada por um artigo de opinião do escritor
José Manuel dos Santos – intitulado “Sophia de Mello Breyner no Panteão
Nacional” –, que saiu na edição de 17 de Novembro do PÚBLICO e motivou os
deputados Marco Perestrello, do PS, e Nuno Encarnação, do PSD, a levar o
projecto ao Parlamento.
Conselheiro cultural dos ex-presidentes da República Mário
Soares e Jorge Sampaio, José Manuel dos Santos recordava no seu artigo que a
poesia da autora e a sua intervenção política eram duas faces de uma mesma
moral, e que “a coragem de Sophia era uma ética e a sua lucidez um compromisso
com o mundo e com os homens que o habitam”. E tendo justamente em conta esta
sua reconhecida dimensão cívica, José Manuel dos Santos sugeria que 2014,
quando “passam dez anos sobra a morte de Sophia e 40 anos sobre a Revolução do
25 de Abril”, seria “a boa data” para que Portugal lhe concedesse “as honras de
Panteão Nacional”.
Obtido o consenso parlamentar e o acordo da família, a
decisão só não terá sido já noticiada porque a recente morte de Eusébio, e a
polémica que se gerou em torno da sua eventual entrada no Panteão Nacional,
terá levado os deputados a entender que seria prudente esperar algum tempo e
não acrescentar o nome de Sophia à controvérsia.
A escritora Maria Andresen, filha de Sophia, confirmou ao
PÚBLICO que foi contactada pela Assembleia, que expôs a questão à família e
que, não tendo havido “objecções de fundo”, esta deu o seu acordo à trasladação
do corpo da escritora. Elogiando o texto de José Manuel dos Santos, Maria
Andresen concorda que este tenha sublinhado a intervenção cívica de Sophia, e
não apenas a importância literária da sua obra. E lembra que a mãe escreveu “o
poema mais bonito sobre o 25 de Abril” que conhece: “Esta é a madrugada que eu
esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do
silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”.
Por todas estas razões, e sublinhando que fala a título
pessoal e que a decisão não lhe cabe, reconhece que “preferia que a cerimónia
fosse no dia 25 de Abril". Também o seu irmão, o escritor e jornalista
Miguel Sousa Tavares, manifestou a mesma preferência, em declarações à rádio
TSF, afirmando ainda que a família se “sentiu honrada com a distinção”.
Já a eventual vizinhança de Eusébio, que em todo o caso
chegaria mais tarde ao Panteão, não perturba nada a filha de Sophia. “A Amália
e o Eusébio eram génios, e acho muito bem que lá estejam; incomodam-me mais
aqueles Presidentes da República”, diz Maria Andresen.
A principal dúvida que subsiste é agora a da data da
cerimónia de trasladação, mas, segundo o PÚBLICO apurou junto de fonte
parlamentar, deverá sempre ocorrer numa data que permita a ligação às
comemorações dos 40 anos do 25 de Abril.
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