Governo vende por mil milhões a Caixa Seguros à chinesa Fosun
CRISTINA FERREIRA 09/01/2014 – in Público
A Fosun pagou mil milhões de euros por 30% do mercado
segurador português (Fidelidade e Multicare) e vai desenvolver uma parceira
estratégica com a CGD, que mantém 15% da Caixa Seguros
O Governo escolheu a sociedade de capital risco chinesa
Fosun International (Xangai, com ligação a Hong Kong) para adquirir 80% da
Caixa Seguros (podendo ir até 85% se os trabalhadores não comprarem as acções
que lhes estão reservadas).
O negócio, envolvendo um terço do mercado segurador
português, foi de mil milhões de euros, mas o encaixe total ascende a quase
1209 milhões de euros, em resultado da distribuição prévia de dividendos de
208,9 milhões de euros. Esta é a terceira privatização realizada pelo actual
executivo liderado por Pedro Passos Coelho a ser entregue a investidores
chineses (Caixa Seguros, EDP, REN) e que no conjunto já renderam ao Estado
cerca de quatro mil milhões de euros.
A oferta da Fosun afastou a entregue pelo fundo de private
equity norte-americano Apollo, também seleccionado pelo Governo para disputar a
fase final do concurso de venda directa da maioria do capital da Caixa Seguros
(nomeadamente a Fidelidade, Multicare, Seguros de Saúde, Cares e Companhia de
Seguros).
“O Conselho de Ministros seleccionou a proposta da Fosun, em
especial no que reporta ao encaixe financeiro, ao projecto estratégico, à
minimização das condicionantes jurídicas e ao contributo para a preservação da
unidade estratégica do grupo segurador", disse o secretário de Estado das
Finanças, Manuel Rodrigues, no final da reunião desta quinta-feira, que aprovou
a operação.
O Governo explicou que a proposta da Fosun “dominou
claramente” quer em termos de valores (mais de 200 milhões da proposta concorrente)
quer de condições, mas não esclareceu quais as vantagens estratégicas para o
Estado português resultantes da entrega de 30% do mercado segurador nacional ao
grupo chinês. Os responsáveis do Ministério das Finanças lembraram, ainda, que
a Fosun “é um dos maiores grupos privados chineses”, para além de ter
experiência no sector segurador, sendo, nomeadamente, parceiro da
norte-americana Prudencial. O secretário de Estado garantiu ainda que o grupo
chinês tencionan expandir as operações da Caixa Seguros na China e em outros
mercados asiáticos.
A escolha da Fosun, em detrimento da Apollo, foi também
reforçada pelas “posições unânimes dos assessores da privatização, a Caixa BI e
o JP Morgan, e pelo parecer favorável da comissão especial de acompanhamento das
privatizações."
Para as Finanças a proposta da Fosun deu maiores garantias
de sustentabilidade comprometendo-se o grupo a ficar na Caixa Seguros por um
período superior (pelo menos 10 anos) aos quatro anos exigidos, algo que os
norte-americanos não admitiam. O Governo continua a justificar a venda da Caixa
Seguros como sendo fruto de uma imposição da troika, ainda que este seja um
ponto que não consta do memorando (que é conhecido) assinado com a UE/BCE/FMI.
Em todo o caso, o produto da privatização destinar-se-á, garantem as
autoridades, a recapitalizar o banco do Estado.
Outra das condições que pesou na decisão de privatizar a
Caixa Seguros a favor da Fosun deveu-se ao facto de este grupo, ao contrário do
que pretendia a Apollo, não ter excluído da negociação a Caixa Poupança
(seguros de capitalização), com cerca de três mil milhões de divida pública
portuguesa .
Os chineses mostraram-se também mais flexíveis a ser
parceiros da CGD na Caixa Seguros, dado que o banco público português se
manterá, com uma posição de 15%, no capital da holding que será dominada pelos
chineses. Recorde-se que uma das imposições do contrato que esteve a ser
negociado dava ao adquirente da Caixa Seguros (e ao vendedor, a CGD)
exclusividade mútua, por 25 anos, na comercialização dos produtos da
Fidelidade, aos balcões do banco estatal.
A venda da Caixa Seguros à Fosun, por mil milhões de euros
(valor sujeito a ajustamento decorrente de variação patrimonial das várias
seguradoras da Caixa Seguros), possibilitou ao Governo anunciar um encaixe
total resultante das várias privatizações (Caixa Seguros, EDP, REN, CTT, Ana)
de 8,1 mil milhões de euros. Isto, apesar do encaixe da venda da Caixa Seguros
se destinar a reforçar os rácios do banco estatal, o vendedor.
Grupo chinês interessado nas seguradoras da CGD encara
outros investimentos em Portugal
LUSA 19/12/2013 – in Público
"Toda a gente me tem dito que Portugal é um país seguro
e receptivo ao investimento chinês", afirmou o vice-presidente e director
executivo do Fosun.
O grupo chinês Fosun, um dos dois candidatos à privatização
das seguradoras da Caixa Geral de Depósitos, manifestou-se nesta quinta-feira
"interessado noutras oportunidades de investimento em Portugal",
nomeadamente nas áreas do turismo e saúde.
"Toda a gente me tem dito que Portugal é um país seguro
e receptivo ao investimento chinês", afirmou à agência Lusa em Pequim o
vice-presidente e director executivo (CEO) do grupo, Liang Xinjun.
Liang Xinjun referia-se aos contactos com responsáveis da China
Three Gorges e de outras grandes empresas chinesas que nos últimos dois anos
investiram em Portugal.
"Sentimo-nos muito confortáveis com Portugal por causa
de Macau. Portugal manteve uma relação muito boa com o Governo e o povo da
China", disse.
Considerado um dos maiores e mais lucrativos consórcios
privados da China, o Fosun Group tem participações em dezenas de empresas de
vários ramos, chinesas e internacionais, entre as quais o Club Mediterranee.
Uma das operações mais mediáticas do grupo, consumada esta
semana, foi a compra de uma conhecida torre de escritórios de Nova Iorque, a
One Chase Manhattan Plaza, por 725 milhões de dólares.
Na passada segunda-feira, o Fosun Group tornou-se também um
dos candidatos à privatização das três seguradoras da Caixa Geral de Depósitos
(Fidelidade, Multicare e Cares), competindo com os norte-americanos da Apollo
Management International.
Naquela que é a sua primeira entrevista a um órgão de
comunicação português, Liang Xinjun disse que o grupo fez "uma oferta bastante
atractiva", mas não precisou o montante envolvido.
"Será o nosso maior investimento de sempre na área dos
seguros", afirmou.
O Fosun Group é accionista de três companhias de seguros,
entre as quais a PeakRe, de Hong Kong, na qual detêm 85% do capital.
Em declarações à Lusa, Liang Xinjun realçou também que o
grupo Fosun tem "grande experiência em questões relacionadas com
reestruturação de empresas estatais", tendo já participado em 18 processos
do género.
"É uma experiência que pode ajudar as empresas
portuguesas (...) Podemos, de facto, acrescentar valor à Caixa-Seguros",
disse.
Liang Xinjun disse estar "confiante" quanto ao
sucesso da proposta do Fosun Group e congratulou-se com "a boa
comunicação" que tem tido com o Governo português e com os responsáveis
por este processo de privatização.
"Estamos dispostos a investir muito mais em Portugal.
Há muito boas empresas, serviços e produtos em Portugal", afirmou.
"Esperamos ganhar, mas mesmo se não ganharmos,
continuaremos a acompanhar de perto outras oportunidades de investimento em
Portugal", acrescentou.
O Fosun Group é também um dos principais accionistas da
maior agência de viagens da China, um país que deverá tornar-se este ano o
primeiro emissor mundial de turistas (cerca de 100 milhões).
"Podemos encorajar mais turistas chineses a visitar
Portugal", referiu.
Sediado em Xangai, a maior e mais cosmopolita chinesa, o
Fosun Group detem igualmente participações em empresas das áreas da saúde,
farmácia, cuidados com a terceira idade, distribuição, joalharia e media:
"Temos interesse em todas as indústrias ligadas ao estilo de vida da
classe média".
"Dentro de cinco a oito anos, 30 a 35% da população chinesa
(cerca de 400 milhões) pertencerão à classe média. Será a maior classe média do
mundo", salientou.
Liang Xinjun, 45 anos, formado em biotecnologia, foi um dos
fundadores do Fosun Group, juntamente com o presidente, Guo Guangchang, e os
outros membros do núcleo dirigente do consórcio, incluindo o outro
vice-presidente, Wang Qunbin, que foi a Lisboa entregar a proposta para a
privatização da Caixa-Seguros.
"Começámos em 1992 com 4.000 dólares. Hoje, os nossos
activos valem 29.000 milhões de dólares", disse Liang Xinjun.
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