TRAZER AS ESCOLAS DE ARTES PARA O PARQUE MAYER
Texto e fotografias: Samuel Alemão / in Blog “O Corvo”/ http://ocorvo.pt/2014/01/27/trazer-as-escolas-de-artes-para-o-parque-mayer/?fb_action_ids=10202062330657454&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1435091566725529%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
Aproveitar a dinâmica da reabilitação do Teatro Capitólio e
fazer do Parque Mayer um “verdadeiro pólo cultural e educacional das artes”.
Esta é a proposta de Vasco Lopes Morgado (PSD), presidente da nova Junta de
Freguesia de Santo António e neto do actor e histórico empresário teatral Vasco
Morgado. O autarca acha que esta será a única forma de regenerar
verdadeiramente este espaço, no epicentro da memória do teatro de revista mas
que, nas duas últimas décadas, tem vivido em profunda decadência. A aparente
resolução do conflito que, nos últimos dez anos, opôs a empresa Bragaparques e
a Câmara Municipal de Lisboa – com esta a anunciar que vai tomar conta dos
terrenos – deve servir para dar novo impulso à revitalização do recinto,
defende.
Mas nem as recentes notícias sobre o epílogo da querela
jurídica, nem a prevista abertura, na primavera, do reabilitado Capitólio, já
sob a designação de Teatro Raúl Solnado, e demais intervenções a realizar no
âmbito do Plano de Pormenor do Parque Mayer deixam Vasco Lopes Morgado
descansado. Muito pelo contrário. Na fase final da sua conclusão, os trabalhos
de recuperação do antigo cine-teatro Capitólio (desenhado em 1929, pelo
arquitecto Cristino da Silva) deixam o edil algo desapontado e apreensivo.
Sobretudo pelo facto de o projecto do arquitecto Souza Oliveira – de 2008, pago
com verbas resultantes das contrapartidas pela construção do Casino de Lisboa –
obrigar à remoção do balcão que antes dava à sala uma capacidade para 1180
espectadores. Com a nova configuração, serão 700 lugares no interior, mais 200
no exterior.
Número que Morgado vê como manifestamente insuficiente.
“Ainda bem que está a ser recuperado. Isto é um símbolo do Parque Mayer. Mas
julgo que, no final, e infelizmente, vamos ter aqui um elefante branco. Quando
abrir a porta para dar um espectáculo, vai ter prejuízo”, afirma o edil,
considerando que a nova configuração fará com que seja difícil torná-lo rentável
por si. “Estamos a falar de um edifício enorme, com uma estrutura pesada, para
o número de lugares que terá”, considera, qualificando a sala de “pequena”.
“Poderíamos ter aqui uma sala municipal de porte médio”, diz, lembrando que os
empresários – como ele, que tem
actividade suspensa, pelo cargo agora desempenhado – precisam de vender o maior
número de bilhetes para tornar os espectáculos viáveis.
As obras estão a ser pagas com verbas do casino. Mas o que
aí vem é que preocupa Vasco Lopes Morgado. “Se isto não tiver uma programação
coerente e forte, vai ser um buraco”, considera, preocupado com o que considera
ser uma falta de visão da câmara em relação ao que fazer com aquele espaço.
Isto apesar do plano de pormenor, com uma área de intervenção de 13,6 hectares ,
pretender, de acordo com o anunciado pela edilidade, “devolver ao usufruto dos
lisboetas o local mítico, lúdico e de cultura, que este espaço representa”.
Além de recuperar o Capitólio, o plano prevê uma ampla operação, incluindo a
reconversão do Teatro Variedades, a construção de um auditório, a valorização
do Jardim Botânico, a criação de percursos pedonais e a regeneração urbana da
envolvente.
Não parece, todavia, ser o suficiente para o presidente da
Junta de Freguesia de Santo António. “A reabilitação deste espaço passaria por
trazer para aqui uma série de escolas, como a do Hot Club, do Conservatório de
Dança ou de uma escola de técnicos de teatro, que é coisa que não existe no
país. Transformava-se o Parque Mayer num pólo cultural e educacional”, afirma
Vasco Lopes Morgado, olhando para tal proposta – a implementar, em parte, com
recurso a fundos comunitários – como uma forma de fazer a ponte entre a
produção teatral e artística “independente e a comercial”, as quais considera
estarem de costas voltadas. “Falta cruzar esta última fronteira e julgo que
esse pólo, a funcionar aqui, seria uma enorme mais-valia para todo o mundo
artístico”, diz.
Prevê-se que os teatros ABC e Maria Vitória – o único no
qual ainda existe actividade artística – venham a ser demolidos, por não
reunirem as condições de funcionamento adequadas e não apresentarem especial
relevância arquitectónica.
Texto e fotografias: Samuel Alemão
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