segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

TRAZER AS ESCOLAS DE ARTES PARA O PARQUE MAYER / Texto e fotografias: Samuel Alemão / in Blog “O Corvo”.

TRAZER AS ESCOLAS DE ARTES PARA O PARQUE MAYER


Aproveitar a dinâmica da reabilitação do Teatro Capitólio e fazer do Parque Mayer um “verdadeiro pólo cultural e educacional das artes”. Esta é a proposta de Vasco Lopes Morgado (PSD), presidente da nova Junta de Freguesia de Santo António e neto do actor e histórico empresário teatral Vasco Morgado. O autarca acha que esta será a única forma de regenerar verdadeiramente este espaço, no epicentro da memória do teatro de revista mas que, nas duas últimas décadas, tem vivido em profunda decadência. A aparente resolução do conflito que, nos últimos dez anos, opôs a empresa Bragaparques e a Câmara Municipal de Lisboa – com esta a anunciar que vai tomar conta dos terrenos – deve servir para dar novo impulso à revitalização do recinto, defende.

Mas nem as recentes notícias sobre o epílogo da querela jurídica, nem a prevista abertura, na primavera, do reabilitado Capitólio, já sob a designação de Teatro Raúl Solnado, e demais intervenções a realizar no âmbito do Plano de Pormenor do Parque Mayer deixam Vasco Lopes Morgado descansado. Muito pelo contrário. Na fase final da sua conclusão, os trabalhos de recuperação do antigo cine-teatro Capitólio (desenhado em 1929, pelo arquitecto Cristino da Silva) deixam o edil algo desapontado e apreensivo. Sobretudo pelo facto de o projecto do arquitecto Souza Oliveira – de 2008, pago com verbas resultantes das contrapartidas pela construção do Casino de Lisboa – obrigar à remoção do balcão que antes dava à sala uma capacidade para 1180 espectadores. Com a nova configuração, serão 700 lugares no interior, mais 200 no exterior.



Número que Morgado vê como manifestamente insuficiente. “Ainda bem que está a ser recuperado. Isto é um símbolo do Parque Mayer. Mas julgo que, no final, e infelizmente, vamos ter aqui um elefante branco. Quando abrir a porta para dar um espectáculo, vai ter prejuízo”, afirma o edil, considerando que a nova configuração fará com que seja difícil torná-lo rentável por si. “Estamos a falar de um edifício enorme, com uma estrutura pesada, para o número de lugares que terá”, considera, qualificando a sala de “pequena”. “Poderíamos ter aqui uma sala municipal de porte médio”, diz, lembrando que os empresários  – como ele, que tem actividade suspensa, pelo cargo agora desempenhado – precisam de vender o maior número de bilhetes para tornar os espectáculos viáveis.
As obras estão a ser pagas com verbas do casino. Mas o que aí vem é que preocupa Vasco Lopes Morgado. “Se isto não tiver uma programação coerente e forte, vai ser um buraco”, considera, preocupado com o que considera ser uma falta de visão da câmara em relação ao que fazer com aquele espaço. Isto apesar do plano de pormenor, com uma área de intervenção de 13,6 hectares, pretender, de acordo com o anunciado pela edilidade, “devolver ao usufruto dos lisboetas o local mítico, lúdico e de cultura, que este espaço representa”. Além de recuperar o Capitólio, o plano prevê uma ampla operação, incluindo a reconversão do Teatro Variedades, a construção de um auditório, a valorização do Jardim Botânico, a criação de percursos pedonais e a regeneração urbana da envolvente.

Não parece, todavia, ser o suficiente para o presidente da Junta de Freguesia de Santo António. “A reabilitação deste espaço passaria por trazer para aqui uma série de escolas, como a do Hot Club, do Conservatório de Dança ou de uma escola de técnicos de teatro, que é coisa que não existe no país. Transformava-se o Parque Mayer num pólo cultural e educacional”, afirma Vasco Lopes Morgado, olhando para tal proposta – a implementar, em parte, com recurso a fundos comunitários – como uma forma de fazer a ponte entre a produção teatral e artística “independente e a comercial”, as quais considera estarem de costas voltadas. “Falta cruzar esta última fronteira e julgo que esse pólo, a funcionar aqui, seria uma enorme mais-valia para todo o mundo artístico”, diz.

Prevê-se que os teatros ABC e Maria Vitória – o único no qual ainda existe actividade artística – venham a ser demolidos, por não reunirem as condições de funcionamento adequadas e não apresentarem especial relevância arquitectónica.

Texto e fotografias: Samuel Alemão

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