Câmara de Lisboa procura fundamentação jurídica que
lhe permita embargar obras no Cinema Londres
INÊS BOAVENTURA 29/01/2014 - 21:39 in Público
Uma moção do CDS defendendo o
embargo dos trabalhos foi aprovada esta quarta-feira por unanimidade.
A Câmara de Lisboa aprovou, por unanimidade, uma moção do
CDS defendendo o embargo das obras de transformação do antigo Cinema Londres
“num espaço comercial de retalho”. O vereador do Urbanismo e da Reabilitação
Urbana pediu aos serviços jurídicos do município que encontrem uma fundamentação
que lhe permita avançar com esse embargo.
Na moção que apresentou esta quarta-feira, o vereador João
Gonçalves Pereira sublinha que o Londres, na Avenida de Roma, “ocupa
parcialmente um edifício que integra um conjunto de imóveis de interesse
municipal” e sustenta que o desaparecimento do cinema “traduzir-se-ia numa
perda cultural grave para a cidade”.
Com base nesses argumentos, o eleito do CDS defendeu que a
Câmara de Lisboa deve desenvolver “diligências conjuntas”, com a Secretaria de
Estado da Cultura e com a Inspecção-Geral das Actividades Culturais, “com vista
ao embargo das obras” em curso no local, com o objectivo de o reconverter numa
loja de produtos chineses. João Gonçalves Pereira apelou também ao município
para que recomende ao Governo “que não conceda autorização à afectação do
espaço a uma actividade de natureza diferente”.
Os eleitos do PS, do PSD e do PCP votaram favoravelmente a
moção, que foi aprovada por unanimidade na reunião camarária desta
quarta-feira. Em declarações ao PÚBLICO, o vereador do Urbanismo e da
Reabilitação Urbana congratulou-se com a mesma, sublinhando que esta lhe dava
“força” para tentar travar a “destruição” do que ainda resta do antigo cinema.
Manuel Salgado revela que enviou uma carta ao secretário de
Estado da Cultura, na qual sublinha que é opinião da Câmara de Lisboa que o
Londres “tem um valor cultural relevante para aquela zona da cidade”. Nessa
missiva, o vereador pede também a Jorge Barreto Xavier que não autorize a
afectação do espaço a uma actividade que não a de cinema.
Segundo Manuel Salgado, a Câmara de Lisboa já realizou duas
fiscalizações às obras, a última das quais esta quarta-feira, tendo concluído
que são apenas “obras de remodelação interior, que não afectam a estrutura do
edifício” e que, como tal, não podem ser embargadas ao abrigo do Regime
Jurídico de Urbanização e Edificação. Mas o vereador não se conforma com essa
situação e está a tentar encontrar uma fundamentação jurídica que lhe permita
fazê-lo.
O vereador do CDS tinha levado outras duas moções à reunião
camarária: uma relativa a “deficiências de funcionamento” e falta de
sinalização em vários postos de carregamento de veículos eléctricos; e outra
defendendo que as equipas das Unidades de Intervenção Territorial que realizam
vistorias a habitações devem integrar um técnico de acção social. Mas ambos os
documentos acabaram por não ser votados, por decisão do presidente da Câmara de
Lisboa.
“Assistimos a um claro caso de guilhotina democrática”, disse
o eleito do CDS aos jornalistas. “António Costa extravasou claramente a sua
competência na gestão dos trabalhos no período antes da ordem do dia”, afirmou
João Gonçalves Pereira, frisando que, até aqui, sempre tinha visto o autarca
socialista “como alguém que tem maturidade democrática”.
A reunião da Câmara de Lisboa ficou também marcada por uma
troca de palavras azeda entre o vereador João Ferreira, da CDU, e dois eleitos
da maioria. Tudo começou quando o eleito comunista questionou António Costa
sobre dois assuntos, em relação aos quais disse ter informações através de
notícias publicadas na imprensa: o facto de o presidente ter alegadamente
chegado a um acordo com o Governo sobre a concessão a privados das empresas
públicas de transporte; e a possibilidade de as juntas de freguesia do PSD
adoptarem horários de trabalho de 40 horas.
O vereador José Sá Fernandes reagiu criticando “o tom” de
João Ferreira e dizendo ter “tantas saudades” de Ruben de Carvalho, que
representou o PCP na Câmara de Lisboa em anteriores mandatos. Já António Costa
desejou que o vereador comunista não seja reeleito nas próximas eleições para o
Parlamento Europeu, “para que possa acompanhar sem ser pelos jornais a vida da
cidade”. Quando o visado tentou responder, o autarca socialista deu por
encerrado o período antes da ordem de trabalhos, impedindo-o de falar.
Costa acusa Lusófona de "violação sistemática da
lei"
O reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias foi à reunião da Câmara de Lisboa para se queixar das dificuldades
criadas pela indefinição do município relativamente ao traçado da via que vai
ligar o Eixo Central da Alta de Lisboa ao Campo Grande. Mas o vereador do
Urbanismo e o presidente do município não deixaram passar a oportunidade e
aproveitaram para lembrar Mário Moutinho das várias obras feitas ilegalmente
pela Cofac-Cooperativa de Formação e Animação Cultural (a proprietária da
universidade) ao longo dos anos.
Manuel Salgado recordou que, desde 2007, já houve vários
embargos a obras da Cofac, realizadas “sem licença municipal”, e que chegou a
ser aplicada uma coima de 12 mil euros de cujo pagamento aquela entidade
recorreu para o tribunal, dando origem a um processo que está agora em
julgamento. O vereador do Urbanismo mostrou a todos os presentes na reunião uma
imagem na qual se via que de um total de seis edifícios da Universidade
Lusófona, no Campo Grande, apenas um está dentro da legalidade.
“O historial de embargos é no mínimo estranho”, salientou
Manuel Salgado, acrescentando que esta não é “uma forma saudável de uma
universidade se relacionar com a autarquia”. Já António Costa acusou a
Universidade Lusófona de “violação sistemática da lei” e disse que esta
entidade “devia agradecer o facto de a câmara não ter pura e simplesmente
encerrado a universidade”, devido ao facto de os edifícios em que funciona não
estarem licenciados.
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