Elina Fraga tomou posse como bastonária dos advogados,
alguns preferiram faltar
MARIANA OLIVEIRA e MARIA JOÃO LOPES 10/01/2014 – in Público
A nova bastonária prometeu
apoiar reformas contra a morosidade da Justiça. O antecessor fez questão de
dizer que este mandato "não é o terceiro de Marinho e Pinto".
Ao tomar posse como bastonária da Ordem dos Advogados, Elina
Fraga defendeu nesta sexta-feira que a classe deve “ser o motor da verdadeira
reforma judicial” e estar sempre contra os “abusos de poder e a denegação da
Justiça”. Na cerimónia, à qual faltaram os candidatos derrotados ao cargo e os
membros do Conselho Superior cessante, o ex-bastonário fez questão de realçar
que o mandato que agora se inicia não é “o terceiro de Marinho e Pinto”, mas o
“primeiro de Elina Fraga”.
A nova bastonária declarou que os advogados são “os
primeiros a impulsionar as reformas" e “devem estar contra abusos de
poderes” e “contra a denegação da justiça”. Elina Fraga, que criticou o facto
de a Justiça estar “enredada em procedimentos burocráticos e na produção em
série de diplomas legais, quer em quantidade quer em qualidade, geradora de
ambiente intolerável de incerteza e inseguranças jurídicas”, garantiu que a
Ordem está disponível para se “aliar a qualquer reforma de combate à
morosidade” nos tribunais e “à pendência” de processos.
Além de sublinhar que “o mandato da Dra. Elina Fraga não é o
terceiro mandato de Marinho e Pinto”, mas “o primeiro de Elina Fraga”, o
bastonário cessante sustentou: “É preciso afirmar em plenitude que há uma
mudança na Ordem dos Advogados, não só no estilo, mas uma mudança de
substância”, disse Marinho e Pinto, referindo-se à sucessora que foi sua
vice-presidente nos últimos três anos. E enfatizou que apoia “essa mudança”.
Marinho e Pinto aproveitou a ocasião para elogiar o papel
que o Tribunal Constitucional tem desempenhado na vida nacional e apelou ao
diálogo e respeito entre os agentes judiciais: "Uma nova época entre
advogados e as magistraturas vai começar. E esta abertura será tão consistente
quanto mais forem consistentes os laços entre advogados e as
magistraturas", disse, acrescentando que, “por muito grandes que sejam as
divergências”, estão “condenados” a entenderem-se e a dialogarem.
A cerimónia ficou, porém, marcada pelas ausências dos cinco
candidatos a bastonário derrotados, bem como dos membros do Conselho Superior
cessante, o órgão máximo em matéria disciplinar. Os ex-membros deste conselho
decidiram não comparecer à tomada de posse, alegando terem sido ameaçados por
Elina Fraga com uma participação disciplinar e criminal.
Em causa estão dois processos disciplinares que visaram
Elina Fraga e que levaram o Conselho Superior a punir a então vice-presidente
da Ordem com uma pena de advertência e uma pena de censura. A responsável e o
então bastonário, Marinho e Pinto, não concordaram com a decisão, tendo acusado
o órgão de estar ao serviço da oposição interna e de querer prejudicar a
campanha de Elina Fraga.
Os conselheiros consideram que Elina Fraga - apesar de
alegar estar apenas a obedecer à norma do Estatuto da OA que obriga os
advogados a comunicarem aos colegas a intenção de apresentarem uma queixa
contra eles - “os ameaçou, em cartas registadas, de participar disciplinar e
criminalmente deles”. E observam: “Fê-lo sem referência a qualquer facto que
não fosse o da existência de processos disciplinares contra ela, processos
esses desencadeados por participações de terceiros (clientes e colegas que não
integram qualquer órgão da Ordem dos Advogados). Esta atitude, que nos
dispensamos de aqui classificar, é claramente impeditiva da nossa presença no
acto de posse”.
O PÚBLICO teve acesso à carta enviada por Elina Fraga à
grande maioria dos 22 membros deste conselho, incluindo ao seu presidente. A
nova bastonária “comunica” a cada um dos conselheiros “a intenção de apresentar
participação disciplinar e criminal” contra o destinatário. E justifica a
intenção com o facto de entender que a conduta assumida por eles,
"enquanto membros do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, nos
processos disciplinares nº. (…), consubstancia a prática de infracção
disciplinar e criminal”.
Alguns membros deste conselho responderam a Elina Fraga,
tendo um deles, Leopoldo Carvalhaes, colocado a carta no Facebook. O vogal do
conselho afirma que as deliberações que votou nos processos de Elina Fraga
“traduzem o exercício obrigatório” do cargo para que foi eleito, “após análise
dos processos, regularmente instruídos”, e lembra que, num deles, a então
vice-presidente optou por nem sequer apresentar defesa. “Não me permitirei a
cobardia de me condicionar no cumprimento dos deveres do cargo”, escreve, advertindo
a advogada de que a carta dela pode constituir também ilícito disciplinar e
criminal, numa referência a uma eventual denúncia caluniosa. “Permita-me que
sinalize a minha tristeza de identificar na sua comunicação um défice de
conhecimento, quer do princípio basilar do Estado de Direito e da separação dos
poderes, quer do respeito democrático pelo exercício dos órgãos da Ordem dos
Advogados”, conclui.
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