sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Emissões de CO2 têm de cair até 70% para conter subida do termómetro mundial

Se tudo falhar, será preciso retirar CO2 da atmosfera para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC
Desde o início da crise, em 2008, as emissões caíram nalguns países ou regiões desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos e na Europa. Mas não só continuaram a subir na China – que responde por cerca de um quarto das emissões de CO2 da queima de combustíveis fósseis – como retomaram uma tendência de aumento nos Estados Unidos em 2013.
Emissões de CO2 têm de cair até 70% para conter subida do termómetro mundial
RICARDO GARCIA 17/01/2014 – in Público
Versão preliminar de relatório da ONU diz que é preciso fazer muito mais para combater o aquecimento global.

Manter o aquecimento global dentro de limites considerados toleráveis vai requerer investimentos bilionários, reduções brutais de emissões de gases com efeito de estufa ou, no limite, soluções tecnológicas caras e complexas para retirar tais gases da atmosfera.

Esta é a mensagem central de uma versão preliminar de mais um relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), citado por vários órgãos de comunicação internacionais.

O relatório do painel científico da ONU avalia as políticas climáticas actuais e futuras para combater as alterações climáticas e conclui que o caminho daqui para a frente não será fácil.

Em 2009, a comunidade internacional fixou um limite de dois graus Celsius para o aquecimento da Terra até 2100, acima do qual as consequências das alterações climáticas serão mais dramáticas e onerosas. O IPCC concluiu agora que para tal será necessário reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 40 a 70%, entre 2010 e 2050, segundo o relatório citado pela agência Reuters e pelos jornais The Guardian e The New York Times.

O esforço necessário está em claro contraste com o que está a acontecer na prática. As emissões globais subiram, em média, 2,2% por ano entre 2000 e 2010. O ritmo acelerou em relação ao período 1970-2000 (1,3% de aumento médio anual).

Desde o início da crise, em 2008, as emissões caíram nalguns países ou regiões desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos e na Europa. Mas não só continuaram a subir na China – que responde por cerca de um quarto das emissões de CO2 da queima de combustíveis fósseis – como retomaram uma tendência de aumento nos Estados Unidos em 2013.

Segundo a versão preliminar do relatório do IPCC, serão necessários investimentos adicionais equivalentes a 108 mil milhões de euros por ano em formas de energia com baixas emissões de carbono nos próximos 15 anos. Ao mesmo tempo, os investimentos nos combustíveis fósseis deverão cair em 22 mil milhões de euros por ano.

É exactamente o oposto do que tem vindo a acontecer nos últimos anos. Em 2013, os investimentos em energias limpas em todo o mundo caíram 12%, depois de terem descido 9% em 2012, segundo um balanço apresentado esta semana pela Bloomberg. Na prática, o montante investido em projectos como parques eólicos ou painéis solares teve uma redução de 47 mil milhões de euros a nível global nesses dois anos.

Se falhar a linha de frente das políticas climáticas – investir em fontes alternativas de energia e reduzir as emissões –, a alternativa será retirar os gases com efeito de estufa da atmosfera e armazená-los de uma forma que não interfiram com o clima. As soluções vão desde a captura do CO2 que sai das chaminés e o seu enterramento no solo até à plantação de mais florestas. Outras alternativas da chamada geoengenharia são tecnicamente possíveis, mas de difícil viabilidade económica.

Este relatório é o terceiro da mais recente avaliação do IPCC sobre o que se sabe sobre as causas, os efeitos e o futuro das alterações climáticas. Em Setembro último, o IPCC divulgou o seu primeiro relatório, que confirma, com 95% de certeza, a influência humana sobre o aquecimento global desde 1950.


O segundo relatório, sobre os impactos das alterações climáticas, será concluído e divulgado em Março, no Japão. O terceiro tem divulgação marcada para Abril, na Alemanha.

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