Emissões de CO2 têm de cair até 70% para conter subida
do termómetro mundial
RICARDO GARCIA 17/01/2014 – in Público
Versão preliminar de relatório da ONU diz que é preciso
fazer muito mais para combater o aquecimento global.
Manter o aquecimento global dentro de limites considerados
toleráveis vai requerer investimentos bilionários, reduções brutais de emissões
de gases com efeito de estufa ou, no limite, soluções tecnológicas caras e complexas
para retirar tais gases da atmosfera.
Esta é a mensagem central de uma versão preliminar de mais
um relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC,
na sigla em inglês), citado por vários órgãos de comunicação internacionais.
O relatório do painel científico da ONU avalia as políticas
climáticas actuais e futuras para combater as alterações climáticas e conclui
que o caminho daqui para a frente não será fácil.
Em 2009,
a comunidade internacional fixou um limite de dois graus
Celsius para o aquecimento da Terra até 2100, acima do qual as consequências
das alterações climáticas serão mais dramáticas e onerosas. O IPCC concluiu
agora que para tal será necessário reduzir as emissões de gases com efeito de
estufa em 40 a
70%, entre 2010 e 2050, segundo o relatório citado pela agência Reuters e pelos
jornais The Guardian e The New York Times.
O esforço necessário está em claro contraste com o que está
a acontecer na prática. As emissões globais subiram, em média, 2,2% por ano entre
2000 e 2010. O ritmo acelerou em relação ao período 1970-2000 (1,3% de aumento
médio anual).
Desde o início da crise, em 2008, as emissões caíram nalguns
países ou regiões desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos e na Europa.
Mas não só continuaram a subir na China – que responde por cerca de um quarto
das emissões de CO2 da queima de combustíveis fósseis – como retomaram uma
tendência de aumento nos Estados Unidos em 2013.
Segundo a versão preliminar do relatório do IPCC, serão
necessários investimentos adicionais equivalentes a 108 mil milhões de euros
por ano em formas de energia com baixas emissões de carbono nos próximos 15
anos. Ao mesmo tempo, os investimentos nos combustíveis fósseis deverão cair em
22 mil milhões de euros por ano.
É exactamente o oposto do que tem vindo a acontecer nos
últimos anos. Em 2013, os investimentos em energias limpas em todo o mundo
caíram 12%, depois de terem descido 9% em 2012, segundo um balanço apresentado
esta semana pela Bloomberg. Na prática, o montante investido em projectos como
parques eólicos ou painéis solares teve uma redução de 47 mil milhões de euros
a nível global nesses dois anos.
Se falhar a linha de frente das políticas climáticas –
investir em fontes alternativas de energia e reduzir as emissões –, a
alternativa será retirar os gases com efeito de estufa da atmosfera e
armazená-los de uma forma que não interfiram com o clima. As soluções vão desde
a captura do CO2 que sai das chaminés e o seu enterramento no solo até à
plantação de mais florestas. Outras alternativas da chamada geoengenharia são
tecnicamente possíveis, mas de difícil viabilidade económica.
Este relatório é o terceiro da mais recente avaliação do
IPCC sobre o que se sabe sobre as causas, os efeitos e o futuro das alterações
climáticas. Em Setembro último, o IPCC divulgou o seu primeiro relatório, que
confirma, com 95% de certeza, a influência humana sobre o aquecimento global
desde 1950.
O segundo relatório, sobre os impactos das alterações
climáticas, será concluído e divulgado em Março, no Japão. O terceiro tem
divulgação marcada para Abril, na Alemanha.
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