Caixa Seguros. S&P diz que Fosun é lixo e venda é especulativa
Por Margarida Bon de Sousa
publicado em 15 Jan 2014 in (jornal) i online
Depois do aviso da Moody's, a Standard & Poor's reduziu
o rating da Fosun. Governo garante solidez da empresa
Depois da Moody's, foi a vez de a Standard & Poor's
considerar a compra da Caixa Seguros pela Fosun uma transacção de risco,
duvidando da capacidade financeira da empresa chinesa, cotada na bolsa de Hong
Kong, para pagar os mil milhões de euros oferecidos. Por isso mesmo, e desde
segunda-feira, a S&P colocou a dívida da Fosun em perspectiva negativa, com
um rating de BB+ (grau de não investimento especulativo) e cnBBB.
Recorde-se que o secretário de Estado das Finanças, Manuel
Rodrigues, na conferência de imprensa em que anunciou a venda de 80% da Caixa
Seguros à Fosun em detrimento da norte-americana Apollo, questionado sobre o
rating da chinesa, não respondeu directamente à pergunta, optando por dizer que
os dois advisers que recomendaram a venda aos chineses (a Boston Consulting
Group e a Caixa BI) atestaram da solidez da compradora.
AQUISIÇÕES A MAIS
Segundo a S&P, a Fosun ainda está a
fazer a transição entre uma empresa industrial e uma holding de investimento,
que teve uma expansão agressiva e uma estratégia de negócios ambiciosa. No
últimos 12 meses, a companhia fez uma série de aquisições em diversas
indústrias e regiões, que incluíram investimentos no turismo, em propriedades,
em farmacêuticas e bens de consumo, que aumentaram a dívida da Fosun.
"O mais recente exemplo foi a compra do Chase Manhattan
Plazza em Nova Iorque ao JP Morgan, através do qual a empresa viu a sua dívida
agravar-se 450 milhões de dólares", lê-se no paper da S&P.
"Prevemos que estas actividades continuem a pesar na já elevada
alavancagem da Fosun e na cobertura dos fluxos de caixa nos próximos 12 meses.
No entanto, pensamos que a liquidez da empresa é adequada para os nossos
critérios. Os valores em caixa fornecem alguma flexibilidade, na ausência de
problemas financeiros."
Também a Moody's já tinha revisto o rating do grupo chinês,
com um alerta de que deverá baixar a notação atribuída à dívida da Fosun, de
Ba3, um nível devido à incerteza que rodeia a compra da Caixa Seguros. "A
nossa revisão reflecte as incertezas associadas ao plano de financiamento, bem
como os riscos de execução envolvidos na transacção", disse Lina Choi,
vice-presidente da agência. As dúvidas da Moody's justificam-se ainda com a
empresa chinesa desconhecer o mercado segurador nacional e a respectiva
regulação. No entanto, a empresa de rating admite manter a nota da dívida caso
a empresa adopte uma solução para financiar a compra que passe por um terceiro
investidor estratégico ou pela venda de outros investimentos.
FOSUN REAGE
Num comunicado divulgado ontem ao final da
tarde, a empresa chinesa refere que tem o capital necessário para concluir a
compra de 80% da Caixa Seguros. "As agências de rating preferem que as
empresas tenham dinheiro nos livros de contabilidade sem ninguém lhes tocar. É
isso que consideram seguro", refere a Fosun.
A empresa chinesa deverá entregar à Caixa Geral de Depósitos
um cheque inicial de 100 milhões de euros e uma garantia bancária de 900
milhões, devendo o negócio estar concluído em Outubro. Antes, o Instituto
Português de Seguros, que regula a actividade, tem ainda de dar luz verde à
escolha do executivo.
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