terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Como libertar os "tugas" da caverna ?



Para começar de vez com a cultura
14 Janeiro 2014, 11:52 por Alexandra Machado | amachado@negocios.pt

Petições para não deixar morrer o Cinema Londres. Petições para o Estado português não vender os quadros de Miró. Concordo com isso tudo. Gostava que o Cinema Londres ainda existisse. Gostava que o King não tivesse fechado. Gostava de ver a exposição de Miró em Portugal. Também gostava que nos inquéritos sobre a cultura não se apontasse a falta de interesse como a principal razão para não se ir ao cinema, ou a um museu ou galeria ou ainda ao teatro, ao bailado, à opera.... Mas é isso que se passa.
No último Eurobarómetro, pergunta-se por que não iam os portugueses a um museu ou galeria no último ano. Resposta: 51% falta de interesse. A mesma pergunta para um bailado ou ópera. Resposta: 56% falta de interesse; E por que não foi ao teatro no último ano? 40% falta de interesse. E ao cinema? 35% por falta de interesse. Aqui, há uma nuance face às outras artes. É que, perto, 32% respondem que não vão ao cinema por uma questão de dinheiro, porque é caro. Só os concertos são também considerados caros, afastando pessoas.

Os números ganham uma dimensão mais preocupante se vistos à luz de outra pergunta. Quantas vezes foi, no último ano, ao cinema? 29%; Ao teatro? 13%; A um museu ou galeria? 17%; A um bailado ou opera? 8%; A um concerto? 19%.

São estes números que fecham o Londres ou o King e que continuarão a fechá-los. Apesar disso, conseguimos recordes na exposição na Ajuda da exposição de Joana Vasconcelos. Conseguimos recordes nas bilheteiras do filme "A Gaiola Dourada". Enchemos pavilhões para o Cirque du Soleil. Esgotamos concertos de Verão. A exposição Rubens, Brueghel, Lorrain, do Museu do Prado, já recebeu 20 mil visitantes. O que significam estes números? Afinal há interesse?

Gostava que se avaliasse, de forma séria, a falta de público no cinema, no teatro, nas artes performativas, nos concertos. E se esses eventos fossem promovidos? E se se falasse, de forma simples, sobre eles? E se tivessemos formação logo de pequeninos? A arte não pode ser para intelectuais. Não é.

Também gostava que quando se fala de arte não houvesse logo alguém a rebolar contra a primazia dada ao desporto, em particular ao futebol. Tudo pode conviver. Tudo tem de conviver. É verdade que há uma primazia do futebol. Injusta?

No domingo estiveram 62 mil pessoas no Estádio da Luz e o País ficou em suspenso à espera da confirmação de Cristiano Ronaldo como o melhor do mundo. Aqui já parece haver interesse. É um espectáculo de massas, como não são uma exposição e um teatro. E não são, porque não podem ou por que não se quer?

*Jornalista

2013 foi o ano em que menos portugueses foram ao cinema na última década
JOANA AMARAL CARDOSO 14/01/2014 – in Público

Os 12,5 milhões de espectadores presentes nas salas no ano passado foram ver A Gaiola Dourada, Velocidade Furiosa 6, Frozen – O Reino do Gelo. O filme português mais visto foi 7 Pecados Rurais.
Os 12,5 milhões de espectadores que em 2013 viram cinema nas salas do país são o número mais baixo da última década. As previsões confirmaram-se e o ano passado foi de quebra acentuada nas idas ao cinema em Portugal – menos 1,3 milhões de bilhetes vendidos em relação a 2012, uma perda de 8,5 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira. Quanto aos filmes mais vistos, não houve êxito de Inverno que batesse o fenómeno A Gaiola Dourada, seguido de Velocidade Furiosa 6 e da animação de Natal de Frozen – O Reino do Gelo.

Os números de 2013 são avançados esta terça-feira pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que nota que os dados, embora abarquem já o mês de Dezembro, são ainda parciais e provisórios. Olhando para a estatística do ICA na última década, já em 2012 se tinha baixado pela primeira vez em dez anos da barreira dos 15 milhões de ingressos de espectadores, com apenas 13,8 milhões de entradas nas salas. Em 2003 houve 18,7 milhões de pessoas a ver cinema nas salas do circuito comercial português.

Já no ano passado, em Portugal houve 12,5 milhões de idas ao cinema que geraram uma receita bruta de bilheteira de 65,5 milhões de euros (menos 11,5% do que em 2012), o número mais baixo da década. Os únicos meses em que se registaram aumentos do número de pessoas nas salas em relação ao ano anterior foram os meses de Dezembro e Junho.

Os filmes mais vistos foram então o francês A Gaiola Dourada, de Ruben Alves, com 756 mil espectadores,o sexto tomo do franchise Velocidade Furiosa (426 mil espectadores), e Frozen – O Reino do Gelo, uma entrada de última hora na listagem que tirouGru – O Maldisposto 2 do top três. Entre os filmes portugueses, o mais visto de 2013 foi 7 Pecados Rurais , de Nicolau Breyner com 287 mil espectadores e 1,5 milhões de receita de bilheteira. O ICA assinala que o filme de Nicolau Breyner é o segundo na lista “dos filmes europeus mais vistos do ano e o quinto no ranking geral”.

Note-se também que o sucesso da história de emigrantes portugueses em França que se tornou no êxito do Verão e do ano é o sétimo mais visto na última década nos cinemas portugueses. Num ano em que se estrearam 348 longas-metragens em Portugal e 165 delas vieram dos EUA e 138 da Europa (mas apenas 19,5 do total de espectadores viu os filmes europeus), A Gaiola Dourada foi também o único título de 2013 a entrar na lista dos 40 mais vistos entre 2004 e 2013, que é encimado por Avatar, de James Cameron, com 1,2 milhões de espectadores em 2009, seguido do musical Mamma Mia!, com 851 mil espectadores em 2008, e da animação Shrek O Terceiro, de 2007, com 824 mil bilhetes vendidos.

Num ano de movimentações no mercado de exibição, com a insolvência do então segundo maior exibidor português, a Socorama, e com a entrada de dois novos players no sector nacional – a brasileira Orient Cineplace, que ocupou as salas em shoppings do país deixadas vagas pela Socorama, e a portuguesa Great Cinema (duas salas no Saldanha Residence em Lisboa) – as contas de final de ano mostram que a Zon Lusomundo continua líder, com 63,2% do mercado. Seguem-se-lhe a britânica UCI (o maior exibidor europeu), a israelita NLC – Cinema City e a Socorama, que detém neste momento apenas 5,1% do mercado.

O ICA actualiza também a sua lista de obras produzidas com apoios públicos, registando 12 longas (sete de ficção e cinco documentários) e 11 curtas, o que contabiliza como sendo uma redução de 41% em relação a 2012 em que se produziram mais 16 títulos com financiamento do instituto. Como o PÚBLICO escreveu em Dezembro, em 2012 produziram-se 39 títulos, já de si um valor baixo quando o resto da década nunca caiu abaixo dos 48 filmes/ano

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