Meco: apatia oficial
Por Eduardo Oliveira Silva
publicado em 24 Jan 2014 in (jornal) i online
A passividade do Estado e o manto de silêncio académico são
inaceitáveis
Foi preciso passar mais de um mês sobre a tragédia do Meco
para o Estado procurar esclarecer as efectivas circunstâncias do sucedido.
Tirando as operações de salvamento, desencadeadas desde
logo, as entidades oficiais praticamente nada fizeram para que se soubesse o
que verdadeiramente se passou, apesar da enorme comoção que o facto criou na
opinião pública, do sofrimento das famílias, e certamente do sobrevivente.
A bem dizer, foi a persistência das famílias na procura da
verdade e no recurso à exposição mediática das suas dores que obrigou as
entidades oficiais a mexerem-se a sério, mas só nos últimos dois dias.
Até ali o assunto foi tratado com uma exasperante lentidão
burocrática e uma absoluta insensibilidade.
Não se trata aqui de procurar responsabilizar
especificamente uma entidade, mas sim todo o colectivo.
No entanto, há que apurar como foi possível que nem o
governo, através dos ministérios da Justiça, da Educação ou da Administração
Interna, por exemplo, tivesse actuado politicamente para impor o
esclarecimento, mesmo que tivesse de chamar a atenção aos órgãos de justiça
pela respectiva e absurda passividade.
Como foi possível tanta delonga no Ministério Público quando
seis jovens morreram em circunstâncias que, desde logo, pareceram estranhas e
como é entendível que não haja da parte das entidades oficiais e das próprias
universidades a vontade inequívoca de encontrar explicações para um drama que
não tem precedentes?
Desde o princípio percebeu-se que houve uma menorização do
sucedido por parte de todas as entidades, começando pela universidade e
passando pelo Estado, que não apresentou sequer condolências às famílias,
quando o fez por exemplo no acidente da LAM.
Num caso como este importa esclarecer e tirar ilações para
prevenir a repetição de situações semelhantes.
Até hoje só através da imprensa se foi sabendo qualquer
coisa do que terá sucedido, mas é evidente que não se pode considerar que tudo
o que se escreve são factos incontroversos.
O que se pretende, e o que as famílias reclamam
repetidamente, é a coisa mais legítima do mundo: saber minimamente como as
coisas se passaram, através de entidades oficiais.
Percebe-se, por exemplo, que para o jovem sobrevivo não seja
fácil falar do assunto, mas há-de ser possível contar com ele para relatar
aquilo de que se lembre, e já era tempo de o ter ouvido.
E também deve ser possível que alguma entidade (seja ela
qual for, das dezenas que existem em Portugal) investigue se há de facto praxes
recorrentemente perigosas e quem as promove, começando por aqueles que, mesmo
jovens, nelas participam de livre vontade e acabam por ser também culpados de
desideratos fatais que a eles próprios vitimizam.
Tecnicamente, a tragédia do Meco pode não ser um caso de
justiça ou de crime de qualquer espécie, mas é um assunto do qual o Estado não
se pode alhear, até porque dispõe de instituições de toda a espécie em campos
políticos, judiciais, policiais e até militares, no caso das praias. Afinal com
o que contribuíram até agora para que se saiba alguma coisa? Nada. A verdade é
que doravante o que vier a ser apurado terá resultado da pressão das famílias e
do alarde dos media.
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