Eucaliptos dominam pedidos ao abrigo da nova lei de
arborização
Nos três primeiros meses da
polémica legislação, 92% da área de novas florestas ou reflorestações refere-se
a esta espécie. Organizações ambientalistas e alguns académicos querem ver a
lei revogada
Ricardo Garcia / 25 jan 2014 in Público
Os eucaliptos estão a dominar plantação ou replantação de
florestas ao abrigo de uma nova legislação que organizações ambientalistas e
alguns académicos querem ver revogada.
O novo regime legal, publicado em Julho passado e em vigor
desde Outubro, passou a considerar os eucaliptos como qualquer outra espécie
florestal, deixando de estar sujeito à regulamentação própria que existia desde
1988.
Segundo a lei, a plantação de novas áreas florestais
(arborização) ou a replantação de áreas degradadas, cortadas ou ardidas
(rearborização) está sujeita a uma autorização quando a superfície ocupada for
superior a dois hectares. Abaixo deste limite, basta uma comunicação prévia. A
regra vale para todas as espécies.
Entre 17 de Outubro e 31 de Dezembro, o Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas (ICNF) recebeu 193 pedidos de autorização e 175
comunicações prévias, para acções que cobrem, no total, 2626 hectares . A
esmagadora maioria desta área refere-se a intenções de plantar eucaliptos
(92%). Do restante, metade refere-se a áreas de pinheiro-manso e o resto está
repartido entre diversas outras espécies.
Os números confirmam uma tendência que vem sendo observada
na floresta portuguesa há pelo menos duas décadas. A área de eucalipto tem
vindo a aumentar continuamente, pelo seu rendimento económico a curto prazo.
Segundo os dados mais recentes do Inventário Florestal Nacional, os eucaliptos
tiveram um crescimento de 13% entre 1995 e 2010 e são hoje a espécie dominante
na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados.
Em sentido contrário caminha o pinheiro-bravo, que está a
ser dizimado pelos fogos, por uma praga florestal (o nemátodo) e pelo
consequente desinteresse na sua exploração. A área ocupada caiu 27% entre 1995
e 2010 e a espécie, que antes era dominante, está agora na terceira posição,
abaixo dos eucaliptos e colada aos sobreiros.
A falta de interesse pelo pinheirobravo revela-se nos
números da aplicação da nova lei. Apenas 0,7% da área das arborizações ou
rearborizações entre Outubro e Dezembro são daquela espécie. Mais sucesso está
a ter o pinheiro-manso, a segunda espécie mais importante nos pedidos de
autorização ou comunicações prévias — 4% da área total. O interesse crescente
pelo pinheiro-manso já estava identificado no Inventário Florestal, que regista
uma subida de 54% na área ocupada, entre 1995 e 2010.
A nova lei sobre arborização e rearborização tem sido
fortemente contestada, por alegadamente facilitar a expansão dos eucaliptos. Há
mais de duas décadas que a espécie é vista por muitos como um perigo, pelos
riscos de elevado consumo de água, de erosão dos solos e da aposta numa
monocultura florestal com pouco potencial em termos de biodiversidade.
Segundo a legislação que foi agora revogada, as plantações
que completassem áreas contínuas com mais de 50 hectares estavam
sujeitas a uma autorização prévia da autoridade florestal. Abaixo disto,
estavam condicionadas à aprovação das câmaras municipais, ao abrigo de um
decretolei sobre alterações no relevo e no coberto vegetal.
Esta semana, organizações nãogovernamentais e personalidades
do mundo académico juntaram-se numa Plataforma pela Floresta, que exige a
revogação da nova lei. Os subscritores da plataforma dizem, num comunicado, que
o diploma “é um incentivo à perpetuação da situação de descontrolo e
desordenamento existente neste momento na floresta portuguesa”.
A possibilidade de se plantar floresta sem autorização
abaixo dos dois hectares é um dos aspectos que preocupam os críticos da
legislação. No entanto, essa possibilidade está a revelar-se pouco expressiva,
segundo os números agora divulgados pelo ICNF.
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