sábado, 12 de julho de 2014

A demissão


A demissão
Por Luís Rosa
publicado em 12 Jul 2014 / in (Jornal) i online

Granadeiro não tem condições para liderar a PT se o GES não pagar esta semana os 900 milhões de euros mais juros que deve
1. Vamos entrar numa semana importante do caso BES, a semana em que deverá ser conhecida a reestruturação das sociedades do Grupo Espírito Santo, em que saberemos se a Rio Forte conseguiu devolver os 897 milhões de euros mais os juros acordados com a Portugal Telecom (PT) no final de Abril e em que a intervenção do governo pode ser definitivamente esclarecida.

OBanco de Portugal já atestou por três vezes nos últimos 11 dias a solvabilidade do BES. Mas por muito que o governo e os reguladoresrepitam, poucos acreditam que o banco consiga passar incólume pelo furacão financeiro que está a afectar a família Espírito Santo. Épreciso muito mais informação. Daí a necessidade do anúncio mais rápido possível sobre os planos de reestruturação do GES.
Aliás, as consequências da falta de informação estão à vista de todos: em menos de um mês, o BES perdeu 2,6 mil milhões da sua capitalização bolsista, na quinta-feira agitou as bolsas mundiais e, tal como o i noticiou, as obrigações da Espírito Santo Financial desvalorizaram 80% e estão a cotar a níveis de default. O mercado não acredita que a família Espírito Santo consiga honrar os seus compromissos.

Isto significa, e agora passamos à PT, que é altamente improvável que a Rio Forte consiga pagar, nos próximos dias 15 e 17 de Julho, os mais de 900 milhões de euros que lhe deve. Se isso acontecer, Henrique Granadeiro não terá condições para continuar à frente da empresa. Não há líder da PTque consiga resistir à pressão dos accionistas brasileiros da Oi, que querem reduzir a participação da PTna futura empresa que nascerá da fusão PT/Oi (a Corp Co)de 38% para 20%. E por uma simples razão: a concretizar-se, esse será um corte de quase 50% que prejudicará fortemente os accionistas da PT. Émuito dinheiro para não rolarem cabeças.

Voltando ao BES, énecessária uma intervenção do governo, tal como os bancos concorrentes doBES e a imprensa internacional reclamaram nos últimos dias? Passos Coelho já repetiu que não quer tomar essa decisão, mas ainda não é totalmente claro se a realidade não o obrigará a esquecer os seus princípios liberais. Por uma razão: o BES mexe directa e indirectamente com toda a economia nacional.

2. Vítor Bento, o indigitado presidente executivo do BES, deu provas esta semana de que será, de facto, o líder independente de que o banco precisa. Face às críticas de António José Seguro de que a sua nomeação, por indicação do accionista EspíritoSanto Financial Group, seria um exemplo de promiscuidade entre os negócios e a política, Bento foi ao Largo do Rato garantir que “nos sítios onde eu mando (isto é, sou o decisor principal), nunca houve nem haverá interferências partidárias de lado nenhum”, tal como afirmou em exclusivo ao i.


São declarações fortes que atestam a sua independência. Por um lado, porque são as primeiras declarações como presidente indigitado do BES, sendo muito significativo que tenha recusado qualquer tipo de interferências exteriores (no caso, partidárias) na sua primeira intervenção pública. Por outro lado, o recado também é para dentro do BES ao enfatizar que, a partir do dia 28 de Julho, quem manda é ele – e não Ricardo Salgado. A demonstração prática disso passa por uma auditoria geral ao BES. Só assim Vítor Bento conseguirá descobrir todos os esqueletos da família Espírito Santo no armário do BES – e ainda restam muitos por descobrir.

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