Existe apenas um jardineiro permanente para tratar dos quatro hectares
deste espaço centenário. Projecto de requalificação que venceu Orçamento
Participativo da Câmara de Lisboa em 2013 tarda em avançar
Marisa Soares /
5-9-2014 / PÚBLICO
O Jardim Botânico
da Universidade de Lisboa é o único do género no país classificado como
Monumento Nacional, mas essa distinção não lhe tem servido de muito. Ao longo
dos seus quatro hectares, encaixados entre a Rua da Escola Politécnica e a
Avenida da Liberdade, paredes meias com o Parque Mayer, é gritante a
insuficiente manutenção e a degradação dos espaços mais emblemáticos.
A falta de
jardineiros é uma das maleitas de que padece este jardim centenário, integrado
no Museu Nacional de História Natural e de Ciência (MNHNC), da Faculdade de
Ciências. Actualmente há apenas um jardineiro nos quadros, que tem a seu cargo
quase 1500 espécies vegetais dos quatro cantos do mundo, entre as quais estão árvores
de grande porte, como araucárias e palmeiras.
Através do
Instituto do Emprego e Formação Profissional, este ano foram contratadas a
prazo mais quatro pessoas para ajudar na manutenção do espaço, mas “demoraram
três meses a chegar”, o que deixou o jardim numa situação “catastrófica”,
lamenta o director do museu, José Pedro Sousa Dias. “Tememos que volte a
acontecer no próximo ano”.
Além da falta de
pessoal, faltam verbas para assegurar o funcionamento do espaço. “A despesa com
a rega foi sempre um problema muito grande, gastamos anualmente 80 mil euros em
água”, afirma Sousa Dia, acrescentando que as receitas próprias do museu não
chegam para cobrir 20% da despesa total. Apesar de não ter diminuído o número
de visitantes, que ronda os 80 mil por ano, houve uma quebra nas actividades
com as escolas.
O resultado está
à vista: ha plantas a secar, árvores a precisar de poda e palmeiras a morrer —
o escaravelho-vermelho já dizimou algumas e o director do MNHNC receia que a
praga se transforme num “pesadelo”.
Os três lagos que
existem no jardim também estão em mau estado, sobretudo o que está situado na
zona do Arboreto (à esquerda da entrada pela Rua da Escola Politécnica), o
designado Lago de Baixo. Actualmente vazio “devido ao fendilhamento das suas
paredes”, como se lê na página dedicada ao Jardim no site Monumentos, o Lago de
Baixo vai ser um dos alvos da intervenção da Câmara de Lisboa, que tarda em
arrancar.
Com 7553 votos, a
proposta de requalificação do Botânico foi a grande vencedora do orçamento
participativo em 2013, tendo-lhe sido atribuídos 500 mil euros. Mas o projecto
ainda não está pronto. “Há uma série de ideias que estão a ser trabalhadas mas
ainda não há projecto. Os prazos deslizaram um pouco, as obras deviam estar a
começar”, conta Sousa Dias. “Acredito e espero que ainda comecem este ano”,
acrescenta.
Em resposta ao
PÚBLICO, o Departamento de Comunicação da câmara informa que a verba para o
projecto só ficou inscrita no orçamento municipal para 2014. Os prazos de
execução previstos, no total de 18 meses, “contam a partir da aprovação do
orçamento da câmara e não são o prazo para a obra estar concluída, mas sim o
tempo necessário para a elaboração dos respectivos projectos, lançamento de
empreitada, etc.”, afirma. A mesma fonte acrescenta que o projecto está “em
curso, na fase de elaboração do projecto-base de arquitectura paisagista e
respectivas especialidades, fase que antecederá a elaboração do projecto de
execução”.
O valor a ser
investido pela autarquia é “muito pouco” para fazer face a todos os problemas
do Botânico, admite Sousa Dias, mas já é uma ajuda preciosa. Os três objectivos
prioritários, nenhum dos quais ultrapassará 35% do valor total, são a renovação
dos sistemas de armazenamento de água e de rega, a recuperação dos caminhos e de
algum edificado, e a criação de zonas de estar para os visitantes, como
esplanadas, cafetarias e canteiros com relvado.
Além da falta de
pessoal, faltam verbas para assegurar o funcionamento do espaço
Obras custam dois milhões, mas
não há verbas
Os edifícios do
Observatório Astronómico, em pleno Jardim Botânico, estão de tal forma
degradados que se aproximam do “ponto de não-retorno”, lamenta o director do
Museu Nacional de História Natural e da Ciência, José Pedro Sousa Dias. O
projecto para restaurar os imóveis está feito, mas são precisos dois milhões de
euros para avançar com a obra. “Com um milhão de euros já conseguíamos travar a
degradação da parte exterior e da cobertura, sobretudo do edifício superior
[onde ainda existe um telescópio, na cúpula], que é onde a ruína pode ser
irreversível”, afirma. Em 2011, foi apresentada uma candidatura ao Fundo de
Salvaguarda do Património Cultural que, segundo Sousa Dias, foi aceite mas o
dinheiro nunca apareceu. Em Janeiro deste ano foi feita nova candidatura, ainda
sem resposta. O observatório, que era usado para apoio ao ensino na Escola
Politécnica, foi desactivado em 2002 e está interdito há três anos, cercado de
andaimes e tapado por panos já esfarrapados.
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