Magalhães e a condição humana
Por Luís Osório
publicado em 18
Set 2014 in
(jornal) i online
A Fundação
Magalhães continua a gastar dinheiro quando julgávamos que estava morta
Ainda não
refeitos do julgamento do Face Oculta, em que a teia de relações,
cumplicidades, prendas e nomes em código, nos transportou para uma espécie de
regresso de Tony Soprano ao mundo dos vivos, eis que surge mais uma metáfora do
país que somos.
A FCM, conhecida
por Fundação Magalhães, foi anunciada pelo governo como uma das fundações a
extinguir. Passaram três anos e quase meio milhão de euros. E nada, sabemos
agora. Depois de um secretário de Estado celebrar a intenção em prime time, a
fundação assinou mais 17 contratos. O último no passado mês de Junho e, como
vem detalhado na notícia de João d’Espiney, podemos ficar descansados; nos
próximos 365 dias, por muitos problemas que tenha, a FCM não ficará sem limpeza.
Sabemos que
existem diferenças entre fazer campanha eleitoral e governar – os americanos
até gostam de dizer que em campanha se exercita a poesia e na governação as
quadras são substituídas por prosa pura e dura. Sabemos igualmente que há
oposição entre o que é dito publicamente (não só por políticos) e o que
acontece na realidade. São as consequências de vivermos num mundo virtual, onde
nem o dinheiro (ou principalmente o dinheiro) existe materialmente. Um mundo
volátil, onde o que é dito hoje, e marca a agenda noticiosa, é substituído por
outro assunto, e por aí adiante. Uma animação em permanência, onde, de máscara
em máscara, cada vez mais protagonistas se esquecem da sua cara original. E
esquecem o que disseram, prometeram, juraram. Porque cada dia é um dia.
Acontece que o
governo, este e todos os outros, tem maiores responsabilidades. Deve ser um
garante de estabilidade, também no que diz e na forma como o diz. Quando um
ministro fala, e com isso preenche as páginas dos jornais e o espaço nas televisões,
deve existir uma consequência. E neste caso, mais uma vez, o que se prometeu
está por cumprir quase mil dias depois. O Magalhães parece ter dotes mágicos e,
contra ventos, marés e a queda do seu mentor político, José Sócrates, resiste e
resiste e resiste.
A política, como
a democracia, só se pode regenerar se respeitar a sua condição. Com as pessoas
é a mesma coisa. De pouco nos pode ajudar saber se uma pessoa é velha ou nova;
é apenas uma condição. Como ser careca, coxo ou ter os pés grandes. O que distingue
uma pessoa, mesmo que seja uma criança, é o que ela põe à frente dessa
condição. Nada mais.
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