Um festim para
Ricardo Salgado
Por Luís Rosa
publicado em 15
Set 2014 in
(jornal) i online
Quanto maior o
caos no Novo Banco, mais hipóteses terá o homem que afundou o GES de reverter a
sua terrível situação
Ricardo Salgado
deve ser o homem mais feliz do país com o que está a acontecer ao Novo Banco.
No conforto do seu novo escritório no Estoril, assistiu nos últimos dias à
encenação da queda de Vítor Bento e ao aceleramento do desgaste do governador
Carlos Costa. No final, Salgado conseguiu cumprir uma das grandes lições da
história: depois de um grande líder segue-se um líder transitório. E antecipar
o seu objectivo para os próximos meses: Quanto maior o caos, mais hipóteses tem
o homem que afundou o Grupo Espírito Santo de reverter a sua terrível situação.
E a verdade é que
podemos dar as voltas que quisermos que a demissão de Vítor Bento, José Honório
e Moreira Rato da administração do Novo Banco é uma daquelas situações em que
nenhum dos protagonistas fica bem na fotografia. Perdem ambos.
No caso dos
administradores demissionários, porque desistem de um projecto pouco mais de um
mês depois de terem tomado posse e porque abalam ainda mais a confiança do
mercado no Novo Banco. A instituição bancária estava em pleno processo de
recuperação de imagem para conseguir mais clientes, depósitos e investimento -
processo esse que fica agora seriamente comprometido. Sendo certo que, segundo
o "Expresso", já saíram mais de 10 mil milhões de euros em depósitos.
Parafraseando o
próprio Vítor Bento, se os gestores demissionários tinham o "dever quase
patriótico" de aceitar o convite para saírem do BES e entrarem no Novo
Banco, então deveriam ter tentado levar o barco até ao final.
No que diz
respeito a Carlos Costa, ficou ainda mais fraco com a demissão por não ter
conseguido criar as condições para a nova equipa gerir o banco. O governador do
Banco de Portugal, aliás, tem cometido vários erros importantes. O primeiro foi
ter receado Ricardo Salgado por demasiado tempo, o que fez com que o seu
afastamento demorasse mais tempo do que era necessário e, consequentemente, a
situação no BES se agravasse. O segundo foi ter deixado que Salgado tentasse
influenciar a escolha do seu sucessor. O terceiro, e o mais importante, foi ter
dado um apoio público ao aumento de capital social de Junho quando dois meses
depois fez com que esse investimento valesse zero com a medida de resolução
aplicada ao BES.
Por vontade
expressa do governo, Carlos Costa está sozinho em combate. E é também a
principal decisão política do governo, a venda imediata do banco, que
condiciona e leva ao afastamento entre Costa e Bento. O governo quer vender o
Novo Banco até ao final do ano porque não quer ficar com o bebé nos braços em
ano de eleições. A história da nacionalização do BPN ficou na memória de Passos
Coelho: foi nacionalizado em 2008 e apenas foi vendido três anos depois, sendo
que as potenciais perdas para o Estado cifram-se em mais de 5 mil milhões de
euros. O problema é que uma venda apressada faz baixar significativamente o
preço de venda do Novo Banco. Só uma venda acima dos 4,9 mil milhões de euros
poderá salvar Passos Coelho de ser arrastado para furacão do BESgate, porque só
assim os contribuintes não sairão prejudicados.
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