PRIMÁRIAS NO PS
A pressa do PS
Alexandre Homem
Cristo Email
28/9/2014,
OBSERVADOR
Costa tem uma tremenda ambição de governar e montou um projecto que, sem
ideias ou propostas, conseguiu ser apelativo aos socialistas só porque tresanda
a poder.
António Costa
ganhou categoricamente e, agora, os corações socialistas enchem-se de esperança
por um recomeço. Goste-se ou não e diga-se o que se disser, este é um dos
momentos-chave da legislatura. Tudo irá mudar daqui para a frente? Bem, alguma
coisa mudará. Mas a grande mudança é só esta: a pressa.
Seguro, há
tempos, chegou a perguntar qual era a pressa. Chegou mesmo a rejeitar um
cenário negocial, proposto por Cavaco Silva, que lhe garantiria eleições
legislativas antecipadas. Só que a pressa que Seguro teve a menos tem Costa a
mais. Nada os distingue mais do que isso: enquanto Seguro tardou em convencer
que pode chegar a primeiro-ministro, Costa tem uma tremenda ambição de governar
e montou um projecto que, sem ideias ou propostas, conseguiu ser apelativo aos
socialistas e simpatizantes só porque tresanda a poder.
Hoje, ficou claro
que é mesmo isso que os militantes querem – poder. Resultado: a pressão sobre o
Governo e os partidos da maioria irá aumentar muito com Costa na primeira
linha. Até porque, nestas coisas, quanto mais depressa melhor – há que
aproveitar o efeito mobilizador de uma vitória tão clara no partido para
começar a guerra das legislativas.
Ora, sendo esta
questão a grande diferença entre Seguro e Costa, a dúvida é se, agora que
pretende ganhar o país, o lisboeta mudará o partido no essencial: na
incapacidade do PS de propor uma alternativa realista. Sem querer estragar a
festa socialista, tudo indica que não: é que foi precisamente pela ausência de
ideias claras e de alternativas às (más) alternativas de Seguro que a campanha
de António Costa se notabilizou.
Até pode ser interessante
discutir as várias implicações práticas da vitória de António Costa – em termos
de expectativas eleitorais, de potenciais coligações caso o PS vença as
legislativas, de capacidade em unir o partido em torno de si ou da reacção dos
partidos da actual maioria perante um novo adversário. Mas o que interessa
realmente ao país é outra coisa: se António Costa quer mesmo ser
primeiro-ministro, terá de responder às perguntas difíceis a que, habilmente,
se foi esquivando nestes últimos meses. Qual é a sua posição em relação ao
Tratado Orçamental e ao euro? E o que pensa sobre a reestruturação da dívida?
Como pensa fazer baixar o défice sem recorrer à austeridade e que dados apoiam
a exequibilidade da sua solução de pôr a economia a crescer mais? E, por fim,
como pretende defender o Estado Social sem o reformar?
São perguntas
difíceis, mas para as quais Costa precisará de resposta. Quer queira, quer não
queira. É que qualquer debate com Passos Coelho ou Portas será travado no plano
dos números, do concreto, dos tratados e da realidade. E por mais que os
socialistas não gostem das soluções do Governo, elas têm uma lógica. Nem que
seja uma lógica matemática: identificam-se os problemas, assume-se o custo das
soluções e os números batem certo. Não gostar dessas contas não legitima
alternativas irrealistas. O problema dos socialistas europeus, perante a
necessidade de inverter as políticas de endividamento, foi esse. O problema de
Seguro foi esse. E o problema de Costa será esse.
As ilusões trazem
sempre desilusões. A ideia resume bem este percurso de 4 meses de Costa, desde
que assumiu a candidatura à liderança do PS. Nos próximos tempos, o entusiasmo
da vitória poderá fazer esquecer as desilusões, mas não é certo que deixem de
surgir. Afinal, querer ganhar é importante, mas não é
tudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário