EDITORIAL
Uma demissão irresponsável
DIRECÇÃO
EDITORIAL 13/09/2014 - PÚBLICO
O Novo Banco
volta a mergulhar na instabilidade e bem pode a administração que se demitiu, o
Banco de Portugal (BdP) ou o Governo tentar branquear o que se passou com
palavras amenas que o essencial está à vista de todos: nenhum dos protagonistas
quis, ou foi capaz, de defender o interesse do banco, que, nesta fase, é o
mesmo que o interesse nacional.
Por muitas e
fortes divergências que pudesse haver entre Carlos Costa, Vitor Bento e Passos
Coelho (ou os seus ministros), tudo deveria ser feito de modo a evitar que o
banco fosse ferido por mais uma demissão que o deixa outra vez afundar na
deriva. Todos deveriam ter cedido um pouco para evitar uma ruptura que
evidencia crispação e desnorte. E não havendo condições para manter essa
urgência de estabilidade, todos se deveriam ter preocupado em apresentar a
demissão sem vazios de poder – ou seja, já com uma nova administração pronta
para assumir responsabilidades.
Com atitudes
responsáveis e empenhadas em evitar que o pântano do BES se transforme numa
cloaca, seria sempre possível uma solução que não implicasse a transmissão para
o exterior de um clima de guerrilha que torna o banco ingerível. Teria de haver
uma solução no qual o compromisso se sobrepusesse ao despeito e onde os egos
pessoais se subordinassem aos interesses do país. Não foi isso que aconteceu.
Uma oportuna fuga de informação para a imprensa serviu de mote para que Bento e
a sua equipa anunciassem a sua demissão sem que o BdP pudesse ter tido tempo
para os substituir no segundo seguinte.
Bem se sabe que
no interior do banco se vivia há semanas uma paz podre que tornaria a prazo
inviável a continuação de Vítor Bento. O economista e a sua equipa dizem a
verdade quando referem que “as circunstâncias alteraram profundamente a
natureza do desafio com base no qual aceitáramos esta missão em meados de
Julho”. Bento fora nomeado para um projecto de médio ou longo prazo e o BdP e o
Governo optaram por contrariar esta estratégia e decidiram anunciar a venda do
banco o mais depressa possível - uma pressa que coloca sempre o vendedor em
desvantagem. De resto, é legítimo o receio de que os processos judiciais que
vão começar em catadupa ou os estilhaços da comissão parlamentar de inquérito
podem vir a retirar valor ao banco.
Tendo todos razão
parcial, nenhuma das partes poderia ter esticado a corda ao ponto de a fazer
rebentar sobre a frágil situação de um banco convalescente. Todos deveriam ter
tido a preocupação de saber que uma saída intempestiva da direcção do Novo
Banco serviria apenas para agravar a sua imagem de nau sem rumo. Uma vez mais,
a qualidade das instituições da República ficou refém de orgulhos pessoais e
guerras de protagonismo. Uma vez mais, o que é o interesse colectivo foi
subalternizado por aqueles que têm particular responsabilidade em o preservar.
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