Bater em Seguro era um dever. Bater
em Costa será um prazer
Henrique Raposo |
22:29 Domingo, 28
de setembro de 2014 in
EXPRESSO online
1. Os militantes
que se envolveram à pancada em Braga são a personificação do problema criado
pelas primárias. Ao contrário do que se diz, muita democracia não é
necessariamente boa democracia. Ou melhor: uma democracia não é só
eleitoralismo. Um acto eleitoral é uma demonstração de força, não é uma
demonstração de razão ou virtude. É um momento que causa fricção entre dois
pólos, criando ódio e ressentimento. Abusar do acto eleitoral é forçar a
sociedade a estar em permanente contacto com o ressentimento, é forçar a
sociedade a ficar no lado mais primitivo das lealdades caninas. Foi isso que aconteceu
nestas primárias primitivas. Ainda há pouco vimos isso na televisão. Enquanto
Seguro fazia a declaração de derrota, a sala de Costa explodiu em alegria. O
contraste fala por si. Mais: no seu discurso, António Costa não se dirigiu uma
única vez a António José Seguro. Como é que esta gente se sentará à mesa num
conselho de ministros?
2. Para mim,
António Costa é um mistério. Participou nos governos que afundaram o país, mas
tem "boa imprensa". A sala onde fez o discurso de vitória parecia um
conselho de ministros do socratismo, mas tem "boa imprensa". Fez uma
patética gestão da Câmara de Lisboa, mas tem "boa imprensa". Ou seja,
Costa é uma daquelas personagens lisboetas que têm sempre "boa
imprensa". Façam o que fizerem, digam o que disserem, passam sempre entre
os intervalos da chuva e são sempre levados ao colo. Bastava ver a ansiedade
dos jornalistas, "então Dr. Costa, já nos pode dizer que ganhou?",
"então Dr. Costa, já vai fazer o discurso da vitória?" Podiam ao
menos disfarçar um poucochinho. É por isso que será um prazer bater em Costa. Criticar
Seguro era só um dever, mas criticar António Costa será mesmo um prazer. Até
porque ficaram à vista três características que não o recomendam.
Em primeiro
lugar, revelou um carácter vingativo na forma como não se dirigiu ao adversário
desta noite. Em segundo lugar, está rodeado pela gente que enterrou o país, os
socráticos. Só lá faltava o chefinho da tribo. Em terceiro lugar, António Costa
revelou um patético vazio de ideias ao longo desta campanha. Costa não sabe a
realidade que tem pela frente (interna e europeia) ou está deliberadamente a
mentir aos portugueses. O que não surpreende, tendo em conta as companhias.
PS: Dizem-me que
Paulo Campos já está nas TVs a comentar enquanto apoiante de Costa. Dizem-me,
mas acredito. Não pode ser verdade, não é?
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