O socialismo em 2014
VASCO PULIDO
VALENTE 13/09/2014 - 01:14 / PÚBLICO
Insistindo no “crescimento”, nenhum dos dois mágicos do PS percebe que fica
submetido às regras do mercado.
Dois candidatos andam
por aí melancolicamente a explicar ao “povo socialista” o que fariam com o
poder, no largo do Rato ou em Portugal inteiro. A parte mais curiosa deste
peculiar exercício é a concordância final de Seguro e Costa para nos tirar da
miséria em que vivemos. Tanto um como outro acham que o segredo da felicidade
está no “crescimento” da economia. Se a economia “crescesse”, eles mudariam a
Pátria de alto abaixo. Seguro quer mesmo mais. Quer “re-industrializar” um país
que nunca foi industrializado, uma avaria quase metafísica. Mas, no meio disto
tudo, fica uma pergunta perturbadora: onde pára, no “pensamento” destes
próceres, o “povo” que o capitalismo, de propósito ou por acidente, empurrou
pouco a pouco para a pobreza e o desespero?
Presumindo que
nem Costa nem Seguro tencionam ressuscitar a URSS e o dr. Álvaro Cunhal para
reconstruir a próspera sociedade que existia no leste da Europa, só se pode
concluir que eles querem uma sociedade de mercado, com o Estado reduzido a
algumas tarefas de inspecção e regulamentação e com um pequeno banco (o novo
Banco de Fomento) para ajudar de quando em quando meia dúzia de empresas perto
da falência. Em 1970, o nome que se dava a esta actividade dos socialistas era
“gerir com fidelidade o capitalismo”. Agora ninguém acha estranho e muita gente
pede aos Céus que lhe tragam um segundo Cavaco, na pele de Seguro ou Costa, e
um bando de meninos, saídos de fresco da Universidade Católica ou da
Universidade Nova, para tratar dos pormenores.
Insistindo no “crescimento”,
nenhum dos dois mágicos do PS percebe que fica submetido às regras do mercado. O
dinheiro vem de fora (porque não há cá dentro) e com certeza imporá as suas
condições: nas finanças, na justiça, nas leis do trabalho e por aí fora até à
política pura e dura. O Estado Social passará a ser uma preocupação secundária
e a margem de lucro a preocupação principal. Ora o dr. Costa e o dr. Seguro,
empregados públicos desde pequenos, não sabem o que é uma empresa, como ela
funciona e o que precisa para funcionar. O risco para qualquer um deles de cair
na asneira sistemática à portuguesa é enorme e provavelmente inevitável. Olhem
bem para eles, ouçam as conversas pedantes que eles dia a dia nos fornecem e,
depois, tentem imaginar um desses abencerragens a dirigir uma economia. Não se concebe, pois não?
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