domingo, 21 de setembro de 2014

Passos reza por mais novos partidos, por Luís Osório


Passos reza por mais novos partidos
Por Luís Osório
publicado em 22 Set 2014 in (jornal) i online
Cada novo Marinho e Pinto é um ás de trunfo para o primeiro-ministro

Este é um tempo de decadência de várias ideias que dávamos por adquiridas. Reconhecê-lo é o primeiro passo para que a democracia representativa, apesar de todas as imperfeições, possa sobreviver. A caminhar como caminhamos não é líquido que os nossos netos vivam num país com partidos semelhantes a estes.

As pessoas comuns tratam governantes, deputados e políticos como “eles”. E nos corredores do poder o inverso também é verdadeiro: os cidadãos também são “eles” para muitos dos que decidem. O Estado é uma abstracção. Só é real pelos impostos que cobra, mas não o é por aquilo que o faz ser a casa de todos.

Nunca como hoje, se exceptuarmos o pós 25 de Abril, tantos projectos de novos partidos ameaçam nascer. É Marinho e Pinto com o seu movimento populista. É o Livre. É uma dissidência do Bloco de Esquerda. É o Nós que não é para levar a sério. E verá a luz do dia, provavelmente, um partido liderado por uma figura que alguma elite, à direita e à esquerda, julga poder marcar a agenda política. Veremos nos próximos meses.

Este é o principal seguro de vida de Pedro Passos Coelho. Mais do que a melhoria das condições de vida da classe média em ano de eleições, mais do que algum trunfo retirado de uma misteriosa cartola, mais do que as feridas abertas no PS, a sobrevivência política do primeiro-ministro depende do sucesso dos novos partidos. Porque a dispersão tem tudo para o favorecer; Marinho e Pinto, o Livre ou os partidos por criar, serão sempre uma força de oposição ao actual estado de coisas e, naturalmente, retirarão votos aos que estão contra o actual estado de coisas. Num plano teórico, Passos Coelho e Jerónimo de Sousa beneficiarão com a dispersão: os fiéis de um e o outro, PSD e PCP, não mudarão o sentido do voto.

Por isso, a preocupação de António Costa com Marinho e Pinto (não me admirava que surgissem coligados ou tivessem um acordo), por isso também a sua abertura para negociar com Rui Tavares, do Livre. Já António José Seguro, ele próprio numa deriva contra os actuais partidos, não parece ter essa preocupação.  Eis a razão para que Passos Coelho esteja calado e todo o PSD tão disciplinadamente silencioso. Pudera.

Isto é apenas o previsível, o que pode ser dito. Contudo, se na vida acontecesse apenas o que é previsível, o que esperamos de habitual, viver seria apenas um simples exercício resolvido sem máquina de calcular. Um aborrecimento de morte, uma assombração mascarada de virtude. Porque a vida, isto aqui, somos nós perante o inesperado. O resto são pormenores, momentos de felicidade, tédio, falhas, conquistas, intervalos publicitários entre o que não esperamos. Isto é apenas o hoje.

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