Passos reza por mais novos
partidos
Por Luís Osório
publicado em 22
Set 2014 in
(jornal) i online
Cada novo Marinho e Pinto é um ás de trunfo para o primeiro-ministro
Este é um tempo
de decadência de várias ideias que dávamos por adquiridas. Reconhecê-lo é o
primeiro passo para que a democracia representativa, apesar de todas as
imperfeições, possa sobreviver. A caminhar como caminhamos não é líquido que os
nossos netos vivam num país com partidos semelhantes a estes.
As pessoas comuns
tratam governantes, deputados e políticos como “eles”. E nos corredores do
poder o inverso também é verdadeiro: os cidadãos também são “eles” para muitos
dos que decidem. O Estado é uma abstracção. Só é real pelos impostos que cobra,
mas não o é por aquilo que o faz ser a casa de todos.
Nunca como hoje,
se exceptuarmos o pós 25 de Abril, tantos projectos de novos partidos ameaçam
nascer. É Marinho e Pinto com o seu movimento populista. É o Livre. É uma
dissidência do Bloco de Esquerda. É o Nós que não é para levar a sério. E verá
a luz do dia, provavelmente, um partido liderado por uma figura que alguma
elite, à direita e à esquerda, julga poder marcar a agenda política. Veremos
nos próximos meses.
Este é o
principal seguro de vida de Pedro Passos Coelho. Mais do que a melhoria das
condições de vida da classe média em ano de eleições, mais do que algum trunfo
retirado de uma misteriosa cartola, mais do que as feridas abertas no PS, a
sobrevivência política do primeiro-ministro depende do sucesso dos novos
partidos. Porque a dispersão tem tudo para o favorecer; Marinho e Pinto, o
Livre ou os partidos por criar, serão sempre uma força de oposição ao actual
estado de coisas e, naturalmente, retirarão votos aos que estão contra o actual
estado de coisas. Num plano teórico, Passos Coelho e Jerónimo de Sousa
beneficiarão com a dispersão: os fiéis de um e o outro, PSD e PCP, não mudarão
o sentido do voto.
Por isso, a
preocupação de António Costa com Marinho e Pinto (não me admirava que surgissem
coligados ou tivessem um acordo), por isso também a sua abertura para negociar
com Rui Tavares, do Livre. Já António José Seguro, ele próprio numa deriva
contra os actuais partidos, não parece ter essa preocupação. Eis a razão para que Passos Coelho esteja
calado e todo o PSD tão disciplinadamente silencioso. Pudera.
Isto é apenas o
previsível, o que pode ser dito. Contudo, se na vida acontecesse apenas o que é
previsível, o que esperamos de habitual, viver seria apenas um simples
exercício resolvido sem máquina de calcular. Um aborrecimento de morte, uma
assombração mascarada de virtude. Porque a vida, isto aqui, somos nós perante o
inesperado. O resto são pormenores, momentos de felicidade, tédio, falhas,
conquistas, intervalos publicitários entre o que não esperamos. Isto é apenas o hoje.
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