Keeping up with the Antónios
José Diogo
Quintela / 28-9-2014 / PÚBLICO
Desde que, em
1960, os debates entre John Kennedy e Richard Nixon foram televisionados,
percebeu-se que a imagem dos políticos é fundamental. Kennedy, com o seu
estupendo ar jovem e bronzeado, ganhou a um Nixon pálido e de barba por fazer.
Passados 54 anos, a imagem ainda conta. No debate entre Seguro e Costa, o
vencedor foi Kennedy. Seguido de Nixon. Ambos ficaram com melhor imagem do que
os Antónios, uma vez que estão mortos e não participaram naquele escarcéu
indecoroso.
A TVI cometeu um
erro tremendo ao estrear a Casa dos Segredos antes do fim da campanha para as
Primárias do PS. Não é por acaso que se inscreveram 150 mil simpatizantes no PS
e apenas 105 mil concorrentes no reality show. O povo português demonstrou bem que,
em termos de escandaleira e baderna pública, a dupla Seguro & Costa ganha a
um conjunto de cobaias tatuadas a participar numa experiência sociológica.
Aliás, como a
Casa dos Segredos começou na semana passada e as Primárias do PS são hoje,
houve potenciais participantes que optaram por não entrar no programa da TVI
para não perderem o último bate-boca dos Antónios. Em termos de baixo nível, é
como marcar um jogo de futebol entre amigos para a mesma hora da final da
Champions. Há jogadores amadores que preferem ficar em casa a ver os
profissionais jogarem.
Lembremo-nos de
que Costa e Seguro são profissionais da grosseria, andam nisto há anos e estão
em excelente forma. Basta ver que, pela primeira vez, os candidatos a eleições
não precisaram de visitar nenhuma praça para haver peixeirada.
A campanha foi
tão ordinária que parecia o reality show americano Keeping up with the
Kardashians, só que com mais acusações de traição entre os protagonistas. E com
nádegas menos anafadas. O momento no último debate em que os candidatos se
confrontaram por terem gravatas iguais foi igualzinho à cena em que uma das
irmãs Kardashian, cujo nome começa por K, apareceu com um top igual ao de outra
irmã Kardashian (aquela cujo nome também começa por K e não uma das outras cujo
nome também começa por K), seguindo-se rebaldaria familiar rasteira.
Há outras
semelhanças entre o programa que acompanha a vida das galdérias Kardashian e a
campanha das Primárias. Por exemplo, aprende-se imenso sobre o que é que os
intervenientes pensam sobre as falhas de carácter dos outros e sobre as suas
próprias qualidades. Aprende-se também que, quer as Kardashian quer os
Antónios, não têm uma única ideia para Portugal. Se bem que uma das irmãs cujo
nome começa por K fez há tempos uma observação muito pertinente sobre o nível
de serviço nos hotéis do Norte de África, em que Portugal estava incluído. Se
quisermos ter uma ideia do que sucedeu na campanha, já será uma ideia a mais do
que os candidatos tiveram.
Agora, aconteça o
que acontecer, António José Seguro será sempre vencedor. Mesmo que perca, a sua
bandeira da redução do número de deputados será hasteada. Depois desta campanha
tão rasca, é provável que o número de deputados vá mesmo diminuir. Tudo bem que
será o número de deputados do PS, mas há que começar por algum lado.
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