Rui Moreira apresenta proposta de
alteração à lei das rendas, para “proteger” estabelecimentos históricos
PATRÍCIA CARVALHO
23/09/2014 - PÚBLICO
Autarca quer que cafés e lojas "com tradição" com interesse
municipal tenham tratamento de excepção no Novo Regime do Arrendamento Urbano
O executivo da
Câmara do Porto aprovou, esta terça-feira, uma recomendação do presidente Rui
Moreira para que seja introduzida uma alteração à proposta de Lei que altera o
Novo Regime do Arrendamento Urbano. Moreira pretende que o regime de excepção
que deverá ser integrado naquele regime integre actividades de interesse
municipal e não apenas de interesse nacional. Uma declaração que deve ser
proposta pelo município e homologada pelo secretário de Estado da Cultura,
defende o documento que a câmara irá enviar à Associação Nacional de Municípios
Portugueses (ANMP) e que contou apenas com a abstenção do PSD.
Rui Moreira já
anunciara, na passada sexta-feira, que a câmara iria utilizar “todos os
recursos legais” para impedir que cafés ou lojas históricas do Porto fossem
expulsas por via do novo regime de arrendamento. Agora, o autarca concretizou
um primeiro passo nesse sentido, na proposta enviada à ANMP, que tinha
solicitado o envio de contributos das autarquias até ao meio-dia de quarta-feira,
24 de Setembro.
No documento,
disponibilizado aos jornalistas no final da reunião privada do executivo, o
presidente da câmara defende que “a Lei [do Arrendamento Urbano] deve assegurar
um modelo que proteja os estabelecimentos comerciais cujo valor identitário e
patrimonial o justifiquem, nomeadamente os cafés históricos e as lojas de
tradição, mediante decisão da respectiva câmara municipal, validada pelo
secretário de Estado da Cultura, abrangendo assim os casos respeitantes a
contratos de arrendamento não habitacionais anteriores à entrada em vigor do
Decreto-Lei n.º 257/95, de 30 de Setembro, em que nos locados se encontrem
estabelecidas entidades que prossigam uma actividade declarada de interesse
municipal”.
Rui Moreira
frisou que não se opõe ao aumento de rendas, mas à possibilidade de um
proprietário “poder dizer, ao fim de cinco anos, que não está interessado” na
continuidade do negócio que ali estava instalado. É este o caso de um dos cafés
mais conhecidos da cidade, o Guarany, conforme denunciou já em Janeiro deste
ano a AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.
Na altura, a
AHRESP alertou para o caso do café Majestic, que tinha sofrido um aumento de
renda dos 969 euros para os 9 mil euros e do Guarany, que vira a renda subir de
mil euros para 3500, com a agravante de lhe ter sido apresentado um contrato de
arrendamento de apenas cinco anos, findo o qual, deveria sair.
O café inaugurado
em 1933 foi alvo de um investimento na ordem de um milhão de euros, por parte
dos novos arrendatários, em 2003, mas a AHRESP indicava, em Janeiro que a marca
Guarany “é de uso exclusivo do proprietário, pelo que o fim do contrato de
arrendamento significará também o fim do café Guarany”.
Na semana
passada, Rui Moreira disse que, “no último” poderia recorrer à expropriação,
caso estivesse em causa a continuidade de estabelecimentos como o Guarany. A
posição do autarca foi muito criticada pela Associação de Proprietário
Lisbonenses, que o acusou de fazer “declarações e ameaças ilegais e
antidemocráticas”. Esta terça-feira, o autarca teve uma curtíssima reacção:
“Dizer apenas que é a Associação de Proprietários Lisbonenses… Ficaria muito
incomodado se gostasse do presidente da Câmara do Porto”.
Amorim Pereira,
do PSD, justificou a abstenção do PSD com o facto de a proposta “não servir
para nada”, já que, de acordo com o vereador, “não existirem instrumentos
jurídicos que permitam discriminar positivamente certos estabelecimentos em
detrimento de outros”. Pedro Carvalho, da CDU, votou a favor, por considerar a
proposta como “um mal menor”, já que, defende, “a lei está mal feita” e as excepções
consideradas pelo Governo “são uma solução temporária, que não resolvem o
problema”.
Sem comentários:
Enviar um comentário