“Movimento que apoiou Rui Moreira
tem condições para se manter intacto” até 2017
MARGARIDA GOMES
21/09/2014 - PÚBLICO
O facto de a eleição do presidente da Câmara do Porto não ter decorrido no
quadro de um partido tem-lhe trazido custos de funcionamento interno no
executivo. No entanto, Rui Moreira tem condições para “manter de forma intacta”
o capital que foi conquistado em Setembro de 2013.
Rui Moreira, o
independente que os portuenses escolheram para dirigir os destinos da cidade,
está debaixo de um permanente escrutínio, mas isso não o incomoda. Ancorado no
Movimento “O Meu Partido é o Porto”, a sua governação é acompanhada de perto
pelos eleitores que votaram nele e seguida atentamente a nível nacional onde a
projecção dos interesses estratégicos dos partidos e dos seus líderes é muito
evidente.
Eleito num
contexto político favorável ao aparecimento de movimentos independentes dada a
descredibilização dos partidos e da classe política, mas também pelo facto de
uma parte significativa do PSD o ter apoiado por não se rever na candidatura de
Luís Filipe Menezes, o independente Rui Moreira tem conseguido passar uma
imagem de que está a cumprir o programa eleitoral a que se propôs.
A aliança com o
PS permite-lhe ter a câmara a funcionar e deixa-o livre para a acção política.
“Rui Moreira vai chegar ao próximo mandato e vai fazer as alianças com quem
quiser, o que lhe permite fazer um segundo mandato como quiser. Isto é, nenhum
dos partidos vai ter o atrevimento de apresentar um candidato alternativo a
ele”, disse ao PÚBLICO uma fonte social-democrata.
Manuel Meirinho,
presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) de
Lisboa, afirma que o movimento que apoiou o presidente da câmara “foi dos que
mais conseguiu distanciar-se da porosidade que normalmente perpassa este tipo
de movimentos, que são facilmente independentes, mas que depois têm diferentes
graus de entrosamento com outros partidos”. “O movimento de Rui Moreira tem
condições para se manter, porque depende da maneira como é exercido o poder”,
assegura ainda Meirinho.
Ao PÚBLICO, o
professor de Ciência Política sublinha que “apesar de tudo o autarca não tem sofrido
grande erosão com o exercício do poder”. E esse facto - frisa - “pode manter
intacto o capital que foi conquistado” em Setembro de 2013. Mas Meirinho deixa
um aviso: “Estes movimentos só sobrevivem se não tiverem que fazer muitas
cedências aos partidos”.
Para Ana Maria
Belchior, também professora do ISCSP de Lisboa, “o facto de Rui Moreira ter
sido eleito com uma base de apoio heterogénea trouxe-lhe dividendos em termos
de resultados eleitorais, mas traz-lhe também agora dissabores em termos de
gestão de funcionamento do executivo camarário”. E explica que “a sua lista [à
Câmara do Porto] não pode contar com a coesão que decorre da eleição de um
executivo por um mesmo partido (ou mesmo coligação), nem Rui Moreira é
incontestavelmente reconhecido como a figura que, num quadro institucional
partidário, detém legitimidade e poder para gerir o executivo, ou pelo menos
isso é o que deixa antever a rivalidade com o seu número dois [Manuel Sampaio
Pimentel] ”.
Sublinhando que a
sua eleição não decorreu no quadro de um partido, “e isso tem-lhe trazido
custos de funcionamento interno do executivo”, Ana Maria Belchior observa,
porém, que esse facto “não quer dizer que esta seja uma consequência subjacente
aos executivos de liderança independente; quer apenas dizer que é um risco que
correm”.
A investigadora
do ISCSP alerta para consequências em termos do apoio social e diz que ”o
eleitorado da ala do CDS que contribuiu para a eleição do presidente poderá
olhar com desencanto para a tensão que se tem registado entre Rui Moreira e o
vereador democrata-cristão, Sampaio Pimentel”. E conclui que “quanto às
consequências para um segundo mandato, é demasiado cedo para qualquer expectativa”.
Já André Azevedo
Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica,
considera que “o exercício do poder implica necessariamente compromissos e a
governação de uma autarquia com a complexidade da do Porto, não é excepção”.
Em declarações ao
PÚBLICO, defende que “o problema para Rui Moreira poderá colocar-se não na
realização de compromissos em si mesmos, mas sim se esses compromissos forem
percepcionados como colocando em causa aspectos fundamentais para a base
eleitoral que elegeu o actual presidente da Câmara do Porto”.
André Azevedo
Alves sustenta, por outro lado, que “para uma personalidade com o perfil de Rui
Moreira, a gestão das ligações com os partidos é uma tarefa complexa, já que
existe uma tensão permanente entre o perfil de independência e a realidade
quotidiana dos partidos”. E neste contexto concede que “os problemas sentidos
em relação ao CDS não surpreendem, ainda mais considerando o crescente peso do
PS na governação da autarquia, seja por via do protagonismo público assumido
pelo vereador Manuel Pizarro, seja por outras figuras que actuam nos bastidores
ao nível dos gabinetes”.
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