Emissão de gases. Concentração de CO2 bate recorde em
30 anos
Por Marta Cerqueira
publicado em 10 Set 2014 in (jornal) i online
Desde 1984 que não eram
registados valores de CO2 tão elevados. Investigadores alertam para a
concentração de gases nos oceanos, que afectam a biodiversidade
Entre 2012 e 2013, a taxa de acumulação de dióxido de
carbono na atmosfera teve a sua maior subida desde 1984. E como quando se fala
em ambiente, os recordes acontecem em cadeia, os valores relativos ao ano
passado levam os especialistas a acreditar que a concentração de gases com
efeito de estufa atingiram valores máximos, prevendo que ultrapasse o a marca
dos 400 ppm - partes por milhão, uma medida de concertação para soluções muito
diluídas - em 2015 ou 2016, tal como previu a Organização Meteorológica Mundial
(OMM).
Ontem, em Genebra, a agência especializada das Nações Unidas
apresentou um novo relatório que indica que a concentração de CO 2 na atmosfera
subiu 142% face ao que era na época pré-industrial, enquanto as de metano e
óxido nitroso subiram, respectivamente, 253% e 121%, segundo o documento.
O oceano, florestas e os seres vivos absorvem cerca de um
quarto das emissões totais de CO 2, limitando assim o crescimento de dióxido de
carbono na atmosfera. O texto explica que uma maior concentração de gases pode
ficar a dever-se ao facto da "biosfera ter absorvido menos CO 2, enquanto
as emissões de gás continuaram a aumentar", uma descoberta que surpreendeu
os cientistas. A última vez que se constatou uma redução no nível de absorção
da biosfera foi em 1998, quando houve um pico de queima de biomassa, aliado a
um forte El Niño. Tendo em conta que 2013 não foi um ano de fenómenos extremos,
os investigadores consideram a situação "mais preocupante",
principalmente por não ser ainda possível concluir se estamos perante um
fenómeno temporário ou permanente. "É possível que a biosfera tenha
atingido o seu limite, apesar de não o conseguirmos afirmar com certeza",
referiu Oksana Tarasova, chefe da divisão de pesquisa atmosférica da OMM.
Os dados divulgados no estudo revelam que, entre 1990 e
2013, a permanência de gases como o o dióxido de carbono, o metano e óxido
nitroso na atmosfera contribuirão para um aumento de 34% no aquecimento global.
No entanto, esse aumento não se reflectiu na temperatura global, levando a
acreditar que o aquecimento global estaria numa fase mais estável. Mas tal como
lembra Oksana Tarasova, "o sistema climático não é linear, não é simples.
As consequências não se reflectem necessariamente na atmosfera, o calor tem ido
para os oceanos".
Apesar das temperaturas não terem subido ao mesmo ritmo que
a concentração de gases, o facto que o calor se concentrar no mar pode não ser
sinónimo de alívio. De acordo com os especialistas, a absorção de CO 2 pelos
oceanos acarreta graves consequências. "O ritmo actual de acidificação dos
oceanos parece não ter precedentes em pelo menos 300 milhões de anos",
lê-se no estudo.
Actualmente, os oceanos absorvem cerca de quatro quilos de
CO 2 por dia e por pessoa. A absorção de quantidades significativas deste gás
pelos mares do planeta modifica o ciclo dos carbonatos marinhos e desencadeia
uma acidificação da água do mar. "O dióxido de carbono permanece durante
centenas de anos na atmosfera e ainda por um maior período de tempo no oceano.
O efeito acumulado das emissões do passado, presente e futuro deste gás terá
repercussões tanto no aquecimento global como na acidez dos oceanos",
advertiu o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
Alerta: emissões devem
diminuir cinco vezes mais rápido
Países do G20 estão a ficar para trás na redução da poluição
As actuais políticas para a redução das emissões de gases
com efeito de estufa não são suficientes e podem levar a níveis de aquecimento
global perigosos até ao final deste século. Esta é a principal mensagem deixada
pela consultora PwC, na apresentação do
relatório anual “Low Carbon Economy Index”, baseado nas emissões de
gases pelos países do G20.
Segundo os analistas, os governos devem reduzir as emissões
de carbono em 6,2% ao ano, comparado com os actuais 1,2%, relativos a dados
entre 2012 e 2013. Estes são valores compatíveis com o objectivo das Nações
Unidas em limitar o aumento da temperatura a menos de dois graus acima dos
valores registados na era pré-nindustrial, valor máximo para que não aconteçam
ondas de calor, inundações, aumento do nível dos mares de forma frequente.
Recorde-se que as temperaturas médias já subiram cerca de 0,85 graus.
“A diferença entre o que temos conseguido e aquilo que temos
que fazer está a crescer a cada ano”, esclareceu Jonathan Grant, director do
departamento de sustentabilidade e alterações climáticas da PwC. Para o
responsável, “as actuais promessas governamentais colocam os países mais perto
de aumentar o limite para os três
graus”.
No topo do ranking das economias com maior evolução está a
Austrália, que conseguiu diminuir a taxa de emissões de carbono em 7,2% em
relação a 2013. Também o Reino Unido, Itália e China conseguiram diminuir as
emissões, com taxas de redução que variam entre os 4 e os 5 %. No lado
contrário da lista estão a França, Estados Unidos, Índia, Alemanha e Brasil que
têm vindo a aumentar a concentração de CO2 na atmosfera.
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