Horta Osório é o novo rei
De Londres ou Nova Iorque, o banqueiro influencia os destinos do país Horta
Osório é o novo rei
Por Luís Osório
publicado em 16
Set 2014 in
(jornal) i online
Para o poder,
qualquer que seja, o mais terrível é o espaço vazio, o vácuo.
Por isso, na
política, nas empresas, nas igrejas ou nos enredos de novelas televisivas, a um
líder tem de suceder outro. O país, os países, precisam de novas estrelas e
protagonistas; as sociedades fortemente mediatizadas dependem disso, são
sustentadas a partir desse pressuposto.
No rescaldo do
complexo caso BES, e da brutal queda de Ricardo Salgado, assistimos a uma
terceira revolução do sistema financeiro português. Aos velhos banqueiros,
sentados em poltronas Estado Novo, bem-nascidos e auto-suficientes, sucedeu um
poder alicerçado numa gestão e em gestores profissionais. A oligarquia,
corporizada em velhas famílias, passava à história com o advento (potenciado
pelo marcelismo e mais tarde pela democracia) de figuras como Cupertino de
Miranda, Câmara Pestana e Jorge Jardim Gonçalves. No final da década de 1980, a família Espírito
Santo regressou de longo exílio e Ricardo Salgado foi apresentado como o melhor
de dois mundos: legitimado pelos genes e filho de um novo tempo. Um velho
banqueiro comprometido com a modernidade. Tinha tudo para dar certo.
O BCP de Jardim
tornou-se maior que o país. E Ricardo Salgado julgou, ele próprio, ser um homem
providencial; a um homem assim as coisas não podem correr mal. Engano pueril
que toca a todos: acaba sempre por correr mal, fatal como o destino.
A morte do BES
deixou um espaço livre. Que acaba de ser preenchido por um protagonista que é o
primeiro rei desta nova dinastia: ao banqueiro bem-nascido e ao banqueiro
profissional acaba de suceder o banqueiro estrangeirado. António Horta Osório
ocupou o lugar vago de grande senhor de um novo tempo. Bem-nascido, gestor
profissional e filho legítimo da globalização. De um arranha-céus em Londres ou
Nova Iorque, longe da pátria, mas a influenciar o destino do que por cá se vai
decidindo. No Novo Banco, com a escolha de Eduardo Stock da Cunha, seu homem de
confiança no Lloyds. No BCP, com a ascensão de Nuno Amado, seu anterior
braço-direito no Santander-Totta. Um novo paradigma que veio para ficar. E que
terá seguidores, veremos quem mais.
Um poder
construído a partir de fora, de um exterior à distância de uma tecla num mundo
que, sendo virtual e feito de informação, é o que sempre foi: um espaço onde
homens e mulheres lutam pelos melhores lugares à mesa. Veremos como acaba. E
veremos também das consequências práticas. Para já, um prognóstico arriscado. Ao
contrário do que alguns dizem, o Novo Banco não será comprado pelo Santander. Não
creio que Stock da Cunha, com tantos holofotes apontados, e tendo passado pela
gestão do banco espanhol em Portugal, aceitasse ser acusado de facilitador. Talvez
vá para Espanha, não para o Santander. Isto se Artur Santos Silva e Fernando
Ulrich perderem outra vez a hipótese de serem maiores. Veremos.
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