António Costa deixa sem resposta
dúvidas da assembleia municipal sobre a sua continuidade na câmara
INÊS BOAVENTURA
30/09/2014 - PÚBLICO
O PSD insiste em saber quando é que o autarca vai abandonar o município e
diz que Fernando Medina tem “muito a provar em relação à condução política da
cidade e do executivo”.
Aos jornalistas, António Costa ainda deu algum tipo de resposta às
perguntas sobre a sua permanência na Câmara de Lisboa. Disse que não há
qualquer “impedimento” a que continue, “para já”, a exercer o seu mandato.
Pior sorte
tiveram os deputados da Assembleia Municipal de Lisboa, cujas interpelações
sobre o assunto foram pura e simplesmente ignoradas pelo ainda presidente do
município.
À entrada para a
reunião da assembleia municipal desta terça-feira, o vencedor das eleições
primárias do PS negou, em declarações à comunicação social, que houvesse algum
esclarecimento a dar sobre a sua continuidade na autarquia. “Não há nada a
clarificar. O meu mandato na câmara municipal é até 2017, não creio que tenha
acontecido alguma coisa que tenha constituído um impedimento para este
mandato”, disse.
“Para já
exercerei o meu mandato, que é o que me compete fazer”, afirmou ainda,
acrescentando que “quando” houver “alguma coisa a clarificar” o fará.
Como já era
previsível, no interior da assembleia municipal, os deputados do PSD, mas
também do CDS e do BE, voltaram a abordar o assunto, insistindo com António
Costa para que esclarecesse quando planeava abandonar a presidência do
município.
“Todos têm o
direito de saber com o que contam para o futuro da sua cidade”, defendeu o
social-democrata Sérgio Azevedo, pedindo ao socialista que clarificasse, “sem
rodeios e sem fugas para a frente”, quando vai abandonar a câmara. “É um
esclarecimento pela transparência de quem exerce cargos públicos e pela
responsabilidade que é devida aos lisboetas”, sustentou o líder da bancada do
PSD.
Sérgio Azevedo
criticou ainda a “ausência” do presidente da câmara “nestes últimos meses”,
dizendo que ela “prejudicou não só o funcionamento da sua equipa como
transtornou a vida aos lisboetas”. “A equipa ressentiu-se com a ausência do
líder, claudicou, hesitou, desmontou-se”, acrescentou o social-democrata,
sustentando que as primárias do PS tiveram um “vencedor”: “a cidade de Lisboa
que, finalmente, está perto de ter um presidente que a ela se dedique a tempo
inteiro”.
António Costa
assistiu a todas as intervenções, ou “declarações políticas” como lhes chama o
regimento da assembleia, e no final optou por deixar sem qualquer resposta
todas aquelas que tinham a ver com a situação criada pelas eleições do passado
domingo. António Costa preferiu centrar o seu discurso na rejeição da
necessidade de portagens à entrada de Lisboa e na insistência da oposição do
município à privatização da Empresa Geral de Fomento.
O autarca também
se pronunciou sobre o Plano de Drenagem, tema que foi suscitado pelo BE. António
Costa sublinhou a necessidade de a EPAL clarificar se vai adquirir a rede de
saneamento em baixa, através de um acordo que incluiria a assunção pela empresa
da responsabilidade pelas obras previstas naquele plano. Se isso não acontecer,
afirmou, a autarquia terá de preparar “imediatamente” uma candidatura ao Fundo
de Coesão.
A atitude de
António Costa não deixou de ser criticada pelo líder da bancada do PSD na
assembleia municipal, que em declarações ao PÚBLICO acusou o socialista de ter
criado “um tabu que não se compreende”. Em relação a Fernando Medina, Sérgio
Azevedo sublinhou que o número dois da câmara tem uma legitimidade “diminuída”,
além de ter “muito a provar em relação à condução política da cidade e do
executivo”.
Pelo PS, João
Pinheiro acusou a oposição de “uma tentativa de aproveitamento político não
muito sofisticado”, acrescentando que “o que se perspectiva é uma mudança
tranquila”. Já Rui Paulo Figueiredo, líder da bancada socialista, sublinhou
que, ao contrário do que foi dito noutros fóruns por elementos de partidos da
oposição, “não se coloca nenhum cenário de eleições intercalares” e “não existe
nenhum marasmo na câmara nem na assembleia”.
O deputado
socialista considerou ainda que Fernando Medina “será um grande presidente de
câmara, na linha de acção de António Costa, João Soares e Jorge Sampaio”. “Sempre
que o PS lidera, a câmara avança”, concluiu Rui Paulo Figueiredo, que era
apoiante de António José Seguro e que arrancou gargalhadas a todos os presentes
quando disse que até domingo estava “muito mais seguro” e que depois disso
todos os militantes e simpatizantes do PS “deram à costa”.
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