Sarkozy volta à vida política e
promete mudar tudo
CLARA BARATA
19/09/2014 - PÚBLICO
Ex-Presidente francês anunciou regresso através do Facebook e vai disputar
presidência do partido que liderava, a UMP. O primeiro comício já está marcado.
Nicolas Sarkozy
anunciou o regresso à vida política e a intenção de se candidatar às eleições
de Novembro para a presidência do seu partido, a UMP (centro-direita) , através
de uma mensagem no Facebook.
Após perder a
reeleição nas eleições presidenciais que disputou com François Hollande, em
2012, Sarkozy anunciou que deixava a vida política. “Não vão ouvir mais falar
de mim”, prometeu. Mas foram-se acumulando os rumores de que tinha vontade de
voltar ao partido que praticamente se desfez num combate de facções – e que
abriu falência porque as contas da campanha das presidenciais não foram
aprovadas.
Mas afinal
Sarkozy regressa para o seu partido, sim. E fá-lo um dia depois de uma das duas
conferências de imprensa anuais do Presidente francês, que François Hollande,
com 13% de popularidade, ultrapassou penosamente na quinta-feira. É o regresso
dos dois pólos opostos da política francesa, um é “tão hiper como outro é
hipo”, como comentou Françoise Fressoz no Le Monde. Se Hollande se fez eleger
como o “anti-Sarkozy”, o ex-Presidente tenta o regresso como o “anti-Hollande”.
O salvador
Para a UMP,
Sarkozy é um salvador. Ele não só continua a ter indefectíveis apoiantes como
tem novos amigos surpreendentes. Por exemplo, Dominique Villepin, o
ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac, de quem se tinha tornado inimigo
jurado, pois Villepin considerava que Sarkozy o tinha incriminado no processo
judicial Clearstream. Agora fizeram as pazes. “Sarkozy mudou. Aprendeu com a
experiência do poder", declarou Villepin na semana passada numa rádio, já
depois de ter dito que apoiaria o regresso de Sarkozy.
O ex-Presidente
fala do seu regresso como uma espécie de imperativo moral: “Vi crescer como uma
onda inexorável a rejeição, a cólera face ao poder, e de forma mais ampla em
relação a tudo o que tenha que ver, de perto ou de longe, com a política.” É
uma facada para Hollande, que quebra recordes de impopularidade.
No entanto,
Sarkozy não fez a sério a sua travessia do deserto. “Ele não saiu
verdadeiramente da paisagem política. Regressa sem ter nunca partido. Não se
deu o tempo suficiente de penitência que permita suscitar o perdão. Isso é uma
desvantagem para ele”, comentou ao Le Monde o historiador Christian Deporte,
autor do livro Come back! Ou l’art de revenir en politique.
Sarkozy sempre
disse que, se regressasse, só seria pela porta grande: “A pequena política
acabou para mim. Já não me interessa”, comentou em Setembro de 2013, citado
pelo Le Monde. Mas já tem o primeiro comício marcado para quinta-feira.
Agora o que
propõe para as eleições partidárias de 29 de Novembro é refundar a UMP: “Sou
candidato à presidência da minha família política. Proponho transformá-la
profundamente, para criar, no prazo de três meses, as condições de um novo e
vasto projecto que se apresentará a todos os franceses, sem espírito sectário,
ultrapassando as clivagens tradicionais, que hoje em dia já não correspondem a
nada.”
Segundo o Le
Monde, a construção deste novo partido passaria ainda por uma mudança de nome.
A UMP – União para um Movimento Popular – está demasiado desacreditada e
envolvida em processos, como o caso de facturas falsas Bygmalion, que forçou a
demissão do líder Jean-François Copé e que tem que ver precisamente com as
contas da campanha presidencial de Sarkozy. Outra possibilidade é a venda do
edifício-sede do partido, em Paris.
Para as eleições
de Novembro na UMP avançaram já as candidaturas de Bruno Le Maire, e de Hervé
Mariton.
Os casos
Mas o
ex-Presidente tem-se revelado tudo menos livre de suspeita nestes últimos dois
anos. Multiplicam-se as investigações judiciais sobre a sua actuação durante os
seus tempos na presidência. Em Julho, após ter sido detido para interrogatório
durante 15 horas, foi constituído arguido num inquérito sobre tráfico de
influências e corrupção, que envolve um juiz que interveio num outro processo
em que Sarkozy está a ser investigado.
A actual
directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde está também a ser formalmente investigada por
alegada negligência, num processo de indemnização do empresário Bernard Tapie,
amigo de Sarkozy, quando era ministra das Finanças. A suspeita é de que terá
sido leniente a pedido do Presidente.
Com todas estas
questões na justiça, a sua popularidade não está ao melhor nível. Uma sondagem
do Instituto Soffres para a Figaro Magazine, feita no final de Agsoto, dá-lhe
30% de opiniões positivas, com tendência decrescente desde o início do ano. Mas
disputar as presidenciais de 2017 é claramente o objectivo último de Sarkozy.
Neste momento, o único rival de peso que se já se declarou para disputar as
primárias no seu campo é Alain Juppé, um dos três homens que actualmente
partilham a direcção da UMP. Mas, segundo o Le Monde, Sarkozy, de 59 anos, diz
não o considerar um rival credível, sublinhando que em 2017 ele terá 71 anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário