Circuito pedonal com 16 paragens
dá a conhecer a Cerca Velha de Lisboa
O objectivo da câmara, que instalou totens com informação ao longo de todo
o trajecto, é “resgatar a memória histórica e arqueológica da cidade”, mas
também criar “um novo produto turístico-cultural”
1500 Metros, é a extensão deste circuito pedonal, que vai da Rua do Chão da
Feira à Rua do Milagre de Santo António
Inês Boaventura /
27-9-2014 / PÚBLICO
O percurso não
tem mais do que 1500 metros e pode ser facilmente percorrido em apenas 50
minutos, mas ir da Rua do Chão da Feira à Rua do Milagre de Santo António
significa realizar uma viagem pela história milenar de Lisboa. Ao longo deste
trajecto há agora 16 totens, que dão a conhecer a Cerca Velha, o sistema
defensivo medieval que perdurou até à construção da muralha fernandina no
século XIV.
Este novo
circuito pedonal foi ontem inaugurado pela Câmara de Lisboa, por ocasião das
Jornadas Europeias do Património. A ideia é que lisboetas e turistas possam
percorrê-lo sozinhos, com a ajuda de um mapa que vai estar disponível nalguns
pontos turísticos da cidade, ou então integrados numa das visitas guiadas que o
município promete realizar.
Ao todo, há 16
pontos de paragem sugeridos, e em cada um deles há um pedaço da história da
Cerca Velha para conhecer (alguns deles visíveis, outros não), através da
informação constante nos marcos colocados nos passeios e nas placas afixadas nos
edifícios. Aquilo que se sugere é que a visita comece na Rua do Chão da Feira,
junto ao Castelo de S. Jorge, onde a cerca classificada como monumento nacional
se ligava à Muralha da Alcáçova.
Segundo a
autarquia, que através do Museu da Cidade realizou nos últimos anos um projecto
de estudo e valorização da Cerca Velha, este monumento estendia-se depois por
cerca de 1250 metros, ao longo dos quais tinha seis portas e mais de duas
dezenas de torres. É no segundo ponto de paragem, no Pátio D. Fradique, que se
encontra o mais extenso troço visível da muralha.
Mais à frente, no
Largo das Portas do Sol, destaca-se o antigo Palácio Azurara, em cuja fachada é
visível uma torre da Cerca Velha. Já na Rua Norberto de Araújo ergue-se,
apoiada na escarpa rochosa, aquele que é o único troço visível da cerca da
época islâmica.
Antes de se
passar pela Torre de S. Pedro, que chegou a ser usada como prisão, por um
postigo com o mesmo nome e por um conjunto de portas abertas na muralha em
diferentes períodos, há outro ponto que merece uma paragem: a Porta de Alfama.
Aí, como explica
o director do Departamento de Património Cultural da câmara, Jorge Ramos
Carvalho, foram feitas escavações que revelaram a existência de uma lixeira do
período romano. Alguns dos vestígios encontrados, como ossos de vários animais,
vegetação, cerâmicas, materiais de construção e ostras, podem hoje ser vistos
no interior de um restaurante que abriu as portas no local e no qual foram
integrados troços da muralha.
O
recém-inaugurado Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos também integra este
circuito pedonal. No interior do edifício, onde está sedeada a Fundação
Saramago, estão patentes objectos de uso quotidiano dos séculos XVI a XVIII,
vestígios romanos como tanques de uma unidade fabril de preparados de peixe e
troços da muralha tardo-romana e da muralha medieval.
Para a vereadora
da Cultura, a criação deste percurso (que termina na Porta de Alfofa, bem perto
do Castelo de S. Jorge) representa uma forma de “resgatar a memória histórica e
arqueológica da cidade, de uma estrutura defensiva que foi importante durante
vários séculos e estruturante na delimitação urbanística da cidade”. Com ela,
diz Catarina Vaz Pinto, criou-se também “um novo produto turístico-cultural”.
Já a arqueóloga
Manuela Leitão frisa que com esta iniciativa vai ser possível “dar a conhecer
um dos patrimónios mais valiosos da cidade de Lisboa”, uma cerca que segundo
diz “é um organismo que continua vivo, a interagir” com o espaço urbano no qual
se integra.
Segundo a
vereadora Catarina Vaz Pinto, este projecto representa um investimento de cerca
de 400 mil euros, que foi financiado pelo Turismo de Portugal. A autarca
destaca que além da componente de divulgação, com a introdução dos tais 16
totens, houve uma aposta nas componentes de “investigação científica e
conservação do património”, tendo havido “espaços da antiga muralha que foram
reabilitados e salvaguardados”.
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