Lisboa. As cheias e as primárias
do PS
Por Luís Rosa
publicado em 23
Set 2014 in
(jornal) i online
António Costa trouxe tranquilidade ao governo da cidade mas não conseguiu
mudar Lisboa
O dilúvio que se
fez sentir ontem em Lisboa deixou a descoberto, mais uma vez, os problemas
estruturais da cidade. Basta uma chuvada mais forte para se verificar o caos na
Baixa e nas áreas mais próximas do rio. No caso das cheias de ontem, até
Benfica, São Domingos de Benfica, a Praça de Espanha ou a Alta de Lisboa foram
seriamente afectados entre as 14h e as 17h. As vereações passam, mas o problema
mantém-se: as infra-estruturas da cidade estão obsoletas.
Desta constatação
resulta um facto político claro: António Costa não conseguiu mudar Lisboa. Talvez
porque esse trabalho é uma utopia numa cidade com mais de 2 mil anos de
história, mas também porque os elogios que são feitos à actual vereação são
claramente exagerados. A vereação de Costa trouxe tranquilidade ao governo da
cidade e promoveu pequenas obras importantes no saneamento básico e nas
ciclovias, por exemplo.
As cheias que
ontem inundaram as televisões são um problema para Costa por surgirem nos
últimos dias de uma campanha interna muito disputada. Seguro, ao i, faz uma
crítica subtil mas não precisa de dizer mais. As imagens nas televisões fazem o
resto.
Costa ganhou as
últimas autárquicas com uma votação recorde. Ultrapassou os 50% (tinha
conseguido apenas 29,5% na primeira eleição) e renovou a maioria absoluta. Foi
uma vitória esmagadora, que se deveu muito à quase total ausência de oposição
do PSD e a uma candidatura desastrosa de Fernando Seara. Só os sindicatos
camarários afectos ao PCP e o vereador Gonçalves Pereira (CDS) têm mostrado
vontade de escrutinar a acção do executivo.
A desertificação
de Lisboa é uma das questões estruturais que a actual vereação não conseguiu
resolver - sendo igualmente justo dizer que as soluções não dependem apenas da
Câmara de Lisboa. Mas certo é que os lisboetas continuam a sair para a
periferia, prédios inteiros continuam abandonados no centro da cidade,
quarteirões de escritórios transformam áreas nobres num deserto de pessoas e a
cidade perde vida. Se não fossem os turistas, Lisboa seria uma cidade-fantasma
ao fim-de-semana e à noite.
Lisboa continua a
padecer de problemas estruturais antigos que têm a ver com a limpeza e a
recolha do lixo. Lisboa é uma cidade suja - e não há boa imprensa que esconda
um facto que o olfacto não consegue esconder. Por culpa dos cidadãos mas também
por culpa de um serviço municipal que deixa muito a desejar. Mudou-se o sistema
de recolha do lixo (que obriga os cidadãos a manterem o lixo doméstico nas
varandas) mas a sujidade mantém-se.
António Costa tem
utilizado o sucesso da sua vereação como um activo que o capacita a ser melhor
líder do PS que António José Seguro. Ser superior à inefável dupla
Santana/Carmona (que precedeu Costa em Lisboa) não chega para passar a ser um
autarca marcante da cidade. E muito menos pode servir como uma mais-valia para
governar o país.
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