segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lisboa. As cheias e as primárias do PS, por Luís Rosa


Lisboa. As cheias e as primárias do PS
Por Luís Rosa
publicado em 23 Set 2014 in (jornal) i online
António Costa trouxe tranquilidade ao governo da cidade mas não conseguiu mudar Lisboa

O dilúvio que se fez sentir ontem em Lisboa deixou a descoberto, mais uma vez, os problemas estruturais da cidade. Basta uma chuvada mais forte para se verificar o caos na Baixa e nas áreas mais próximas do rio. No caso das cheias de ontem, até Benfica, São Domingos de Benfica, a Praça de Espanha ou a Alta de Lisboa foram seriamente afectados entre as 14h e as 17h. As vereações passam, mas o problema mantém-se: as infra-estruturas da cidade estão obsoletas.

Desta constatação resulta um facto político claro: António Costa não conseguiu mudar Lisboa. Talvez porque esse trabalho é uma utopia numa cidade com mais de 2 mil anos de história, mas também porque os elogios que são feitos à actual vereação são claramente exagerados. A vereação de Costa trouxe tranquilidade ao governo da cidade e promoveu pequenas obras importantes no saneamento básico e nas ciclovias, por exemplo.

As cheias que ontem inundaram as televisões são um problema para Costa por surgirem nos últimos dias de uma campanha interna muito disputada. Seguro, ao i, faz uma crítica subtil mas não precisa de dizer mais. As imagens nas televisões fazem o resto.

Costa ganhou as últimas autárquicas com uma votação recorde. Ultrapassou os 50% (tinha conseguido apenas 29,5% na primeira eleição) e renovou a maioria absoluta. Foi uma vitória esmagadora, que se deveu muito à quase total ausência de oposição do PSD e a uma candidatura desastrosa de Fernando Seara. Só os sindicatos camarários afectos ao PCP e o vereador Gonçalves Pereira (CDS) têm mostrado vontade de escrutinar a acção do executivo.

A desertificação de Lisboa é uma das questões estruturais que a actual vereação não conseguiu resolver - sendo igualmente justo dizer que as soluções não dependem apenas da Câmara de Lisboa. Mas certo é que os lisboetas continuam a sair para a periferia, prédios inteiros continuam abandonados no centro da cidade, quarteirões de escritórios transformam áreas nobres num deserto de pessoas e a cidade perde vida. Se não fossem os turistas, Lisboa seria uma cidade-fantasma ao fim-de-semana e à  noite.

Lisboa continua a padecer de problemas estruturais antigos que têm a ver com a limpeza e a recolha do lixo. Lisboa é uma cidade suja - e não há boa imprensa que esconda um facto que o olfacto não consegue esconder. Por culpa dos cidadãos mas também por culpa de um serviço municipal que deixa muito a desejar. Mudou-se o sistema de recolha do lixo (que obriga os cidadãos a manterem o lixo doméstico nas varandas) mas a sujidade mantém-se.


António Costa tem utilizado o sucesso da sua vereação como um activo que o capacita a ser melhor líder do PS que António José Seguro. Ser superior à inefável dupla Santana/Carmona (que precedeu Costa em Lisboa) não chega para passar a ser um autarca marcante da cidade. E muito menos pode servir como uma mais-valia para governar o país.

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