O mau tempo não
deixa ir à praia, mas faz as barragens e eólicas funcionar como nunca. E vai
fazer com que, até agora, este seja o ano em que mais se poupou em combustíveis
fósseis
Renováveis vão poupar mais de 1,5
mil milhões em importações de gás e carvão
29/09/2014 Dinheiro
Vivo
Por Ana Baptista
A produção de
eletricidade através de fontes renováveis continua a crescer este ano devido à
persistência da chuva e do vento, mesmo no período de verão. O que significa
que este será, novamente, um bom ano para a redução da dependência energética
do país. No total, diz um estudo da Deloitte sobre o sector, Portugal deverá
poupar cerca de 1589 milhões de euros em importações de combustíveis fósseis,
mais precisamente carvão e gás natural.
"No presente
ano, a produção hídrica, eólica e solar tem sido superior à do ano passado,
contudo os preços dos combustíveis fósseis estão mais baixos e conjugando esses
dois factores é possível que este ano as poupanças sejam da ordem de 10%
superiores às do ano passado", disse ao Dinheiro Vivo o presidente da
Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa.
Aliás, a
confirmarem-se os 1589 milhões, este será o valor mais alto desde 2008, ano em
que as poupanças foram apenas de 731 milhões, mas porque havia ainda pouca
potência instalada de renováveis. Para o ano seguinte não há dados, mas, entre
2010 e 2013 e com o aumento do número de barragens e eólicas a funcionar,
pouparam-se 1133, 1222, 1537 e 1479 milhões de euros nesse período.
De facto, repara
ainda Sá da Costa, Portugal está a atravessar um dos melhores momentos de
sempre no que respeita a poupanças em importações de combustíveis fósseis. "Em
termos de eletricidade, até final de agosto, o saldo com Espanha era nulo,
quando no ano passado representava 5% do consumo e, em 2012, quase 1/3 do
consumo", repara o mesmo responsável.
Como já foi
referido, a contribuir para esta realidade está o aumento do peso das
renováveis na produção de eletricidade que, segundo o estudo da Deloitte, será
de 55% este ano. E a causa é mesmo o mau tempo, ou seja, mais chuva e mais
vento que fazem com que as eólicas e as barragens produzam mais e,
consequentemente, que as centrais a carvão e gás natural produzam menos. Segundo
dados da REN, as centrais a gás natural da Endesa e da Turbogás têm estado
paradas.
Ora, como o
carvão e o gás natural são caros e a chuva e o vento são gratuitos, Portugal e
o sector consegue poupar dinheiro, mas para já principalmente nas importações. O
impacto na conta final do consumidor só será mais visível daqui a uns anos, lá
para 2020 quando se estima que défice tarifário (a diferença entre o que se paga
pela energia consumida e o que ela custa a produzir) esteja todo pago.
Aliás, uma
análise da Fitch divulgada quinta-feira revela que Portugal está no bom caminho
para atingir essa meta. "O défice tarifário em Portugal está agora a
estabilizar e irá, muito provavelmente descer nos próximos trimestres",
diz. Em causa está a melhoria do perfil financeiro do sistema elétrico nacional
por via dos cortes nas rendas.
Poupanças sobem
mesmo sem mau tempo
Mesmo que haja
menos chuva e vento nos próximos anos, Portugal term mais barragens, eólicas e
centrais solares em construção. Além disso, as empresas estão a começar a
reforçar a potência das atuais eólicas, o que significa que o país vai ter mais
potência e que o peso das renováveis na produção total de eletricidade vai
subir. Como tal, também as poupanças em importações vão crescer. Segundo a
Deloitte, em 2030 não só o peso das renováveis na produção vai ser de 68%como
as poupanças em importações podem atingir os 2750 milhões de euros.
Sem comentários:
Enviar um comentário