Armando Vara é próximo de Sócrates, mas também de Jorge Coelho, Edite Estrela, Laurentino Dias. Notícias não negadas têm-no dado como estando ligado à maçonaria do Grande Oriente Lusitano. |
De banqueiro acidental a
ex-ministro condenado
Cristina Ferreira
/ 6-9-2014 / PÚBLICO
Há cinco anos,
quando foi constituído arguido no caso Face Oculta e ainda era administrador no
BCP, o conselho de supervisão do banco mantinha a confiança em Armando Vara. O
administrador não se sentia culpado. Os investidores do BCP davam-lhe o
benefício da dúvida. E perguntavam: “Quem se suja por 10 mil euros quando ganha
500 mil por ano?”
Transmontano, de
Lagarelhos, Vara subiu os degraus do poder ao lado de José Sócrates (deputado,
secretário de Estado, ministro). É desde 1987 dirigente socialista, tinha
apenas o liceu e trabalhava numa agência da Caixa Geral de Depósitos. Chega à
presidência da distrital de Bragança, tomando o pulso ao aparelho partidário. Anos
depois é chamado aos Governos de António Guterres.
Em 1998, como
secretário de Estado, numa visita a Ourique, desentendeu-se com o presidente da
câmara local de então. Acabou acusado de injúrias e difamação num processo que
acabou amnistiado. Por conta ainda deste caso, mas numa acção cível, foi
condenado a pagar uma indemnização de 450 contos ao autarca José Raul Santos
(PSD). O julgamento ficou marcado pelo desfilar de testemunhas a garantir que,
em Trás-os-Montes, onde Vara cresceu, as palavras por este dirigidas a José
Raul Santos não eram insultuosas.
Armando Vara é
próximo de Sócrates, mas também de Jorge Coelho, Edite Estrela, Laurentino
Dias. Notícias não negadas têm-no dado como estando ligado à maçonaria do
Grande Oriente Lusitano.
No seu percurso
destaca-se o aparecimento no buzinão da Ponte 25 de Abril, contra o cavaquismo.
Amigo de Joaquim Oliveira, da Olivedesportos, Vara também tentou, em vão,
chegar à liderança do seu Benfica.
Em 2005
licencia-se em Relações Internacionais na Universidade Independente, a mesma
onde Sócrates se diplomou. O regresso à CGD para ocupar o lugar de director
dá-se em 2001. A
mudança de “sector” reduzlhe a exposição mediática, resguardao do escrutínio
público e oferece-lhe remunerações apetitosas.
Em 2005, o PS de
José Sócrates ganha as legislativas. Vara tem 51 anos quando é nomeado
administrador da CGD. Toma posse no meio de grande controvérsia: um job para um
boy?
É certo que a
alta finança é um espaço de encontro entre a política e os grandes interesses
económicos, porque os negócios necessitam das autorizações governamentais. Uns
dizem que faz parte do “polvo” socialista, outros pensam o contrário. Mas Vara
vai procurar fazer esquecer a desconfiança que se gerou à sua volta,
trabalhando.
É neste contexto
que em 2008 chega à vice-presidência do BCP, por convite do socialista Santos
Ferreira. A transição da CGD para o BCP deixa rasto, quando se apura terem sido
dados créditos em larga escala a accionistas do BCP para que estes entrassem na
disputa pelo controlo do banco. Em troca, a CGD recebeu acções cotadas. Com a
crise, o banco assumiu menos-valias de centenas de milhões, o que levou o
Estado a aumentar o capital. Mesmo as vozes hostis do sector reconheciam a
Vara, no momento do escândalo rebentou, um gosto por resolver problemas.
Mas Armando Vara
tem marcas que não são fáceis de apagar: ascendeu a banqueiro com o “rótulo” de
emissário político e, em 2001, já como ministro da Juventude e Desporto, foi
apanhado na polémica à volta da Fundação para a Prevenção e Segurança. Uma
instituição privada que criou no final dos anos 90 com fundos estatais doados
quando estava no Governo de António Guterres como secretário de Estado da
Administração Interna.
Quando o caso é
conhecido, o então Presidente da República Jorge Sampaio batalhou para que Vara
deixasse o Governo. Vara demitiu-se. Em causa estavam irregularidades
administrativas, e não criminais, e o processo foi arquivado. Vara volt a agora
às páginas dos jornais. Aos olhos do grande público a desconfiança antiga
materializou-se com uma condenação em tribunal. com
Álvaro Vieira
Republicação (com alterações) de um texto publicado a 30/9/2009
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