Estado Islâmico, a ameaça que a
NATO não pode ignorar
ANA FONSECA
PEREIRA 04/09/2014 - PÚBLICO
Multiplicação de crises representa um teste crucial para a Aliança
Atlântica. Obama espera colher no País de Gales apoio a uma operação contra os
radicais.
A agenda formal
da cimeira da NATO não o menciona, mas a expansão do Estado Islâmico
(EI) é um dos
temas que vão dominar as conversas na reunião que começa nesta quinta-feira no
País de Gales. A organização, asseguram várias fontes, não quer envolver-se
directamente nas operações no Iraque ou na Síria, mas os aliados jogam também a
sua credibilidade na resposta que estiverem dispostos a dar aos jihadistas –
que materializam a “ameaça não convencional” para a qual eles diziam estar a
preparar-se quando, em 2010, aprovaram o actual conceito estratégico.
A inclusão da
ofensiva jihadista no debate em Newport fazia já parte dos planos do Presidente
norte-americano, e mais urgente se tornou depois de ter sido divulgado o vídeo
da decapitação de Steven Sotloff, o segundo jornalista feito refém na Síria a
ser morto por combatentes do EI. A execução redobrou a pressão para que Barack
Obama defina a sua estratégia de combate aos fundamentalistas, algo que ele só
considera possível mediante a formação de uma coligação que junte os parceiros
europeus e os actores regionais.
Obama voltou a
ser duro nas palavras com que reagiu à execução do jornalista. “Os que cometem
o erro de ferir americanos vão aprender que esses actos não serão esquecidos,
que será feita justiça”, disse, à margem da visita à Estónia, assegurando que
os Estados Unidos “não se vão deixar intimidar” por mais este acto “horrendo”. Não
explicou que opções tem em cima da mesa – a imprensa americana adianta que o
Pentágono está a preparar planos de contingência para o caso de o Presidente
decidir estender os ataques aéreos à Síria – mas definiu uma meta: “O nosso
objectivo é claro e passa por enfraquecer e destruir [o EI] para que deixe de
ser uma ameaça não apenas para o Iraque, mas também para a região e os EUA.”
Washington espera
que os aliados, ou pelo menos uma parte deles, mostrem no País de Gales que
estão dispostos a participar no esforço, seja seguindo o exemplo dos que, como
a Alemanha ou a França, vão entregar armas às forças curdas (na linha da frente
de combate aos fundamentalistas), seja participando no envio de ajuda
humanitária. O Financial Times noticiou no fim-de-semana que Obama gostaria
também de ver os europeus empenhados na tarefa de convencer os países árabes a
fechar as vias que têm permitido ao EI financiar-se e comprar armas. À Turquia,
aliado estratégico às portas do Médio Oriente, será pedido que reforce as suas
fronteiras, pelas quais os jihadistas estrangeiros entram na Síria e o petróleo
dos poços que conquistaram é exportado.
Quanto à operação
militar é provável que apenas um grupo muito restrito entre os 28 membros da
NATO esteja disponível para juntar as suas forças à aviação americana. O
primeiro-ministro britânico foi o único, até agora, a deixar essa hipótese em
aberto. O EI “tem de ser exterminado”, disse David Cameron, no final da reunião
do gabinete de crise convocada logo depois de os jihadistas terem ameaçado
matar um refém britânico.
O líder
conservador insistiu que os ataques aéreos são apenas um dos instrumentos
necessários para combater os radicais e o jornal The Guardian adianta que
Downing Street espera que Obama clarifique a sua estratégia na cimeira da NATO
para depois tomar uma decisão. Mas o mesmo jornal adianta que Cameron acredita
ter os argumentos necessários para convencer o Parlamento a autorizar a
participação na operação militar, ao contrário do que aconteceu no ano passado,
quando Westminster travou os planos para envolver a aviação britânica na
ofensiva com que Obama pretendia punir o regime sírio pelo uso de armas
químicas.
"Declínio ocidental"
E se para os
críticos da NATO qualquer consenso que saia da cimeira sobre a situação no
Iraque e na Síria será interpretado como uma nova extrapolação dos princípios
para que foi criada – depois das missões na Líbia ou no golfo de Áden –, os
seus defensores insistem que a crise no Médio Oriente, tal como a guerra no
Leste da Ucrânia, dão nova relevância à aliança. A forma como responder a cada
um dos testes será, por isso, crucial para o seu futuro.
“A cimeira da
NATO acontece num momento em que a liderança internacional do Ocidente aparenta
estar em declínio”, disse ao Guardian Robin Niblett, director do think-tank
Chatham House. Uma visão que diz ser alimentada pelo pouco apetite que europeus
e americanos demonstram em envolver-se numa nova missão militar, depois do
Afeganistão e das divergências que rodearam a invasão do Iraque, em 2003, mas
também pela crise económica que se arrasta desde 2008.
Ao contrário do
que acontecia quando a NATO foi fundada, as ameaças à segurança europeia e
americana não têm hoje uma única fonte. Mas os analistas afirmam que, apesar
dos diferentes contextos em que surgem, há na actual multiplicação de crises um
denominador comum – aquilo que Joschka Fischer descreve como o “fim da Pax
Americana”, que vigorava desde o final da II Guerra Mundial. “Os EUA deixaram
de querer ou de ser capazes de ser o polícia do mundo”, escreveu o antigo
ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, acrescentando que, se às crises na
Ucrânia, no Médio Oriente e na Líbia se juntar um novo foco de violência na
Ásia, “o mundo seria confrontado com uma catástrofe global” que “ninguém seria
capaz de controlar ou conter”.
Nos Estados
Unidos, e não só entre os adversários de Obama, muitos acusam o Presidente de
ser um líder fraco e indeciso, o que convida os seus adversários a testar os
limites da ordem mundial nascida com a queda do Muro de Berlim. Gideon Rachman
tem a opinião oposta, afirmando que “a maior ameaça à segurança global não é a
falta de determinação de Washington, mas a impotência dos aliados da América”. O
colunista do Financial Times lembra que os europeus têm vindo sistematicamente
a cortar nos seus gastos de defesa – os EUA contribuem actualmente com 70% do
orçamento da NATO, no auge da Guerra Fria não ia além de 50% –, ou que os
países árabes, apesar de directamente ameaçados pelo EI, mantêm estacionados os
mais de 600 aviões que compraram nos últimos anos.
Certo é que os
aliados vão ser de novo chamados a assumir os compromissos que adoptaram na
cimeira de Lisboa, em 2010, quando, num momento muito diferente do actual,
aprovaram o seu novo conceito estratégico. Então, além do carácter
“insubstituível” da NATO na defesa comum, afirmavam que a aliança deveria
assegurar que continuava a ser “tão eficaz como sempre num mundo que está
sempre a mudar” e no qual as ameaças poderiam surgir tanto de uma invasão de
blindados como de Estados falhados. Para as enfrentar, os aliados
comprometeram-se a investir em capacidades adequadas e cumprir a meta de gastar
2% do seu PIB em defesa – um objectivo em que Washington vai voltar a insistir
em Newport.
Barack Obama and David Cameron seek coalition against Isis
Western leaders
plan to use Nato summit to build military coalition amid outrage over Isis killing of hostages
Patrick
Wintour
The
Guardian, Thursday 4 September 2014 / http://www.theguardian.com/world/2014/sep/03/obama-david-cameron-nato-coalition
Barack
Obama and David Cameron have vowed to use the Nato summit starting in Wales on Thursday to engineer a resilient
military and political coalition, including key countries in the Middle East,
capable of squeezing out and destroying Islamic State (Isis) in northern Iraq .
British
officials also said the Britishprime minister was examining every option to
protect the British hostage threatened by the jihadist group on Tuesday, in
light of its murder of the American journalists Steven Sotloff and James Foley
in the past month.
"We
will not be intimidated," Obama said in Estonia on the way to the summit.
"Their horrific acts only unite us and stiffen our resolve to take the
fight against these terrorists. And those who make the mistake of harming
Americans will learn that we will not forget and that our reach is long and
that justice will be served."
The British
hostage, whose identity has been widely circulated in international media, is a
44-year-old aid worker, David Haines, who was kidnapped in March last year and
shown in the video of Sotloff's murder. He was taken hostage in the village of Atmeh
in Syria 's
Idlib province along with an Italian aid worker and two Syrians. The others
have since been freed.
The British
foreign secretary, Philip Hammond, admitted that an attempt to rescue Haines
earlier this year failed and that current British intelligence on his
whereabouts is limited.
Obama,
under intense domestic pressure to set out his strategy for dealing with
Islamic State, pleaded for patience to build support in the region, saying:
"It is going to take time for us to form the regional coalition that's
going to be required so that we can reach out to Sunni tribes in some of the
areas that Isis has occupied, and make sure that we have allies on the ground
in combination with the air strikes that we've already conducted."
Officials
in Washington and London
said that in building an international coalition against Isis, they were
following the approach of the first President George Bush, who assembled a
broad-based coalition before throwing Saddam Hussein out of Kuwait in 1991.
Obama said:
"We know that if we are joined by the international community, we can
continue to shrink [Isis 's] sphere of
influence, its effectiveness, its financing, its military capabilities to the
point where it is a manageable problem. And the question is going to be making
sure we've got the right strategy, but also making sure we've got the
international will to do it."
Cameron, arriving at the Nato summit , said
he was weighing the options of joining the existing round of US air strikes in
Iraq: "We should do what we can to help those on the ground who want to
build an Iraq for all Iraqis: Sunnis, Shias and Kurds. We've helped already with
aid.
"We've helped with other military
assets, and we'll always ask ourselves what is in our national interest. Not
ruling things out, but going forward in a deliberate, sensible, resolute
way." It is clear Cameron is edging towards direct British involvement in
the US
air strikes, even though it may make Haines more vulnerable to the kind of
gruesome murder inflicted on the two American journalists.
Cameron, at weekly prime minister's
questions, did not flinch from referring to the possibility of Haines's death,
and insisted Britain would
not be deterred by threats of thefrom Isis , or
pay a ransom. He said: "A country like ours will not be cowed by these
barbaric killers. If they think we will weaken in the face of their threats,
they are wrong."
But in Cameron's key message, reflecting
thinking in Washington , he said any
intervention in Iraq
must not be western-led, and be at the invitation of the Iraqi government. The
Turkish president, Recep Tayyip Erdogan, and the Jordanian king, King Abdullah,
will be at the summit, and both will be courted to support tougher military
action against Isis . Jordan's participation at
the summit will be of "immeasurable illumination" of the strategy of
confronting Isis, the British ambassador to Jordan, Peter Millett, has said.
There is also intense pressure on Saudi Arabia
to recognise that its funding of Sunni forces in Syria
has helped spawn Isis .
Some former Labour cabinet members went
even further, suggesting America
and Britain should make
common cause with its long time foes Iran
and even the Syrian President Assad so as push Isisnot just out of Iraq , but its original base Syria .
In a joint article published in the Times,
Cameron and Obama say Britain
and the US
can lead efforts to secure world peace. "If terrorists think we will
weaken in the face of their threats, they could not be more wrong. Countries
like Britain and America will
not be cowed by barbaric killers … We will be more forthright in the defence of
our values, not least because a world of greater freedom is a fundamental part
of how we keep our own people safe." They also accuse Vladimir Putin of
"trying to force a sovereign state to abandon its right to democracy and
determining the course of [Ukraine 's]
future at the barrel of a gun" and write that "we must increase Ukraine 's
capacity to defend itself".
In a packed Nato agenda, Cameron and Obama
will hold a bilateral meeting focusing on the Middle East .
It is possible Nato will send a training mission to Iraq .
John Kerry, the US
secretary of state, will travel to the Middle East
after the summit to gather further regional support. Kerry has cited the
Bush-era coalition-building of his predecessor, James Baker, concluding that
"extremists are defeated only when responsible nations and their peoples unite
to oppose them".
Obama, criticised last week for saying the
US "did not have a strategy" to defeat Isis in Iraq and Syria, also
gradually expanded his military objectives, saying the aim was to degrade and
destroy Isis, rather than just to protect US citizens and vulnerable
minorities.
The US
vice-president, Joe Biden, ramped up the rhetoric by saying the US would follow
those who killed the two American journalists "to the gates of hell".
Cameron also revived his plans to withdraw
citizenship from British-born jihadists who go to fight in Syria and Iraq
and then seek to return to Britain .
"People across our country take the basic view that if someone leaves this
country, travels to the heart of Iraq ,
declares they are in favour of some so-called Islamic state, and that is the
country they want to be part of, they should effectively forfeit their right to
come back and live in Britain ,"
he said.
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