quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Estado Islâmico, a ameaça que a NATO não pode ignorar./ Público. Barack Obama and David Cameron seek coalition against Isis/ Guardian.


Estado Islâmico, a ameaça que a NATO não pode ignorar
ANA FONSECA PEREIRA 04/09/2014 - PÚBLICO
Multiplicação de crises representa um teste crucial para a Aliança Atlântica. Obama espera colher no País de Gales apoio a uma operação contra os radicais.

A agenda formal da cimeira da NATO não o menciona, mas a expansão do Estado Islâmico
(EI) é um dos temas que vão dominar as conversas na reunião que começa nesta quinta-feira no País de Gales. A organização, asseguram várias fontes, não quer envolver-se directamente nas operações no Iraque ou na Síria, mas os aliados jogam também a sua credibilidade na resposta que estiverem dispostos a dar aos jihadistas – que materializam a “ameaça não convencional” para a qual eles diziam estar a preparar-se quando, em 2010, aprovaram o actual conceito estratégico.

A inclusão da ofensiva jihadista no debate em Newport fazia já parte dos planos do Presidente norte-americano, e mais urgente se tornou depois de ter sido divulgado o vídeo da decapitação de Steven Sotloff, o segundo jornalista feito refém na Síria a ser morto por combatentes do EI. A execução redobrou a pressão para que Barack Obama defina a sua estratégia de combate aos fundamentalistas, algo que ele só considera possível mediante a formação de uma coligação que junte os parceiros europeus e os actores regionais.

Obama voltou a ser duro nas palavras com que reagiu à execução do jornalista. “Os que cometem o erro de ferir americanos vão aprender que esses actos não serão esquecidos, que será feita justiça”, disse, à margem da visita à Estónia, assegurando que os Estados Unidos “não se vão deixar intimidar” por mais este acto “horrendo”. Não explicou que opções tem em cima da mesa – a imprensa americana adianta que o Pentágono está a preparar planos de contingência para o caso de o Presidente decidir estender os ataques aéreos à Síria – mas definiu uma meta: “O nosso objectivo é claro e passa por enfraquecer e destruir [o EI] para que deixe de ser uma ameaça não apenas para o Iraque, mas também para a região e os EUA.”

Washington espera que os aliados, ou pelo menos uma parte deles, mostrem no País de Gales que estão dispostos a participar no esforço, seja seguindo o exemplo dos que, como a Alemanha ou a França, vão entregar armas às forças curdas (na linha da frente de combate aos fundamentalistas), seja participando no envio de ajuda humanitária. O Financial Times noticiou no fim-de-semana que Obama gostaria também de ver os europeus empenhados na tarefa de convencer os países árabes a fechar as vias que têm permitido ao EI financiar-se e comprar armas. À Turquia, aliado estratégico às portas do Médio Oriente, será pedido que reforce as suas fronteiras, pelas quais os jihadistas estrangeiros entram na Síria e o petróleo dos poços que conquistaram é exportado.

Quanto à operação militar é provável que apenas um grupo muito restrito entre os 28 membros da NATO esteja disponível para juntar as suas forças à aviação americana. O primeiro-ministro britânico foi o único, até agora, a deixar essa hipótese em aberto. O EI “tem de ser exterminado”, disse David Cameron, no final da reunião do gabinete de crise convocada logo depois de os jihadistas terem ameaçado matar um refém britânico.

O líder conservador insistiu que os ataques aéreos são apenas um dos instrumentos necessários para combater os radicais e o jornal The Guardian adianta que Downing Street espera que Obama clarifique a sua estratégia na cimeira da NATO para depois tomar uma decisão. Mas o mesmo jornal adianta que Cameron acredita ter os argumentos necessários para convencer o Parlamento a autorizar a participação na operação militar, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando Westminster travou os planos para envolver a aviação britânica na ofensiva com que Obama pretendia punir o regime sírio pelo uso de armas químicas.

"Declínio ocidental"
E se para os críticos da NATO qualquer consenso que saia da cimeira sobre a situação no Iraque e na Síria será interpretado como uma nova extrapolação dos princípios para que foi criada – depois das missões na Líbia ou no golfo de Áden –, os seus defensores insistem que a crise no Médio Oriente, tal como a guerra no Leste da Ucrânia, dão nova relevância à aliança. A forma como responder a cada um dos testes será, por isso, crucial para o seu futuro.

“A cimeira da NATO acontece num momento em que a liderança internacional do Ocidente aparenta estar em declínio”, disse ao Guardian Robin Niblett, director do think-tank Chatham House. Uma visão que diz ser alimentada pelo pouco apetite que europeus e americanos demonstram em envolver-se numa nova missão militar, depois do Afeganistão e das divergências que rodearam a invasão do Iraque, em 2003, mas também pela crise económica que se arrasta desde 2008.

Ao contrário do que acontecia quando a NATO foi fundada, as ameaças à segurança europeia e americana não têm hoje uma única fonte. Mas os analistas afirmam que, apesar dos diferentes contextos em que surgem, há na actual multiplicação de crises um denominador comum – aquilo que Joschka Fischer descreve como o “fim da Pax Americana”, que vigorava desde o final da II Guerra Mundial. “Os EUA deixaram de querer ou de ser capazes de ser o polícia do mundo”, escreveu o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, acrescentando que, se às crises na Ucrânia, no Médio Oriente e na Líbia se juntar um novo foco de violência na Ásia, “o mundo seria confrontado com uma catástrofe global” que “ninguém seria capaz de controlar ou conter”.

Nos Estados Unidos, e não só entre os adversários de Obama, muitos acusam o Presidente de ser um líder fraco e indeciso, o que convida os seus adversários a testar os limites da ordem mundial nascida com a queda do Muro de Berlim. Gideon Rachman tem a opinião oposta, afirmando que “a maior ameaça à segurança global não é a falta de determinação de Washington, mas a impotência dos aliados da América”. O colunista do Financial Times lembra que os europeus têm vindo sistematicamente a cortar nos seus gastos de defesa – os EUA contribuem actualmente com 70% do orçamento da NATO, no auge da Guerra Fria não ia além de 50% –, ou que os países árabes, apesar de directamente ameaçados pelo EI, mantêm estacionados os mais de 600 aviões que compraram nos últimos anos.


Certo é que os aliados vão ser de novo chamados a assumir os compromissos que adoptaram na cimeira de Lisboa, em 2010, quando, num momento muito diferente do actual, aprovaram o seu novo conceito estratégico. Então, além do carácter “insubstituível” da NATO na defesa comum, afirmavam que a aliança deveria assegurar que continuava a ser “tão eficaz como sempre num mundo que está sempre a mudar” e no qual as ameaças poderiam surgir tanto de uma invasão de blindados como de Estados falhados. Para as enfrentar, os aliados comprometeram-se a investir em capacidades adequadas e cumprir a meta de gastar 2% do seu PIB em defesa – um objectivo em que Washington vai voltar a insistir em Newport.

Barack Obama and David Cameron seek coalition against Isis
Western leaders plan to use Nato summit to build military coalition amid outrage over Isis killing of hostages
Patrick Wintour

Barack Obama and David Cameron have vowed to use the Nato summit starting in Wales on Thursday to engineer a resilient military and political coalition, including key countries in the Middle East, capable of squeezing out and destroying Islamic State (Isis) in northern Iraq.

British officials also said the Britishprime minister was examining every option to protect the British hostage threatened by the jihadist group on Tuesday, in light of its murder of the American journalists Steven Sotloff and James Foley in the past month.

"We will not be intimidated," Obama said in Estonia on the way to the summit. "Their horrific acts only unite us and stiffen our resolve to take the fight against these terrorists. And those who make the mistake of harming Americans will learn that we will not forget and that our reach is long and that justice will be served."

The British hostage, whose identity has been widely circulated in international media, is a 44-year-old aid worker, David Haines, who was kidnapped in March last year and shown in the video of Sotloff's murder. He was taken hostage in the village of Atmeh in Syria's Idlib province along with an Italian aid worker and two Syrians. The others have since been freed.

The British foreign secretary, Philip Hammond, admitted that an attempt to rescue Haines earlier this year failed and that current British intelligence on his whereabouts is limited.

Obama, under intense domestic pressure to set out his strategy for dealing with Islamic State, pleaded for patience to build support in the region, saying: "It is going to take time for us to form the regional coalition that's going to be required so that we can reach out to Sunni tribes in some of the areas that Isis has occupied, and make sure that we have allies on the ground in combination with the air strikes that we've already conducted."

Officials in Washington and London said that in building an international coalition against Isis, they were following the approach of the first President George Bush, who assembled a broad-based coalition before throwing Saddam Hussein out of Kuwait in 1991.

Obama said: "We know that if we are joined by the international community, we can continue to shrink [Isis's] sphere of influence, its effectiveness, its financing, its military capabilities to the point where it is a manageable problem. And the question is going to be making sure we've got the right strategy, but also making sure we've got the international will to do it."

Cameron, arriving at the Nato summit , said he was weighing the options of joining the existing round of US air strikes in Iraq: "We should do what we can to help those on the ground who want to build an Iraq for all Iraqis: Sunnis, Shias and Kurds. We've helped already with aid.

"We've helped with other military assets, and we'll always ask ourselves what is in our national interest. Not ruling things out, but going forward in a deliberate, sensible, resolute way." It is clear Cameron is edging towards direct British involvement in the US air strikes, even though it may make Haines more vulnerable to the kind of gruesome murder inflicted on the two American journalists.

Cameron, at weekly prime minister's questions, did not flinch from referring to the possibility of Haines's death, and insisted Britain would not be deterred by threats of thefrom Isis, or pay a ransom. He said: "A country like ours will not be cowed by these barbaric killers. If they think we will weaken in the face of their threats, they are wrong."

But in Cameron's key message, reflecting thinking in Washington, he said any intervention in Iraq must not be western-led, and be at the invitation of the Iraqi government. The Turkish president, Recep Tayyip Erdogan, and the Jordanian king, King Abdullah, will be at the summit, and both will be courted to support tougher military action against Isis. Jordan's participation at the summit will be of "immeasurable illumination" of the strategy of confronting Isis, the British ambassador to Jordan, Peter Millett, has said. There is also intense pressure on Saudi Arabia to recognise that its funding of Sunni forces in Syria has helped spawn Isis.

Some former Labour cabinet members went even further, suggesting America and Britain should make common cause with its long time foes Iran and even the Syrian President Assad so as push Isisnot just out of Iraq, but its original base Syria.

In a joint article published in the Times, Cameron and Obama say Britain and the US can lead efforts to secure world peace. "If terrorists think we will weaken in the face of their threats, they could not be more wrong. Countries like Britain and America will not be cowed by barbaric killers … We will be more forthright in the defence of our values, not least because a world of greater freedom is a fundamental part of how we keep our own people safe." They also accuse Vladimir Putin of "trying to force a sovereign state to abandon its right to democracy and determining the course of [Ukraine's] future at the barrel of a gun" and write that "we must increase Ukraine's capacity to defend itself".

In a packed Nato agenda, Cameron and Obama will hold a bilateral meeting focusing on the Middle East. It is possible Nato will send a training mission to Iraq.

John Kerry, the US secretary of state, will travel to the Middle East after the summit to gather further regional support. Kerry has cited the Bush-era coalition-building of his predecessor, James Baker, concluding that "extremists are defeated only when responsible nations and their peoples unite to oppose them".

Obama, criticised last week for saying the US "did not have a strategy" to defeat Isis in Iraq and Syria, also gradually expanded his military objectives, saying the aim was to degrade and destroy Isis, rather than just to protect US citizens and vulnerable minorities.

The US vice-president, Joe Biden, ramped up the rhetoric by saying the US would follow those who killed the two American journalists "to the gates of hell".

Cameron also revived his plans to withdraw citizenship from British-born jihadists who go to fight in Syria and Iraq and then seek to return to Britain. "People across our country take the basic view that if someone leaves this country, travels to the heart of Iraq, declares they are in favour of some so-called Islamic state, and that is the country they want to be part of, they should effectively forfeit their right to come back and live in Britain," he said.

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